12.2.13

Carta aberta à Direção do Sporting Clube de Braga


 
Desde miúdo trago o Sporting Clube de Braga no coração. O meu pai ensinou-me o que era ser adepto do clube da nossa cidade, ensinou-me a defender o que é nosso, a sorrir com as vitórias e os triunfos e a erguermo-nos com as derrotas ainda mais fortes.

 Tinha talvez 4 anos quando entrei num estádio pela primeira vez. É obvio que não tenho grandes recordações desse dia, daí que sinta que vou ao estádio ver o Sporting Clube de Braga desde “sempre”. Neste desde “sempre” estão incluídas grandes vitórias, enorme conquistas, um crescimento tremendo. Mas também estão derrotas pesadas, noites de sofrimento, desilusões, manutenções no final do campeonato, muitos nervos… Um sem fim de emoções. Curiosamente não encontrei, nestes cerca de 22 anos de adepto do Sporting Clube de Braga, o sentimento de humilhação, de vergonha.

Com o crescimento e o passar dos anos, o meu pai, decidiu por sua livre vontade, que seria altura de o começar a acompanhar nos jogos fora da cidade de Braga. Sentia ele como pai, que era seguro para mim acompanhá-lo. Gabo-me de sempre ostentar as cores do Sporting Clube de Braga em tais deslocações. Percorri os mais diversos estádios de norte a sul do país em jogos com equipas como o Leça, o Boavista, o Aves, a Naval, o Leiria, o Setúbal, o Varzim… A saudável harmonia que existia entre os adeptos dos mais distintos clubes levou-me a fazer uma coleção de cachecóis. Ia trocando com os adeptos locais, à medida que ia passando por esses estádios fora. Porém, com o crescimento do nosso clube, comecei a sentir alguma hostilidade em certas zonas do país, ainda assim, essa hostilidade não era exteriorizada se existisse respeito.

Acreditava eu que todos os adeptos do Sporting Clube de Braga eram pacíficos como eu. Por vezes uns mais exaltados, outros mais calmos, algumas provocações e picardias durante os jogos, que acaba por fazer parte do espetáculo se prevalecer o bom senso, até porque a rivalidade é boa quando é vivida, desde que não se transforme a rivalidade em violência física.

Voltando aos sentimentos, dizia eu que nunca tinha sentido qualquer tipo de humilhação ou vergonha. Há quem diga que há uma primeira vez para tudo. Esta época senti-me por mais que uma vez humilhado e envergonhado. Senti-me humilhado e envergonhado pelos atos praticados por certos indivíduos que têm recorrido à violência por mais que uma vez, como se quisessem impor alguma coisa. Sinto-me triste e revoltado ao ler as noticias em jornais nacionais que um grupo de adeptos esperou pelos jogadores da nossa equipa no fim de uma derrota para se travarem de razões, que um grupo de adeptos se envolveu em violência física com adeptos do Belenenses antes de um jogo da Segunda Liga, que um grupo de adeptos percorreu uma bancada provocando uma cena de pancadaria com os adeptos do Paços de Ferreira. Senti-me envergonhado e humilhado por um grupo de pessoas que se dizem adeptas e defensoras do meu clube e que agem sem perceber o mal que lhe estão a fazer, senti-me de rastos ao perceber que a notícia rapidamente correu o país e por esses estádios fora seremos de agora em diante apelidados de perigosos, violentos e arruaceiros… Tudo por um grupo de adeptos… Senti a maior frustração e raiva da minha vida enquanto adepto do Sporting Clube de Braga ao ver um miúdo de 5 ou 6 anos fugir para trás de uma baliza e a puxar pela mão do pai numa aflição tremenda, num ato de pânico e de terror. Dói-me a alma quando penso nisto, e pergunto-me se será possível aquele miúdo e outros tantos que lá estavam voltar a ver um jogo fora do estádio dele, será possível aquele miúdo continuar a gostar de futebol e será possível aquele miúdo perdoar os adeptos do Sporting Clube de Braga que nenhuma culpa tiveram?

Tais atos são para mim indesculpáveis. Comportamento gera comportamento, e eu que este ano acompanhei diversas vezes o Sporting Clube de Braga fora de casa começo a temer pela minha segurança. Não me sinto mais seguro por esses estádios fora, tenho medo de ser confundido e tomado por quem não sou na verdade. Ontem disse a quente que ao fim de mais de 20 anos a correr estádios tinha chegado o dia em que não voltaria “à estrada” contudo pensando que hoje pensando com mais calma a opinião mudaria. Puro engano, continuo igual. Continuo com medo, continuo a pensar que para mim acabaram as deslocações, pelo menos enquanto não me sentir seguro de novo.

Quanto aos atos de ontem, só peço que seja feita justiça, só peço que se identifiquem os autores dos desacatos e que se castigue quem de direito. Não sou dono da razão e tenho os meus defeitos como toda gente. O Braguismo não se mede, sente-se, ser sócio há cerca de 20 anos, percorrer os estádios nacionais durante épocas a fio, estar em Sevilha, em Udine e em Dublin não faz de mim mais Braguista que ninguém, mas também não faz de ninguém mais Braguista do que eu, e se há quem tenha regalias por se deslocar sempre para apoiar (e bem, porque felizmente não somos todos iguais) o nosso clube, eu também mereço tais regalias, pois estive lá com o nosso Clube sempre que o tempo e o dinheiro me permitiram.

Ajudem a acabar com a violência no desporto!
                Com os mais cordeais cumprimentos,

Rui Xavier
                                                         (sócio nº3992)