7.12.11

Diário da Índia - Dia 19


Estive tentado a juntar num episódio só os dias 18 e 19. Afinal tratam os dois do mesmo, o meu regresso a Braga, e para mim é como se fosse um dia muito longo. Ainda assim são dias diferentes, um marca a minha saída da Ásia e o outro a minha chegada à Europa. Apesar da partida atrasada em Delhi, acabámos por chegar quase à hora prevista a Frankfurt. É tão bom ver rostos que mais se assemelham aos nossos, ouvir uma língua que ainda sendo desconhecida me soa a casa. Sinto um aconchego de uma cultura mais parecida com a minha, apesar da frieza dos alemães. Não paro de contar os minutos até embarcar de regresso ao Porto. As escassas 3 horas que me separam do meu país parecem-me uma eternidade. Entretenho o cérebro entre uma chamada e a lembrança dela para esquecer a espera. Embarco rumo ao sonho que me invadiu o pensamento nos últimos dias e assim que as rodas do avião voltam a tocar o chão sinto dentro de mim uma explosão de alegria. O sorriso na cara é indisfarçável e já nem me importo da espera pelas malas, saio do aeroporto só com Braga na mente, ou melhor, com quem me vou encontrar em Braga, que saudades eu sinto, mas estão quase a ser eliminadas. Apenas uma curiosidade, desde a minha última visita à Índia que não tinha problemas com acidentes e avarias de carros e camionetas, mas eis que na viagem entre o Porto e Braga feita de carro, tenho um acidente, nada de grave é certo, mas será que trouxe o azar comigo de novo? Quero acreditar que não. Finalmente chego a casa, à comida da minha mãe, ao abraço dos amigos, à ternura da namorada… Tinha saudades deste beijo, saudades deste carinho, e uma vontade enorme de fazer desaparecer este aperto no peito. Agora é só tratar do sono, do apetite e recuperar o tempo perdido. Foram 3 semanas bem sei, mas a mim pareceram-me 3 meses, tempo demais sem algumas coisas bem importantes, que me alimentam o sorriso. Estou em casa, acabou mais uma aventura na Índia…

6.12.11

Diário da Índia - Dia 18


Hoje é o dia de começar a viagem de regresso e a chuva que ameaça cair faz-me pensar que o tempo por aqui fica mais triste sem mim, ainda assim quero voltar, não quero cá ficar. Confesso que pensar nas tortuosas curvas que tenho até chegar perto de Chandigar me assustam e causam um friozinho na barriga. Tento esquecê-lo e entretenho a mente com as despedidas e as memórias dos tempos que por cá passei. Não sei porquê mas sinto alguma nostalgia, ainda assim não quero cá ficar, quero voltar e bem rápido. Faço-me então à estrada no conforto do banco traseiro, acomodo-me o melhor que posso e tento nem pensar nas horas que tenho para andar de carro, por entre curvas e contra-curvas, subidas íngremes e descidas loucas, ultrapassagens apertadas, buracos na estrada maiores que o da madeira, paisagens de perder de vista e animais que nunca lhes tinha posto a vista em cima. Encontra-se de tudo por estes caminhos da Índia. Imagine-se que no meio disto tudo está uma banca montada na beira da estrada a cobrar a passagem na cidade dos veículos, consoante o número de passageiros, e que me dá a entender que foi alguém que se lembrou de montar ali a banca porque lhe apeteceu e viu uma oportunidade de negócio. As curvas são intermináveis e o estômago começa a dar sinais de não estar a gostar da brincadeira, afinal já passaram 3h desde que saí de casa e continuo a fazer curvas e curvas e curvas… Ou será isto só fome? Como não sei e tenho medo de descobrir a certeza ligo a música no telemóvel, fecho os olhos e tento abstrair-me do que se passa à minha volta, apenas o balançar do corpo me faz lembrar que continuo a fazer curvas. A próxima paragem é para almoçar, imagine-se, no McDonald’s algures perdido nos Himalaias. Quem se lembra de fazer um restaurantes destes aqui? O certo é que veio mesmo a calhar. As únicas diferenças que encontrei neste em relação aos de Portugal é a particularidade da placa que diz que neste restaurante não se vende carne de porco nem de vaca e a de não existir aqui um WC. O único hambúrguer que conheci foi o McChicken  e foi a minha refeição. Finda a refeição voltamos às estradas estreitas, onde para se cruzarem dois carros um ter de ir à valeta, às curvas, e às ultrapassagens mirabolantes durante mais cerca de 1h30. Chegados ao aeroporto de Chandigar, que funciona como base militar também, o tempo de espera foi de cerca de 2 horas antes de embarcar no primeiro voo até Delhi, capital da Índia que me irá fornecer a passagem para a tão aguardada Europa. Desta vez a viagem foi feita num avião à séria, com dois potentes jactos, e ficam já avisados os próximos visitantes da Índia que nos voos da Jet Airways apenas se serve um copo de água aos passageiros, o que já não é mau diga-se de passagem. Chegados a Delhi, e aos característicos 28ºC com o sol posto, uma hora depois, a espera é muito longa e decidimos ir conhecer melhor a cidade, já que o tempo chega e sobra. Isto é uma cidade de loucos! Conduzir aqui, para mim, é completamente impossível. Estava à espera de algo diferente, uma cidade melhor, mais bonita, mas na verdade continua a ser a mesma miséria que nos outros sítios. A mesma sujidade, o mesmo cheiro, os mesmos costumes. Encontrámos algo diferente, um centro comercial do outro mundo… Enorme, brilhante, cheio de lojas conceituadas, onde se inclui as sopas Knorr, onde nos conseguimos sentir realmente numa zona civilizada. À entrada do parque são controlados todos os carros, mesmo no porta-bagagem para evitar atentados e coisas parecidas. Todos não, o nosso não foi porque no porta-bagagem vinham as nossas malas de viagem e dava muito trabalho verificar, de maneira que, o segurança fez o favor de nos ceder a passagem. A entrada do centro comercial em pedra polida e brilhante faz-me perguntar se realmente estou na Índia, mas obtenho rapidamente a resposta ao entrar na porta umas escadas acima onde sou revistado da cabeça aos pés… Já dentro do centro comercial, sinto-me na Europa. As lojas conhecidas, o cheiro diferente, o ambiente que se respira, a paz, a sanidade, a calma e o respeito, muito diferente do que se encontra destas portas para fora. Para matar a fome valeu-nos a Pizza Hut desta vez. Sem picantes, sem especiarias malucas, apenas pão, queijo, tomate e frango. Que delícia, que sabor, que saudades… Depois de um passeio pelos ovais corredores e pelas escadas rolantes chega a hora de voltar ao aeroporto para retomar a viagem rumo à Europa. O atraso de 30 minutos no voo cria-me alguma apreensão se o tempo será suficiente para em Frankfurt apanhar o voo que me levará até ao Porto. Sem problemas no passaporte desta vez, aguardo ansiosamente a abertura das portas, entro no avião, acomodo-me e tento nem me lembrar que vou passar as próximas 8h30 dentro deste avião… Entretanto será já outro dia!

5.12.11

Diário da Índia - Dia 17


Última vez que tenho massa como refeição. Durante todos os dias que aqui passei, não comi mais nada que não fosse massa, com vários feitios mas, sempre com o mesmo sabor. Já mal posso imaginar comer massa, além disso preciso de umas batatinhas fritas, de um bom bifinho, ou de uma francesinha à moda da Joana! Mas lá virá o tempo. Aqui a comida parece saber toda ao mesmo, sabores muito estranhos e diferentes do que estamos habituados, quando vemos um prato com bom aspecto não passa de fogo de vista, o sabor torna-se uma desilusão, por exemplo, hoje apresentaram-me um prato com salada de fruta, temperada com orégãos e pimenta! Sabia tão bem só a frutinha laminada… Hoje foi dia de reuniões finais, e de ultimar alguns pormenores, foi também dia de algumas despedidas, amanhã se farão mais certamente. Deixo para trás dias frios, sorrisos rasgados, lágrimas sentidas, nervos à flor de pele e as batalhas ganhas, a partir de agora só quero pensar numa viagem longa e tranquila até aos braços de quem  me espera. Não quero mais saber da massa, mas talvez sinta falta dos litros e litros de chá que devorei por estas bandas. Confesso que estou farto disto, preciso de Portugal, preciso de me sentir em casa, preciso daquele abraço carinhoso, mas não quero deixar que a ansiedade tome conta de mim, quero descansar, esquecer esta dor de barriga, dormir sossegado e amanhã de manhã partir de Baga rumo a Braga. É tempo de esquecer o stress e esperar que tudo corra bem, tenho uma longa viagem pela frente e agora vou descansar. Darei notícias em breve. Até já!

4.12.11

Diário da Índia - Dia 16


Shimla! Não, não se trata de um espirro, trata-se de uma cidade, capital de Himachal Pradesh na Índia, com uma altitude de 2400 m e que eu fui visitar ontem. Demorei cerca de 3h horas a percorrer os 75 km que separam Baga de Shimla. Um caminho tortuoso de curvas e contra-curvas apertadas, altos e baixo, buracos e lombas mal amanhadas que fazem sofrer o mais duro estômago. Por entre macacos, águias e falcões e densa floresta lá chegamos ao destino para fazer uma viagem a cavalo, viagem essa com o custo de 350 rupias (5,83 €), valor que nós não tínhamos connosco. Aliás não tínhamos dinheiro nenhum senão euros. Ainda assim, e não sei bem como, lá cavalgamos durante 5 minutos, monte acima, onde é cobrada a entrada, 10 (0,17 €) rupias por pessoa, e onde no interior existe um templo, um espaço para admirar os Himalaias com neve, entre outras coisas. Os cavalos ficam cá fora e mais uma vez não temos dinheiro para entrar no parque, ainda assim, 0,40 € são o suficiente para deixar entrar 4 pessoas. Entramos e em vez da 1h30m definida pelo dono dos cavalos pedimos apenas que esperasse 30 minutos, mas quando voltámos estavam lá só 2 cavalos… Já cá em baixo é-nos pedido para pagar as viagens, voltámos a explicar que não temos dinheiro, nem maneira de pagar, o nosso motorista  saca de 600 rupias para abater à conta e explica que passa lá outro dia para pagar o resto, não me perguntem como, juro que não percebo estes negócios. Voltámos para a cidade onde nos foi garantido que existem McDonald’s e Pizza Hut. A rua onde existem chama-se Mall Street e não passam lá carros, fica muito mais elevada que as outras ruas da cidade, temos de subir ou pelas escadas, ou apanhar dois elevadores que cobram 7 (0,12 € )rupias pela subida. Ora nós não temos rupias e mais uma vez 0,20 € fazem milagres e compram 4 passagens, recebendo ainda 22 rupias (0,37 €) de troco! Chegados a Mall Street só à terceira é que conseguimos levantar dinheiro e descobrimos que não existe McDonald’s nem Pizza Hut, existe isso sim Domino’s que também faz pizzas. A fome aperta tanto que lá fomos ao Domino’s. Apesar de pedirmos encarecidamente uma pizza que não fosse picante ela vem cheia de pimenta que até faz chorar os olhos. Mesmo raspando toda a pimenta visível, o sabor está entranhado no resto dos ingredientes. A viagem feita de volta por aquele caminho tortuoso logo a seguir não podia correr muito bem como é óbvio e lá parámos pelo caminho antes que “o barco virasse”. Custou-me imenso chegar a casa sem vomitar, mas lá consegui, e fica a maior aventura desta viagem… Acho que ainda sinto o cheiro a cavalo!

3.12.11

Diário da Índia - Dia 15


O último sábado que passo deste lado do Mundo é hoje. É tempo de ultimar os pequenos pormenores, dar formação de utilização e manutenção de todos os equipamentos e dar por terminada a tarefa. Como tal, se tudo correr bem, espero uns dias mais sossegados de agora em diante. Tendo mais tempo para reparar em pequenos pormenores, começo a encontrar diferenças desta fábrica para a fábrica da minha outra aventura por estas bandas, Rewa. Reparando bem nos camiões, estes não trazem pneus com a câmara de ar à mostra, não estão partidos, têm todas as partes que constituem a carcaça e os seu motoristas estão constantemente a limpá-los. Os motoristas são também diferentes. Mais educados, mais civilizados, mais respeitadores. Ao contrário do que acontecia em Rewa, aqui em Baga os motoristas respeitam os semáforos vermelhos, apesar de ter sido eu a instalar os únicos num raio de cerca de 100 km. Continuando nas pequenas diferenças, aqui não encontro vacas, mas encontro 2 cabras e muitos macacos, também encontrei alguns cães, por sinal, um deles fez questão de me acordar várias vezes a noite passada. O clima é também diferente, muito mais frio aqui em Baga, provavelmente está relacionado com a altitude (1800 m). Ao longe, muito ao longe mesmo, e só quando o nevoeiro o permite, consigo vislumbrar uns picos ainda mais altos que estes com neve. Em Rewa predominavam mais as planícies. Um só país mas muitas pequenas coisas a diferenciá-lo. E lá passou mais um dia, está mesmo quase…

2.12.11

Diário da Índia - Dia 14


Em Portugal existem coisas tão banais que as vemos como sendo normais em qualquer parte do mundo, infelizmente não o são, e felizmente consigo ver algumas delas pelo menos, conseguindo assim dar mais valor ao que temos. É praticamente impossível mulher em Portugal pensar em ir trabalhar e levar o seu filho consigo quando este ainda precisa ser amamentado, mas aqui na Índia não existem creches nem amas para ficar com os bebés, e as mães têm de os levar para o trabalho, seja ele qual for. Uma imagem que certamente irei guardar  por muitos bons anos é a de uma mãe, talvez com 30 anos, andar no emprego com o filho de cerca de 3 ou 4 meses, às costas, preso com um lenço. Nada de fascinante, não trabalhasse esta mãe na construção civil e eu até nem acharia isto tão estranho. Esta pobre mãe, além de acarretar a pobre criança faminta às costas tem de transportar à cabeça pratos em ferro cheios de cimentos, cerca de 15 kg (sim pratos, aqui não existem baldes de cimento) e tijolos, durante todo o dia, é impressionante a força desta mãe. Talvez por isso tenha reparado nas poucas crianças que por aqui existem. Não têm brinquedos, por isso, brincam ajudando os mais adultos no trabalho, brincam com pás, transportam tijolos, peneiram a areia e a terra… Era tão bom que pudéssemos ter todos acesso às coisas básicas e simples. Quanto ao trabalho está praticamente tudo acertado, em breve voo para casa… Até já!

1.12.11

Diário da Índia - Dia 13



Goza-se em Portugal (por enquanto) mais um feriado, já pela Índia isso é coisa que não existe, pelo menos hoje. Pelo menos, e ao contrário de ontem hoje já consegui trabalhar, já tinha condições para tal, apesar de serem muito más. Passar o dia inteiro em cima de um banco, em pé, num andaime móvel, a comer pó de cimento à força toda, não coisa muito agradável, daí que não estranhe o fim do dia, cheio de dores no corpo todo e completamente de rastos, ainda assim sentia-me bem por dentro, avançou-se mais um pouco no progresso da instalação dos equipamentos e já falta pouco tempo para voltar a casa. Já mal suporto a massa com pimentos e tomate todos os dias ao almoço e ao jantar. Muda o formato mas matem-se o sabor, e diga-se que não lá muito bom. Contudo já só cá estarei mais 4 dias. Ai que saudades…

30.11.11

Diário da Índia - Dia 12


Há dias em que nada se faz, já lá cantavam os Quinta do Bill, e outros dias há em que nada se pode fazer. Hoje foi uma mistura destes dois tipos de dias, nada fiz, porque nada podia fazer. Limitei-me a marcar presença aqui e ali e nem os macacos apareceram para me entreter. Ora não se faz porque falta isto, ora porque aquilo ainda não está pronto, ora porque agora não é boa altura… Será que ninguém percebe que eu só quero acabar isto regressar a casa? Importam-se de me facilitar a vida? Valeu-me o banho de água bem quente, a cavaqueira no fim de jantar e as palavras embrulhadas em carinho vindas de Portugal. Por falar em Portugal, amanhã é feriado, mas não para mim…

29.11.11

Diário da Índia - Dia 11


Diferente este dia, não nas cores, não nos cheiros, não na neblina que se faz sentir nem buzinar dos camiões. Acordei animado, e o dia foi correndo normalmente, aperta-se uns parafusos aqui, faz-se uns furos ali, faz-se uma ficha deste lado conecta-se um cabo daquele, vê-se um bando de macacos a migrarem de um lado da estrada para o outro, enfim, foi passando o dia. Ao jantar, o frango mal passado fazia-me lembrar que este era um dia diferente. Diferente também por, misteriosamente, deixar de acesso à internet. Logo hoje… Terá um macaco roído o cabo? Talvez, talvez não. É então por telefone que se consegue falar para Portugal, saber as novidades e matar algumas saudades. Percebo então que este dia foi igual aos outros, pela primeira vez fiz anos fora de casa, sem festejos, sem bolos, sem beijinhos e abraços. Foi o telemóvel que me fez saber que alguém se lembrou de mim, não consigo agradecer a todos os que o fizeram e sinto-me mal por isso, mas não tenho maneira de os contactar, não tenho internet hoje, logo hoje. Vou deitar-me na dúvida de não saber afinal quando devo achar que não faço anos, às 0h00 da Índia ou 5h30 depois? Não interessa, para o ano faço anos outra vez…

28.11.11

Diário da Índia - Dia 10


De regresso ao trabalho, não se podia esperar um pior regresso. Há dias em que não entendo porque raio me parece que falta tudo para poder trabalhar. Odeio quando as coisas empancam por todo o canto e esquina, começo a perder a calma e a paciência, devolvida apenas ao final do dia, falando para quem ficou pela Europa, lembrando coisas boas passadas, recolocando um sorriso na cara que me enche o peito de ar, e não só, num suspiro enorme. Há dias assim, dias em que nada corre bem, mas só temos de sorrir, esperar pelo próximo e lembrar que falta menos um para regressar a Braga. É menos um dia neste tortuoso caminho serpenteado com um túnel em que se esqueceram de colocar ventilação mas que tem dois enormes portões na entra e na saída… Hoje apetece-me mesmo ir para casa, ir para o abraço que me faz falta. Quase nem me lembrava que amanhã faço anos…

27.11.11

Diário da Índia - Dia 9


Nem sempre é fácil levantar o animo, por isso, eu tento viver cada dia sem olhar ao dia anterior, começar tudo de novo, agarrar-me ao que de melhor tenho e tentar sorrir. Foi o que fiz hoje, apesar de tudo tentei esquecer as réstias de maus sentimentos que moravam em mim. Tive folga, a falta de mão de obra na fábrica obrigou-me a ficar por casa, e consegui umas longas horas de conversa com quem ficou por Portugal e me ajudou a acalmar e a sorrir. Apesar do dia praticamente passado dentro do quarto, senti-me como se tivesse dado meia volta ao mundo, me tivesse enroscado num cobertor quentinho com alguém muito especial, tivesse espalhado sorrisos por todo o lado e tivesse acabado o dia, aconchegado, a ver um pôr do sol qualquer junto ao mar. Soube muito bem, fez-me muito bem. Deu para descansar e animar, amanhã há mais… trabalho!

26.11.11

Diário da Índia - Dia 8


Eis que chegou o dia que eu mais receava, o dia e que já nada é novidade, em que tudo se torna monotonamente chato, em que o buzinar musical dos camiões já não me faz sorrir, o dia em que todas estas curvas, subidas e descidas já não me fazem sentir numa animada montanha-russa mas sim num infernal e enjoativo caminho a percorrer e que parece cada vez ser maior. Sinto-me exausto, sem força física e força de vontade para acabar o que comecei, contudo, sei que tenho de o acabar… Fui abaixo, não há grande coisa que me ajude deste lado a encarar melhor os sentimentos que se baralham. Na verdade nem sequer tenho pensado muito no que tinha antes de cá chegar, ou no que vou encontrar quando lá chegar. Tenho tentado manter dentro de um frasco toda a ansiedade e toda a saudade. Já nem os macaquinhos que me cabem na palma da mão e que por aqui brincam me fazem animar. Apenas os aprecio com o olhar distante. Custou-me a passar este gélido dia, custou-me continuar a imaginar que não existe nada mais do que o que consigo ver. Custou-me ver as injustiças e só não me custou a adormecer…

25.11.11

Diário da Índia - Dia 7



Tenho mais um objectivo praticamente acabado, o que fica pendente não depende só de mim, começo a animar por ver o trabalho finalmente a ficar concluído aos poucos. No caminho para casa, por entre uma infinidade de curvas vejo como se lava cá a loiça (não a loiça onde eu como, outra fora do meu “habitat”), numa bica de água deixa-se molhar a loiça a lavar, raspa-se alguma areia do chão com a mão e esfrega-se… o resultado é… nem consigo dizer.  É extrema a pobreza que por cá existe. Confessou a pessoa que zela pela cozinha onde faço as minhas refeições que vê a família dele cerca de 12 dias por ano. Tem mulher e uma filha… Finalmente encontrei a camisola perdida na lavandaria, afinal não tinha sido perdida, só não foi devolvida antes porque, como me explicou o responsável, o sol esteve muito gelado nos últimos dias. Hoje bateram-me bem fortes as saudades do Braga. Já na cama vi vídeos sem fim relacionados com o Braga, quase senti o cheiro e o ambiente do estádio, quase me senti gritar ao som das músicas e quase deixei cair uma lágrima, pena ninguém aqui me conseguir entender. Vou guardar só o arrepio e deixar-me adormecer amanhã é um novo dia.

24.11.11

Diário da Índia - Dia 6


Este foi o dia para curar doenças, do estômago principalmente. Não que a comida tenha sido má (e que o doente seja eu), mas temos comido sempre a mesma massa e o cansaço é cada vez maior, a pressão também não ajuda nada, nem os indianos… Senti todo o corpo gelar hoje quando o frio me atravessava a roupa, foi difícil trabalhar, e a força física foi aparecendo não sei bem de onde, as a mente encontrou-a. Foi um dia de mais uma sapatada no trabalho que há a fazer e prefiro não olhar o futuro e o que ainda tenho para fazer. Sinto-me nervoso por dentro mas não o deixo transparecer, mantenho-me sereno e deixo o dia acabar. Vejo a minha família, o meu sobrinho que insiste que eu estou na suíça e vejo a minha namorada. Estou cansado e vou dormir…

23.11.11

Diário da Índia - Dia 5


Mais um comprimido de Malarone e mais um dia pela frente. Muito pó de cimento inalado, muito cansaço físico e psicológico e um desgaste que já custa a recuperar. Mas nem tudo é mau, o sorriso do indiano a quem ofereci algumas moedas de euro para a sua colecção, compensou em parte, uma outra parte foi compensada com a surpresa ao almoço, PIZZA! Sem caril nem especiarias malucas, simplesmente pão, com tomate e queijo crocante, que delicia, soube-me pela vida. Ganhei ânimo para a tarde e ao jantar nova surpresa, FRANGO, duro como borracha e pequeno como uma perdiz mas estava saboroso, e misturado com a massa do costume fez-me sentir bem. Mais uma caneca de chá a ferver e vamos lá experimentar a internet. Não tenho acesso ao facebook, mas tenho ao email e tenho Superbraga, tenho ao blog para actualizando as aventuras e tenho ao youtube para ouvir musica. Mais importante é mesmo fazer videochamadas para os de casa de quem já sinto saudades. Por falar em saudades tenho de me lembrar de não as voltar a mencionar em conversas, ontem fiz-te chorar…

22.11.11

Diário da Índia - Dia 4


Hoje perdi oficialmente a noção dos dias, não sei se é segunda, terça, quarta ou nenhum destes, estou perdido! Mas lembro-me sempre do que comi ontem e anteontem e no dia anterior, isto porque foi sempre massa. Os indianos não são todos iguais mas há alguns que nascem com uma espécie de cola, colam-se a nós e oferecem-nos todas as mãos do mundo para ajudar, que no caso, sendo tantas só servem para estorvar. É simplesmente impossível trabalhar com eles, é impossível fazer seja o que for com alguém de queixo colado no ombro, que me segura na chave de fendas quando eu estou a rodá-la, que me segura na mala ao mesmo tempo que eu, que me faz sentir o seu bafo a caril de tão colado que esta a mim, gritei em desespero “SE METESSES A MÂO NO CÚ PAH!”, ao que parece que entendeu e retirou a mão, mas por breves momentos, uma questão de segundos… é impossível fugir deles, e quando te escondeste, ele escondeu-se contigo… Além disso começo a ficar chalado…

21.11.11

Diário da Índia - Dia 3


Depois de forrado o estômago com um belo de um pequeno almoço, preparei-me psicologicamente para um dia de trabalho longo e com obrigação de ter um rendimento mais elevado devido ao inesperado atraso no início. Ora se bem o imaginei, mais mal ele corria. Descobri que em toda uma cimenteira existe apenas uma máquina de furar que eu posso utilizar, cuja, tem a servir de extensão dois cabos presos com fita isoladora junto da ficha. Por azar o broca que trazia agarrada era 2 mm mais pequena que o que eu necessitava, sendo assim vamos lá arranjar outra… mas não há! Então compra-se. E lá foram comprar, voltam 2h30 depois com uma broca de furar ferro… troca-se… só se trabalha de tarde… Isto é muito difícil estar no meio do nada! Como se não bastasse tenho dois moçoilos de turbante na cabeça, que me faz uma impressão enorme, literalmente colados a mim, estão sempre a menos de 50cm de mim, mal consigo respirar, e não consigo perceber o que dizem porque enfiam “erres” em tudo o que é palavra, são piores que os de Setúbal! Continuo a esperar por melhores dias. Ah! Hoje jantei bem.

20.11.11

Diário da Índia - Dia 2


Só hoje com a luz do dia consigo perceber onde realmente estou. Rodeado de montanhas muito próximas de mim, e numa montanha mais baixa que todas as outras. As estradas que se serpenteiam pelas encostas fazem-me perceber o porquê da demora para cá chegar. Da montanha onde eu vivo (leia-se durmo) consigo ver a montanha onde a fábrica está plantada, e entre estas duas montanhas existe uma outra montanha onde fizeram um túnel para melhor a atravessar. Ao contrário do que parece estou em linha recta a pouco mais de 2 quilómetros! A curiosidade deste túnel, é que mesmo escavando toneladas de pedra o túnel foi feito cheio de curvas. Após a reunião onde se acertaram alguns pontos, fez-se a visita ao (futuro) armazém para desembalar tudo e pegar no material necessário para iniciar a obra. À hora de almoço recebemos informação que estão a passar uns cabos para os nossos quartos que nos permitirão ter internet, a ver vamos se é verdade, o cabo já cá está dentro pelo menos. Foi melhor esta notícia que o almoço em si, estava demasiado picante a massa. A tarde começou com um protesto dos camionistas que fecharam a entrada e a saída da fábrica com dois camiões, o que atrasou tudo, “furado” este protesto a tarde arrastou‑se e arrastou-se e eu senti-me cada vez mais fraco, fruto das saudades e das falhas na alimentação.  Por entre um idioma que não percebo e um inglês muito mal expresso lá chegou a hora de jantar e de comer uma massa melada mas já sem picante. Não é saborosa, mas a ideia de ser algo que me dá energia faz-me ter vontade de a comer.  A internet ainda cá não está, mas o sono já cá morava, hora de dormir e sonhar com um dia bem melhor amanhã.

19.11.11

Diário da Índia - Dia 1

À chegada a Deli já não estranhei a maioria das coisas, como o chão alcatifado, os militares armados, a má disposição dos funcionários que controlam as entradas no país, o cheiro, a chapada de ar quente e húmido, 20º perto das 2h da manhã... nada disto me soou a novo. Depois de recuperada a bagagem enviada no Porto, procurei a porta que pela manhã, bem cedo, me cederá passagem para o avião até Chandigarh. Encontrei a porta e julgava ter encontrado numa espécie de “bancos-cama” o local ideal para dormir cerca de 4 horas, mas estava errado, não consegui nem 10 min. A televisão muito alta com o teclado bloqueado e a luz muito forte que mesmo de olhos fechado me fazia confusão obrigaram-me a ficar acordado até de manhã, cada vez mais cansado. Lembro-me de andar a arrastar os pés por sentir que estavam cada vez mais pesados, e se calhar até estavam, o pé torcido voltou a inchar, e de que maneira. Foi então sem dormir que fui ao encontro do avião que, ao contrário do que eu esperava, não estava munido de dois poderosos jactos mas sim de duas hélices a fazer lembrar um avião de combate da 2ª grande guerra. Entrei e pude constatar que por dentro o avião não tinha melhor aspecto do que por fora. Avisaram depois todos os passageiros que a descolagem foi adiada por existir muito nevoeiro no aeroporto de Chandigarh. Novo aviso e novo adiamento… só à quarta o avião se fez à pista, do outro lado do aeroporto por sinal e já eu tinha descansado os olhos um bom par de minutos. Da viagem em si só me lembro do quase fim e do fim, o que separa isto do inicio foi passado de olhos fechados. O quase fim resume-se a uma tentativa falhada de aterrar o avião, segundo o comandante não havia radar e o denso nevoeiro não o deixou identificar a pista, pelo que se aceleraram os motores e se foi dar a volta ao avião. Depois de aterrar e de um duche rápido num hotel próximo, tapei o buraco com parte de uma pizza e fiz-me ao caminho até aos Himalaias. Não imaginava eu que estava tão longe. Já da outra vez me fascinou a perícia com que se conduz por aqui, sem grandes regras, mas hoje tive a prova cabal de que é preciso muito sangue frio. Foram quilómetros a fio percorrido entre curvas e contra-curvas, sempre com ultrapassagens do outro mundo e que não lembra a ninguém. O que é certo é que cheguei à fábrica de Baga inteiro, numa só peça, e já é hora do jantar. Se calhar já me tinha esquecido de como era a comida por cá, mas ao entrar no refeitório, o cheiro intenso a caril e pimenta que me entrou pelo nariz dentro, rapidamente me fez lembrar todos os sacrifícios. Hoje foi massa, mais picante que o normal, amanhã logo se verá. Tudo a postos para começar o trabalho. São 16:24 em Braga, 22:04 em Solan, Índia, e eu vou tentar repor as energias gastas na viagem, vou dormir.

18.11.11

Diário da Índia - Dia 0

É novamente bem cedo que me faço à aventura. Afinal a caminhada não será assim tão diferente da última, apenas alguns pormenores mudam. Ia o sol a meio do seu sono quando me despedi dos que cá ficaram, levando comigo o nó no peito de recordação, ainda assim, obrigo a que em mim reine a boa disposição, numa tentativa de tornar tudo menos doloroso. Não sei se por mero acaso, por infelicidade ou por “vontades” de alguém que desconheço, as coisas não começam da melhor forma e a meio da fila para a revista da passagem à zona de embarque oiço o meu nome ser chamado nos altifalantes do aeroporto, estava atrasado e estavam já a fazer a última chamada… Ultrapassou-se esse pequeno problema e lá entrei no avião, com lugar reservado na última fila, junto do corredor. Lembro-me bem do avião ter levantado, mas a certa altura o peso nos olhos era tanto que fui obrigado a cerrar as pálpebras, ainda que não seja considerado dormir. Dormir dentro de um avião é tarefa impossível, uma vez que, para mim, dormir implica descansar.
Chegado ao gelado povo alemão, procurei a porta de embarque, ainda fechada, que me levará a Deli, procuro depois um local para almoçar, desta feita o McDonalds  para que me lembre de quando foi o última vez que a carne fez parte da minha ementa. Regressado à porta de embarque, reparo que me acabaram de marcar um lugar em executiva com o nome de Jacob Xavier… Alguém quer que fique por aqui e que não embarque rumo à Ásia. Apesar da senhora do balcão da companhia aérea Lufthansa não ter ficado muito convencida de que o meu nome não era Jacob, lá me deu o bilhete certo, sentado entre um indiano com cerca de 30 anos e uma indiana bem mais velha, com cerca de 60, no corredor do meio do avião. Desta viagem lembro-me apenas de alguns tópicos, lembro-me de passar grande parte do tempo de olhos fechados, lembro-me da primeira refeição, frango com batata, lembro-me da dor de costas terrível e lembro-me do desespero que começo a sentir por não poder descansar e dormir em condições, custou imenso fazer a viagem, mas lá se fez e cá cheguei… Olá Deli!

17.11.11

Não deixes cair mais


Escorre, salgada, fria, agreste…
Como a despedida
E o último beijo que me deste.
Mas não apaga a dor sentida
Nem tira o aperto do peito.
Continua a escorrer no seu leito
Cara abaixo, a lágrima triste
Caindo na mão que ternamente abriste
Para guardar um sopro de mim
Junto ao teu coração doce
Onde por agora só guardas esse frenesim
E desejas que o dia de regresso já fosse.
Mas ainda não o é…
E ainda nem sequer fui, mas…
Quando voltar vou estar ainda mais próximo de ti
Para te contar as histórias que vivi
Passar um bom bocado contigo,
Que eu cumpro sempre aquilo que digo,
Até deixo-te uma lembrança,
Um abraço enorme e um beijo sentido,
Vou, mas volto na esperança
De saber curar esse coração ferido…

15.10.11

A vontade da telha


E se a telha estiver partida?
Se recusar encaminhar água
Para o caleiro como fez toda a vida?
Tem o direito de se achar perdida,
De não mais querer ser telha
Por achar-se já velha,
Queimada pelo sol, que lhe bateu durante anos,
Roída pela água que encaminhou para os canos.
Desgastada de uma vida dura
Onde ninguém lhe encontra cura.
Com vontade de deixar as demais,
Deixar de ser pouso de pardais
E simplesmente nada fazer,
Apreciar um dia o amanhecer
Gozar a vida até ao anoitecer…
Permitirá o telhado tal desejo
Gerado pela telha num breve ensejo?
Sem ela o telhado não tem valor,
Fica oco, sem alma, perde a cor…
Acorda a telha em sobressalto
Com a água que cai lá do alto,
Jura nunca mais querer
Ao telhado não pertencer,
Enche-se de força e consegue gritar
Para que a ouçam além, no mar:
- Poderei para sempre ser velha
Mas orgulho-me de ainda ser telha,
A ti que de pedras tens as mãos fartas
Só te rogo que não me partas!

22.9.11

Vento


Subi à mais alta montanha!
Queria ver-te, tenho saudades.
Puxei pelas minhas habilidades
E tentei decifrar tudo o que olho o apanha.
Não te consegui ver, estás distante.
Desanimei e sentei-me nas flores a meus pés
Contei-lhes tudo, disse-lhes quem és,
Disse-lhes o que sinto, o quanto és importante.
No meio da conversa tentou meter-se o vento
Com seu ar forte e valentão, ia soprando
Ia-se fazendo de desatento,
Mas chamava-me fraco e suspirando
Pedi-lhe um enorme favor,
Pedi-lhe que te entregasse um beijo
Doce, ternurento, meigo, cheio de amor,
E te dissesse que ver-te neste ensejo
Era o meu maior desejo.
Poder sussurrar-te o quanto te quero,
Acalmando-te prometendo que por ti espero
Como se estivesses ao virar da esquina,
É assim que vou sobrevivendo,
Enganando a mente que também desatina,
Enganando um coração que resiste à dor
Anestesiada pelo teu amor.
Depressa o vento forte se comoveu
E o seu ar agreste desapareceu,
Amainou e ouvi-o prometer
Que te entregaria o meu pedido
Numa leve brisa ao amanhecer.
Um beijo, um carinho e um amo-te sentido…

Parabéns!



Pediste-me que fizesse um poema
Anunciando o teu aniversário,
Respondi que pegaria nesse tema
Adicionaria mais um poema ao diário.
Busquei as palavras ideais,
Enfeitiçadas pela tua alegria,
Nascidas entre os meus dedais,
Sentidas com alguma nostalgia.
Palavras não há para igualar
A prenda que tu merecias,
Um inteiro recital te queria dar.
Lamento por apenas te desejar um
Aniversário muito feliz…

20.9.11


Há uma nova remessa de 50 livros pronta a ser distribuida por quem os desejar. A quem não conhece, é uma edição com alguns dos melhores textos publicados aqui no blog ao longo dos últimos 5 anos.

3.9.11

Não é justo esconder

Deixei-me levar pelas notas de um piano, que me foram batendo uma a uma no peito. Leves, meigas, doces… suaves… Lembraram-me de ti, mas não me mataram a falta que me faz o teu carinho. Cansei-me de te esconder em emaranhados de palavras, em textos sentidos pelo coração mas nem sempre fazendo sentido para quem os lê, cansei-me de joguinhos com letras. Não é justo esconder o que arde cá dentro, o que de mais bonito podemos ver nascer e sentir, o que mais queremos preservar e queremos fazer durar. Não é justo guardar só para mim a vontade de gritar o que sinto por ti quando na verdade quero gritar mais alto que tudo e todos.  Parei para pensar em como somos tão estúpidos ao ponto de não dizermos que amamos alguém porque temos medo, medo que nos achem ridículos, medo que nos achem inferiores e frágeis, mas na verdade desejamos com todas as forças ouvi-lo da boca de alguém, num sussurrar sentido ao nosso ouvido, numa voz tremula, meiga e doce, num palpitar de um coração que quer sair do peito, num esvoaçar de ideias que nos fazem sentir as pessoas mais felizes do Mundo. Não acredito que alguém não seja assim… Se queremos ver um sorriso na cara de quem amamos porque não lhe dizemos? Porque não lhe baralhamos os sentido e não lhe pomos o coração aos saltos? E se não houver amanhã? Um dia não vai haver, e vamos querer voltar a um ontem que nunca vamos poder, por isso te digo hoje o que há muito tempo alguém incompreendido chamou de fogo, por isso não te escondo neste texto. Podia dar-te uma flor, podia dar-te a maior das extravagâncias, mas não, nada disso é suficiente, é o Mundo que quero conquistar para ti. Não sei ainda quando estarei do outro lado desta bola que chamamos planeta mas prometo-te que volto, volto por ti, e trarei o outro lado do Mundo que prometi dar-te… Até lá quero apenas lembrar-te do que me enche a alma, me acalenta o coração, me alimenta o sorriso. Porque mesmo não sendo Carnaval não levas-te a mal que dissesse que te amo. Não te vou chamar de flor, nem de borboleta, ou outra coisa qualquer para te esconder, chamo-te de Joana e digo por isso que te amo…

3.8.11

Recuso-me acreditar

Um sorriso que se perde nos dias
Que passam e deambulam por nós
Sem razão, deixa a dor nas noites frias
Pela falta do calor de sua voz.
Dói estar tão consciente da realidade,
Atravessa-se na garganta o grito mudo
Que não acredita em tamanha atrocidade,
Que não vê nisto o fim de tudo.
É impossível não te ver mais!
Tira-me a lágrima que me tomou de assalto,
Acredito que verei teus risos e gestos banais
Quando procurar por ti amanhã, bem lá no alto…
É mentira tudo o que me dizem
Acreditar é impossível, não dá!
Custe o que custar, por mais vontades que deslizem,
Sei que te vou encontrar, por isso, até já…

2.8.11

À espera do recomeço

Sinto no peito algo que não defino.
Não por não querer, mas por não ser capaz,
Por não me sentir suficientemente audaz
E quando tento explicar sai algo sem tino.
Sinto bolas, sinto golos, sinto abraços,
Explosões de alegria que me seguem os passos.
Tenho sonhos, tenho ilusões,
Tenho a crença que ainda seremos campeões
Se para baixo não nos empurrarem
Os senhores que no futebol mandam,
Para se satisfazerem e se vangloriarem,
Mas que ao longe a vigaristas tresandam.
Temos de lutar contra esta espécie,
Unidos e com as nossas armas prontas,
Deixar de lados as batalhas tontas
Entre aqueles que a nós pertencem
E que apenas de algum fervor carecem.
Se somos família dentro da muralha
É contra os de fora nossa batalha.
Contra quem nos destrói o sonho
E esses sei que não são Braguistas,
Por esses ponho as mãos no fogo
Pela certeza de serem bairristas.
Para a nova época estamos prontos
Derrotaremos quem nos acha tontos,
Até não poder-mos mais, iremos marchar!
Quem comigo se vai alistar?

30.7.11

Floresce

Floresce, abre-te a um mundo
Que é nosso, sente o sol
Que te aquece o sentimento profundo.
Sente o que te dou, morde o anzol
E deixa-te ficar à minha mercê.
Não te irei magoar, quero apenas ajudar
A curar as feridas que só o coração vê.
Deixa-me cuidar dessa dor agreste
Que te tolhe por dentro
E te esconde o sorriso que antes deste.
Deixa-me acariciar-te cada pétala
De onde brota um perfume sem igual
Deixa-me mostrar-te que tem cura esse mal
E que podes voltar a sorrir,
Podes voltar a florir.
Deixa bater fortemente o coração.
Ele aguenta toda essa azafama
E não dará sinais de exaustão,
Porque bate com paixão,
Apaziguado com carinho
Pelo suave tocar de uma mão,
Trémula, meiga e doce,
Tal e qual a sensação
Que em mim nasceu numa primavera,
Ao sentir teus lábios, teu doce mel,
Impossível descrever num papel.
Voltar a senti-lo, ai quem me dera!
Agora mesmo, sem preconceitos,
Sem importar o que o relógio chama
Porque o meu coração não só bate,
O meu coração apaixonou-se, ele ama…

15.7.11

Outro Mundo

Preciso criar um mundo só meu
Sem árvores, mas com raízes,
Sem rostos felizes
Apenas com desconhecidas caras
Que me tragam à memória as aparas
Da vida que vou deixando para trás,
Para que me volte a sentir capaz
De fazer nascer um sorriso
Sem que para isso seja preciso
Soltar uma única palavra bacoca.
Usando apenas o olhar
De uma visão que se vai tornando oca
Afogada pelo lacrimejar,
Salgado, frio e brusco,
Com falta do mimo que em ti busco
Para apaziguar a dor que me mói
Que por vezes duvido se realmente dói,
Ou se é apenas o chamar das palavras
Com vontade de saírem da jaula
Onde vivem aprisionadas
E que todos chamamos de mente,
Um cérebro que por muito que tente
Se sente fora do mundo,
E a vontade dele lá no fundo,
É apenas de criar um sonho
Onde escolho quem lá ponho.
Todos precisamos de um mundo assim,
Um para nós, um para ti, um mundo para mim…

29.6.11

Perto do fim



Não sou capaz de escrever para já,
Porque nada mais tenho a ocultar.
Mesmo desconhecendo o amanhã,
Não sabendo em que águas irei nadar,
Afirmo de mente aclarada,
De quem já não morde pela calada
Que nada mais há a aclamar
Nesta obscura mente ludibriada,
Que vos ilude e impede de decifrar
A verdade da falsa rima apresentada.
Não conseguirás saborear
A verdadeira razão aqui apreendida,
Aquela que não pode ser mexida
Por viver de um objectivo
Forte, caloroso, tentador,
Que me torna cada vez mais emotivo…

11.6.11

O difícil começo

Julgaste ser complicado
Ocultar-te no que vou escrevendo
Achando ser arriscado
Notarem sentido no que vão lendo
Apesar de não se aperceberem
Como vão sendo ludibriados
Acreditando poder entenderem,
Lendo os óbvios sentidos mostrados
Do que escrevo e não do que sinto,
Achando ser essa a única sensação
Saboreando apenas o que lhes minto
Seguem apenas a intuição
Atrás de um significado simples
Ganhas tu que descobres sempre mais,
Achavas tu ser complicado
Parecendo-te mesmo ser arriscado
Ocultar-te nestas andanças banais…

10 degraus até Dublin

Dublin ficará para sempre na memória dos Braguistas pela final da Liga Europa, contudo para
mim será mais especial por ter vivido de forma mais intensa e ter assistido in loco ao jogo mais
importante de sempre da História do meu Braga até à presente data. A possibilidade de ver
erguer naquele palco uma das mais importantes taças europeias a nível de futebol, fez-me
atirar de cabeça numa viagem onde não havia espaço para pensar duas vezes se seria uma boa
escolha ir. Poderá esta ser a única oportunidade que a vida me dá para assistir a tal momento,
onde o nome do Braga poderia ser levado aos quatro cantos do Mundo, fazendo com que esta
conquista se tornasse célebre pelo feito e lembrada pelo derrotar de vários Golias pelo mesmo
David, pelo mesmo clube humilde, pela mesma Legião, pelo bravo povo que se orgulha e ama
o Braga que é seu por direito, sendo o resultado a parte menos valorizada por tal amor,
positivo ou negativo, apenas importa a paixão com que os adeptos apoiam a equipa numa
caminhada que este ano nos trouxe das maiores alegrias possíveis e imaginárias ao contrário
das opiniões de quem não merece ser lembrado. Após este tempo ainda não sou capaz de
acreditar que estive lá. Nunca pensei poder ver e viver com tanta emoção uma final europeia.
É certo que não trouxe de lá a tão desejada Taça da Liga Europa, mas mesmo assim foi para
mim um sonho tornado realidade, pois nem no mais puro sonho de menino seria capaz de
imaginar possível que o meu clube, o meu Braga, atingisse tal feito entre tantos tubarões. Parti
com a incerteza do que poderia o meu Braga fazer com os olhos da Europa postos no jogo da
vida de cada valente Guerreiro. O meu frágil coração ameaçou parar assim que as equipas
perfilaram no relvado e a força de todos que trouxe na mala não parecia a suficiente para que
o coração voltasse a pôr em circulação o sangue que corre nas veias. A verdade é que uma
força maior se ergueu e lá aguentei firme todo o jogo, todos os sustos, a traição do central e o
levantar do troféu pelo adversário. Uma lágrima ameaçou cair e escorrer ao ver aquela equipa
abatida, destroçada mas que me continuou a encher de orgulho quando mostraram aos
presentes o troféu que alguma imprensa quis esconder do povo, porque mesmo os vencidos
têm direito a troféu, uma vez que para perder é preciso lá estar. Caímos, mas caímos de pé e
orgulhosos pois decerto nunca ninguém outrora imaginou que pudesse o Sporting Clube de
Braga estar tão perto desta Final para poder erguer o caneco. Confesso sem qualquer tipo de
vergonha que sonhei por diversas vezes ser possível levantar o Braga esta taça. Não se realizou
o sonho mas dá-me uma enorme vontade de gritar Amo-te Braga pela valentia e ousadia qual
Joana D’arc

1.5.11

Relâmpago

A sua luz flamejante cega-me e esconde-me a realidade de um mundo de sentimentos que não quero meu. Atinge ferozmente o ponto mais alto de um ego em auto-destruição sem timoneiro que o guie, sem vontade que lhe valha. Gerado lá do alto, em cotovelos afiados e contundentes, rasga a mais pura nuvem de algodão por um menino imaginada e desce em direcção ao alvo para lhe roubar a vida… se ele ainda a tiver. O ensurdecer do som que emite, faz-me vibrar todas as células de um corpo já sem forças para reagir aos estímulos da chuva que me encharca o corpo ao mesmo tempo que me põe em sentido e me faz respeitar o que me diz como se de uma reprimenda se tratasse. Os longos milissegundos em que me mostra toda a sua força e intensidade fazem-me querer que sejam horas de pura dor e prazer. A espera pelo próximo faz-se de braços abertos, olhos fechados, cara virada ao céu que me mistura as lágrimas com a água que dele brota, num respirar lento e sufocado pelo nó apertado na garganta. É recebido agora o último desta série, é feito um pedido em forma de grito não audível, mas sentido por quem direito “Porque não me acertas afinal?”

2.4.11

Ditado

- A lágrima que continua prisioneira do teu salgado olhar, fere-me como uma lâmina de gume afiado no peito. A comida não tem vontade de passar, o ar não tem vontade de entrar e o sangue continua a não querer brotar por esta ferida. Talvez já não tenha sangue, talvez a ti pertença também. Talvez o meu corpo em boa verdade já não o seja, talvez seja simplesmente teu e sejas tu quem coordenas os movimentos, emoções e elucidações desta pequena carcaça humana que se arrasta no passar dos dias. O nariz inala apenas o teu perfume e fareja apenas o cheiro que a ti pertence, doce, leve, que me transporta apaixonadamente para um lugar inalcançável onde apenas existes tu esperando por mim, para me acolheres em teus braços carinhosos como o conforto de um cobertor à lareira numa tarde chuvosa e fria de um qualquer domingo de inverno rigoroso. Teus olhos cristalinos, bloqueiam-me as palavras de se fazerem ouvir, presas na ponta de uma língua sedenta por sentir o mar de emoções emanado pelo teu beijo mágico. Não quero abusar de ti, nem que de mim fujas, apenas tenho vontade e força de querer suficientes, ao que julgo, para derrubar estas barreiras físicas, emocionais e imaginadas, criadas por ambas, e por um mundo real que nada percebe de sonhos, vontades e desejos. Triste é aquele que sabe o que é amar porque sofre… sofre com as duvidas e as questões dos outros, pois com as dele pode ele bem. Deixa-me voltar a sonhar contigo, alista-te no meu sonho onde serás a única candidata a papel principal. Não deixes arrefecer o fogo que queima e marca por dentro, alimenta-o, confia, sorri e torna todo este amontoado de letras um só e única verdade total… Amo-te!

 Era isto que querias dizer?
- Não…
- Mentiroso!

31.3.11

Não quero escrever mais



- Desaparece!
- Ora viva para ti também… ainda agora cheguei e já me mandas embora?
- Já estás aqui à tempo a mais. Desaparece!
- Porque choras?
- Não estou a chorar… Desaparece!
- Claro que não estás a chorar, isso é só suor a escorrer-te pela cara abaixo… Até está calor e tudo! E tu queres que eu desapareça para onde? Eu não existo, eu não estou aqui, não sou vivo nem morto, sou inspiração, sou criatividade, sou tu, nada mais. Se queres que eu desapareça faz por isso, deita-me fora, esquece que existo. Não precisas de mim para nada, a fama é tua, escreve o que te apetece, vá força. Tens essa folha branca à tua frente desde quando? Não consegues escrever uma palavra só? Não tens confiança?
- Sai daqui senão…
- Senão o quê? Bates-me? Expulsas-me? Tu nem sequer sabes se faço parte do teu lado consciente ou do teu lado inconsciente. Eu não tenho rosto, não tenho alma, não tenho nem sou nada.
- Quando mais precisei de ti abandonaste-me, deixaste-me pendurado e viraste-me as costas quando me entalaram entre a espada e a parede.
- Tu já és suficientemente crescidinho para resolveres os teus problemas. Não escreveste um livro por tua conta e risco? Pediste-me opinião, precisas-te de mim para alguma coisa?
- Sabes muito bem que não o escrevi sozinho, e sabes ainda melhor do que preciso.
- Só o saberei se me disseres, tal como não sei porque não fizeste o lançamento do livro, muitos te deram a ideia e pediram, te elogiaram…
- Eles não sabem nada… Como ia explicar que o nome impresso na contracapa não é o verdadeiro autor daqueles textos. Como ia explicar que te tenho dentro de mim? Eu nem sei quem tu és afinal…
- O Pessoa conseguiu…
- Mas eu não sou o Pessoa, e ele era maluco…
- E tu não és?
- Não…
- Como defines alguém que fala consigo mesmo como se fosse outra pessoa?
- Cala-te e desaparece de uma vez por todas, não quero escrever mais, chega, acabou-se o conto de fadas, eu não fui feito para isto, letras não é comigo, não tenho categoria…
- Para quem queres escrever?
- Para ela.
- Ama-la?
- Sim
- Então siga, escreve o que sentes, sê tu mesmo, mostra-lhe porque pensas nela a toda a hora.
- Não sei por onde começar, sai daqui Nemec, por favor, desaparece de uma vez por todas…
- Cala-te Rui, já não te posso ouvir, pega na caneta que vou começar a ditar…

1.3.11

Livro Nemec Thoughts



O blog que 4 anos e meio depois se tornou livro está agora à venda no site da editora Euedito em formato papel por 7,49€ e em formato digital (.pdf) por 1,27€

18.2.11

A um grande amor

Lembro-me da primeira vez
Que o meu pai me levou a ver-te
A idade não era ainda metade de dez.
Lembro-me do colorido, da alegria,
Da ilusão, da magia do ambiente
E do sorriso que levava a tua gente.
Que doce murmúrio me arrepiava corpo e mente.
Senti desde esse dia, que seria um amor diferente.
Aqui se vê a coragem, a entrega, a arte e o amor
Pelo símbolo que carregas ao peito sem pudor.
A estes adeptos só importa ver ganhar seus jogadores,
Mas se perdem com honra, defendendo as tuas cores,
Que suem a camisola, que entreguem seu coração
Que deixem em campo a pele e não têm de pedir perdão.
E todos os que se sentem desiludidos, ano após ano
Que juram não voltar a sofrer tanto e não voltar a ver-te
Na próxima época voltam à bancada para defender-te.
Porque o amor por ti não se controla, é soberano!
São estas palavras que me saem do coração,
Escritas a sangue do meu próprio corpo,
Que espero que acordem para a razão
O sentimento que muitos julgam morto.
Aquele sentimento com vontade de lutar
Contra quem no caminho se atravesse
Aquela enorme crença que os podemos derrotar,
Um sentimento assim não se esquece.
A quem não te quer, te odeia e te insulta,
Esta cruz carregará sempre:
A de ter de lutar contra a tua gente
Que te defenderá até à morte na luta.
É esse preço da tua glória.
E se tens sido Enorme na vitória,
Nas derrotas serás mais forte,
Porque da tua história não reza a sorte,
Apenas lágrimas, sangue e suor
Por adeptos, jogadores e dirigentes derramado
Desde Celtic, Sevilha e do Arsenal amado,
Às batalhas ganhas de menor valor.
Não conheço Braguista que vá por esse mundo sem te levar
Que não se sinta orgulhoso, que não sinta prazer ao te mostrar.
Ser campeão de Portugal, da Europa ou do Mundo,
Apenas nos irá fazer bem à vista
Porque não é esse o maior sentimento e orgulho,
Mas sim o de ser Braguista
Quando o meu dia chegar e Deus me quiser à sua beira
Dir-lhe-ei que não vou pró céu, porque o meu céu é na Pedreira
Que me deixe ficar com a minha gente
Com aqueles que nunca te faltaram
Com os que gritam presente!
Com os que sempre dão a cara e te protegem, te defendem,
Com os que sentem ferver o sangue e os que choram quando perdem,
Com os que vivem lutando e os que tombaram valentes,
Ao lado de grandes jogadores, ao lado de grandes presidentes
Com os que não se rendem e com sangue juraram te amar sempre…