25.5.08

Devaneio de um outro eu


Deito-me já tarde neste vale que me embala. É neste momento que atinjo um estado em que se torna possível escrever algo com nexo e sentimento. Não, eu não tenho qualquer tipo de dom da escrita, eu limito-me a, em certos momentos não programados, pôr em palavras escritas aquilo que sinto e que a alma transfigurada me dita. Devaneios autênticos de uma mente nunca satisfeita em busca da perfeição. Há já algum tempo que não actualizava o blog, não por falta de vontade ou inspiração, mas talvez por uma pergunta que me foi feita várias vezes (e para a qual não fui capaz de arranjar argumento suficiente) e pela lucidez de pensamentos se ter extraviado por entre a rotina dos dias. Talvez esta tenha voltado com a chuva que nos últimos dias tem caído sobre mim. Apenas hoje consegui atingir a velocidade de pensamento e sentimento necessária para que as palavras me saiam pelas pontas dos dedos à medida que pressiono coordenadamente cada tecla, velocidade essa que, ao contrário do que se pensa, é bem lenta. Uma velocidade que aos poucos me desliga os circuitos dos sentidos um por um, primeiro a audição que ignora o bater da chuva na janela, depois o odor que apenas consegue sentir o cheiro da calma, o paladar em seguida deixando-me a boca sequiosa, o tacto que faz com que eu apenas imagine que estou a escrever o que penso e por fim a visão que me apaga tudo o que me envolve deixando-me a viver num vazio escuro onde apenas sei que tenho o coração a bater, e o pensamento a comandar. É neste estado quase defunto que me encontro e em que tento encontrar resposta a tão difícil pergunta. Várias são as pessoas que por este blog passam e numa leitura na diagonal do que por aqui vou escrevendo põem em causa a originalidade de tais textos, e interpelam-me porque escrevo eu coisas tão tristes sendo eu na vida real totalmente o oposto, bem-disposto, carinha alegre, tentando sempre sorrir para receber um sorriso em troca. Não é fácil fazer as pessoas acreditar que eu também tenho problemas por resolver e obstáculos para vencer, e que tal como a água tento contorná-los em vez de enfrentá-los, é difícil de perceberem que no meio de tanta alegria tem de existir um espaço para a tristeza, para o desabafo. Foi com esse intuito que comecei a escrever. Escrevia para desabafar, para muitas vezes chorar sozinho e encontrar forças onde antes existiam lágrimas, e comecei a publicar para que alguém pudesse usufruir de um certo conforto ao ler, e não para me lamentar ou queixar! É extremamente difícil para mim explicar como consigo escrever, e o que consigo escrever, uma vez que é como se fosse outra pessoa que habita em mim que existisse para desabafar comigo mesmo e me levantar quando caio, como se tivesse outra cara dentro da minha cabeça, um pseudónimo, daí eu assinar como Nemec, nome que por mero acaso é também dado a umas correntes (correntes de Nemec) que servem de alívio à dor. É neste estado, sem sentidos, que me sinto ao mais puro eu, que fico cru, que me exponho como sou e não como finjo ser por vezes, poderia escrever sobre algo que fizesse rir ou pelo menos sorrir, mas seria sem sentimento, seria uma contradição do que sente o meu pseudónimo. Sei que são raras as pessoas que lêem de princípio a fim o que escrevo, por ser muito extenso torna-se maçudo de ler o que eu compreendo e respeito, mas não deixo de publicar por isso, porque não me importa o que os outros lêem pois são livres de escolher, apenas me importo em desabafar o que me fere, mata, ou simplesmente toca cá dentro, em devaneios nem sempre compreendidos mas sentidos. Quem sabe eu não sou capaz de acabar o livro que à muito comecei e mostrar finalmente aquilo de que sou capaz? Quem sabe se amanhã não será diferente? Mas como ainda não é amanhã, chegou a hora de desligar o que resta dos circuitos e esperar pela aurora...

9.5.08

O último dia... o dia do desabafo


Tudo o que começa tem um fim, assim diz a lei da vida, como tal, sei que amanhã será um dia triste para mim, será o dia do fim! Não, não se trata do dia do meu fim, nem a minha fotografia irá figurar nas páginas da necrologia, é o dia do fim da época, do último jogo, da última emoção. Vou pela última vez colocar o cachecol no pescoço e mostrar orgulhosamente, por esta cidade que é minha, o símbolo que me enche de orgulho o ser. Nas últimas épocas a vida do Braga corria de vento em poupa, chamou à atenção do país, e todos os habitantes de Braga diziam nutrir no mínimo um carinho especial pelo clube da “terra”. Sabia bem ouvir isso apesar de saber que em grande maioria se trava de uma tremenda falsidade, pois esses que na altura se diziam adeptos ferrenhos do Braga, em outras ocasiões gritaram golos de clubes distantes daqui, chamavam-me louco, tolo, anormal, doente, e um sem fim de coisas por sentir que o Braga era o maior mesmo quando não se falava nele. Nesta época que, para mim morre amanhã, o Braga ficou aquém das expectativas, e esses falsos Braguistas voltaram à carga. Desligaram-se de tal maneira do clube que o carinho que diziam nutrir se voltou a transformar em fome de vencer de um outro clube fora da região. Durante os jogos que o Braga não ganhava toda gente me conhecia, todos me gozavam, todos se riam na minha cara, todos falavam para mim, se por outro lado o Braga ganhava nem tema de conversa tinham. Por tudo isso, e para todos esses que me massacraram ao longo destes últimos meses deixo o desabafo:
- A todos aqueles que deixaram de ir ao estádio e diziam que assim castigavam os jogadores pois não os apoiavam porque eles não mereciam, digo que sinceramente eu não consigo, faltei a alguns jogos esta época por estar a trabalhar, ouvi o relato e sofri tamanha dor que por vezes parecia não aguentar, se os jogadores não sentirem apoio, não têm motivação para jogar logo não ganham jogos e saem os adeptos castigados. Ser Braguista é castigar os jogadores do próprio clube?
- A todos aqueles que me chamaram de tolo, doido, maluco digo, um tolo, doido ou maluco é alguém que faz algo que não tem lógica ou totalmente fora do contexto, e agora pergunto, apoiar e defender incondicionalmente o clube da cidade que me viu nascer é algo ilógico? Se assim é eu adoro ser maluco, doido e tolo!
- A todos aqueles que me chamaram doente por continuar a apoiar o Braga digo, uma doença diminui física ou psicologicamente o doente debilitando-o, não me sinto como tal, mas se por ventura se referem ao aspecto que eu um dia aqui referi de que era “Braguista” por sofrer de uma doença genética e me culpam por tal estão a agir mal, caso contrário tentem culpar o diabético pelo simples facto de o ser…
- A todos aqueles que se acham superiores, porque apoiam clubes melhor classificados deixo um apelo em nome de todos os que, como eu, se sentiram massacrados ao longo da época, deixem-nos estar, porque façam o fizerem o nosso clube irá ser sempre o Sporting Clube de Braga, é este clube que vamos sempre apoiar e é por ele que iremos sempre lutar, e chegado o dia de triunfar, irá saber melhor do que todas as conquistas por vós alcançadas.
Serei Braguista até ao meu último dia…até ao dia do desabafo