15.7.10

Cinzas

Acabou-se o fogo e o fulgor
Daquele estranho sentimento
A que teimam chamar de amor
E que traz no seu seguimento
Nada mais que sofrimento e dor.
Já cá não mora o ardor
Que me acalentou noutras alturas,
Em fraquezas agora mais maduras,
Mas já nada tem o mesmo sabor.
É salgado agora o trago
E o que antes fora preenchido
Esta agora oco, vago,
Nada mais que desvanecido,
Tal e qual a luz da Lua
Que não mais me alumia
Nesta triste e negra rua
Onde nem o sol bate de dia
E não se consegue ver o fundo
Ou vislumbrar uma saída
Que me volte a devolver o Mundo
E a vontade de lutar por esta vida...

4.7.10

Brasas

Seremos apenas pequenas brasas,
Vermelhas, incandescentes,
Nacos de carvão preto
Fumegantes, quentes,
Que não deixam arder de paixão
E com água nos abafam
Atirando para o caixão
Todo aquele sentimento
De quem sofre do mal do coração
E não consegue ter discernimento
Suficiente para desvendar o segredo,
Bem guardado e codificado,
De como se ama sem medo
De deixar um coração danificado?
Serei apenas uma pequena brasa
Do que resta da enorme fogueira
Tentando voltar a ficar inteira
Eliminar tudo o que me atrasa
E levar-te comigo para casa?
Ter-te para sempre à minha beira
Debaixo da minha asa.
Porque não pode isso ser verdade?
Porque não te posso eu ter?
E ser obrigado a enfrentar com crueldade
Que apenas uma brasa posso ser,
Ainda que prestes a apagar,
Pelo peito ter a soluçar...