1.12.07

O meu Braga - Bayern




Sim, é verdade, eu falhei o jogo da época do meu clube do coração. O meu Braga a defrontar uma das melhores equipas a nível Europeu e respeitada por esse mundo fora, no dia em que faço 21 anos, e eu não fui até à pedreira... Difícil de acreditar para quem me conhece, mas é a realidade. Não foi o preço dos bilhetes, nem o frio, nem a transmissão na televisão, nem mesmo uma possível festa de anos que me afastaram do estádio. Foi o horário de trabalho, que não me deixou ir ao estádio. Uma televisão era um sonho no meio de tantas máquinas, mas era impossível conciliar ambas as coisas, no entanto, o relato do meu rádio de bolso não me impedia de continuar a laborar normalmente. Todos aqueles que já ouviram o relato de um qualquer jogo de futebol do seu clube, sabem bem o quanto irritante, stressante e enervante é ouvir o relato de um jogo com este carácter... Tive de me sujeitar a tal pressão tentando imaginar o que era relatado, tendo por isso (talvez) sentido o jogo de maneira um pouco diferente...
Faltam ainda 15 minutos para o jogo se iniciar, mas já não consigo aguentar mais e vou buscar a minha fonte de esperança, coloco o phone no ouvido o mais rápido que posso para saber notícias vindas do estádio. “Será um jogo que tem tanto de difícil como de histórico para o Braga. O Bayern é um colosso e não irá facilitar, apesar disso tem a pressão do seu lado e o Braga poderá aproveitar isso e com o apoio do público poderá num golpe de sorte não sair derrotado no jogo de hoje...” Eram as primeiras notícias vindas de Dume, e no fundo espelhavam o que eu pensava embora eu tivesse a esperança de receber uma prenda de aniversário via rádio. Seguiram-se os onzes inicias e a entrada das equipas em campo. Os nervos não param de aumentar e ansiedade já cá anda no meio dos tornos a tentar apanhar-me. “Eu aqui quietinho e o Oliver Kahn a entrar, olhou para mim, e não imaginam a sensação, eu não sabia onde me meter, o homem mete medo. Só a presença dele em campo pode intimidar os avançados do Braga...” – enquanto o comentador da rádio transmitia esta frase um arrepia percorreu-me o corpo todo ao ouvir cerca de dez mil almas a incentivar o Braga. Vai começar o jogo e a pulsação já não baixa tão cedo! “Joga o Braga pela direita e é Jorginho que transporta a bola, sai o cruzamento...aparece Vandinho cabecear... (o coração parou repentinamente, o peito apertou-se todo, fico imobilizado) e a bola a sair ao lado, excelente oportunidade do Braga se adiantar no marcador...” Volta o coração a bater e abro o punho que se tinha cerrado. Eu nem queria acreditar que o Braga assustou o Bayern! Após alguns calafrios provocados por ataques dos bávaros chega o minuto vinte, e o resultado mantém-se como começou. Está-se a aguentar bem o Braga, pensava eu na altura, mas de repente “Linz ganha bola na área, excelente oportunidade, remata Linz... (e enquanto aperto o punho direito contra a palma da mão esquerda ouço o público Bracarense a gritar golo, todo arrepiado e completamente fora de mim, formo um grito igual no fundo da minha garganta que é interrompido pelo caminho) e o árbitro a anular o golo por possível falta de Wender sobre um contrário. Nas imagens televisivas não parece ter existido qualquer falta...” Nem queria acreditar que o Braga tinha marcado um golo limpo ao gigante Bayern que o arbitro se encarregou de anular. Começo a ter cada vez mais fé na tal prenda. Mais um punhado de ataques do Bayern, e mais uns cortes na minha mão, porque a limalha não perdoa distracções, e concentração é coisa que me foge por entre os dedos neste momento... Últimos dez minutos da primeira parte e três jogadas excelentes que poderiam ter dado golo para o Braga, primeiro Linz não toca na bola, e de seguida dois remates de Wender que apenas Kahn conseguiu travar, valeu-lhe a experiência. Vem o intervalo e a certeza de que o Braga se estava a debater de igual para igual num jogo entre David e Golias...
Depois de ter conseguido baixar o ritmo cardíaco lá começou a segunda parte. “Klose completamente solto com a baliza à sua mercê nem queria acreditar nas facilidades dadas pela defensiva arsenalista e ainda hesitou antes de atirar a contar para o fundo das redes...” Não acreditava ele nas facilidades, nem eu no que estava a ouvir. Que balde de água fria... Tinha já perdido as esperanças da prenda quando me chega ao ouvido “Wender encontra uma linha de passe para Linz, envia-lhe a bola, Linz desvia o defesa que acaba por escorregar sem falta, pode marcar o Braga, remate cruzado de Linz... (não consigo descrever a sensação com exactidão, sei que deixei de ouvir os tornos a trabalhar, senti o coração a acelerar, agarrei com firmeza a peça que tinha na mão, cerro com toda a força a outra e os dentes, e ouço o mais belo grito saído da “gruta” como pano de funda voz do relatador) ...é golo!!! O Braga empata a partida, o Braga joga bonito, o Braga merece...” Grito tão ou mais alto que as máquinas a trabalhar, sinto os músculos todos a contraírem ao mesmo tempo de maneira que me sentia capaz de levantar com a força de braços todas aquelas toneladas de ferro que compõem um torno. Sensação indiscritível a vivida... Mais uns cartões amarelos, mais umas jogadas de luxo, mais uns remates no jogo e mais uns cortes nos meus dedos, mas já nem sinto dor... “Ao que o Braga jogou aqui esta noite merecia, sem a menor dúvida, sair daqui com os três pontos. Foi uma equipa valente, jogou futebol bonito, deu espectáculo, encostou o Bayern às cordas, olhou-o olhos nos olhos, sem medos nem receios. Foi um Braga que demonstrou ser merecedor da alcunha carinhosa dada pelos adeptos, foi o verdadeiro “Enorme”...” Ao fim de ouvir isto só posso dizer que tive pena de não poder ter ido ao estádio, foi difícil ouvir o relato e sentir o coração próximo do ataque cardíaco mas acima de tudo que sinto orgulho em ser Braguista e que a prenda chegou via rádio...