15.12.10

Recado


Pudesse eu não te sentir doer
Sem significar que não existisses,
Pudesse eu a tua dor sofrer
Para que bem tu te sentisses.
Não seria mais pobre do que sou
Nem ficaria a minha alma mais ferida
Por não sair do sitio onde estou
Mesmo que no chão esteja escrito partida.
Não tenho vontade de voltar a correr
Nas veias da vida que me sustém,
De sangue já me fartei ser
Por não ser derramado por ninguém.
Só te peço que pares de me bombear
E me deixes ficar aqui, quieto,
As minhas mágoas a soluçar
Sem ter de sentir qualquer afecto.
Deixa-me ficar com o que te mói,
Deixa-me sofrer por ti,
Para poderes dizer que já não dói,
A lágrima que cair não vi.
Reduz-me à insignificância que tenho
Desdenha-me até te sentires leve,
Culpa-me pela falta de empenho
Do recado que esta mão escreve…