23.1.11

Dói? Sim dói...

Já nem a música que me faz vibrar o rasgado tímpano me sossega, já nem os gritos de alguém que canta a tempestade me fazem abstrair e desbloquear uma mente presa na sua própria armadilha. Não me apetece rimar, talvez o jeito tenha ficado preso na neve do outro lado dos Alpes. Tenho saudades de ser só eu, o mesmo de sempre a alimentar as minhas ideias e os meus sonhos como se fossem bebés famintos por um delicioso biberão de leite. Quem me dera voltar a ser bebé, voltar ao tempo em que todos os problemas se resolviam no colo dos pais, ou numa noite dormida entre ambos. Voltar ao tempo em que não tinha consciência, onde não era massacrado com perguntas sem fim, se chamarmos resposta ao fim. Porque pensei que era capaz de ajudar se na verdade estava era a forçar? Dói-me saber que nada posso fazer para apagar a memória, nada posso fazer para te voltar a prometer um jardim florido, com rosas, malmequeres e cravos que florescem mesmo no inverno, dói-me querer fazer tudo tão bem e não perceber que o caminho não é esse. Preciso abrandar o carro em excesso de velocidade, preciso mentalizar-me que tenho de ter mais calma, preciso falar menos e agir mais, mostrar o lado bom de um dia negro, o calor de um abraço, o ritmo cardíaco de um beijo, preso nos lábios de alguém que coloquei numa redoma para que não  magoe mais do que a mim…

15.1.11

Lágrima

Não me foge o sorriso
Por estar preso ao meu pulso
Apesar de ter sofrido um impulso
Sem qualquer tipo de aviso
Que o queria enviar para longe
E cerrar num convento, qual monge,
Substituí-lo por uma gota
Gorda e salgada como o mar,
Que ameaça se soltar
E de um enfraquecimento me dota
Que me faz temer o amanhã,
Me impede de pensar futuro
Pois não sei se duro até lá
E se sobrevivo à queda do muro
Que me serve de suporte,
Não me deixa desabar
Em direcção à certa morte,
Se nesta linha não me equilibrar.
Sento-me sobre ele
Na tentação de me largar,
Na esperança de apagar
As marcas deixadas não na pele
Mas cravadas no peito
Por ferros que nos fazem sofrer
E por vezes desejar ser o eleito
De quem escolhe quem deve morrer.
Molha-me a face, e não a seco,
Deixo-a cair por onde calha
Pois não sou santo, também peco
E não há perdão que me valha…

13.1.11

Sem igual

De te descrever parei de tentar,
A quem pergunta porque sorrio afinal.
Digo só que o sentimento é como o mar
Enorme, apaixonante, mas sem o sabor a sal.
Aquele sal que escorre pela face
Que nenhum de nós saboreou
Não existe, fizeste com que secasse
A fonte que antes brotou.
A tua mão trouxe-me o conforto
Em suaves carícias que me dão.
No teu peito encontrei o porto
Que serve de abrigo a um coração
Eternamente derretido
Pelo calor do teu abraço,
Pelo carinho garantido,
Por me teres guardado um espaço
Nesse mundo onde és Rainha,
De um reino a cores pintado,
Onde sonhei que serias minha
E que esse sonho seria realizado.
Dos teus lábios deixa-me sentir o mel
Que me adoça o paladar,
Dos meus sairão palavras sem fel
Pois sou feliz só por te amar…