20.2.08

Acorda-me quando chegares XV


Algo me chama por dentro, algo me causa surdez e me deixa ouvir apenas o pensamento, olho mas nada é o que vejo, apenas imagens espaçadas em forma de filme me são cravadas na frente, não consigo mexer o meu corpo gélido com os músculos tesos. Deixo-me ir sem saber onde isto me vai levar. Recordo de repente uma viagem, em tarde solarenga até a Galiza, outra ainda sempre junto ao rio até uma das maiores represas de água do pais, lembro palavras ditas a medo, gestos interrompidos pela vergonha que me invadia, frio na barriga pelo medo, e raiva por não ser capaz de realizar o que apenas idealizava. Tempos mentalmente difíceis se foram criando até que, chegada uma segunda feira, vespra de Carnaval, numa noite enfeitiçada pela lua, aromatizada pelo mar e cheia de sentimentos e emoções que me aceleravam o coração, finalmente consegui, consegui dizer e fazer o que a penas a minha mente tinha definido, até então, como possível. O primeiro beijo, a primeira prova de amor, as primeiras marcas na memória, o pedido oficial… Tudo começou aí, num cenário que eu desejaria perfeito tal e qual o momento. Mergulhamos ambos nesta vida que passou a ser partilhada e em que deixámos de pensar apenas a uma cabeça para encontrarmos o senso comum que satisfaça ambas as mentes, um mundo cheio de coisas novas, onde aprendemos a valorizar o que até então nem sabia-mos que existia. Muitos dias passaram desde o começo, muitos desacordos houveram, chatices, lágrimas, mas houveram muito mais sorrisos, beijos, abraços, mimos, carinhos, surpresas, as conversas deixaram de ser tímidas e passaram a ser úteis, os beijos passaram de envergonhados a sentidos, ambos ganhámos força e apoio mutuo, lutámos juntos, vencemos juntos, perdemos juntos! Sem nos apercebermos bem o tempo foi dando conta de si, foi passando, por vezes arrastando-se, outras vagueando, outras ainda voando, e quando demos conta tinha-mos ambos um adereço no anelar direito com o nosso nome gravado e uma data, a data do dia de Carnaval de 2007. Faz precisamente hoje um ano que roeste o pau do chupa que te ofereci e que religiosamente ainda guardas, à exactamente um ano atrás era terça feira, dia de Carnaval, dia que eu quero recordar e festejar por muitos e longos anos a teu lado porque faz hoje um ano que tu chegaste, que me acordaste e que abri os olhos e te beijei, te disse que te amava e que queria ficar contigo… Obrigado por me fazeres feliz!

16.2.08

Flores...


Flores! Mundos de perfumes rodeados de pétalas e agarrados ao chão por um só pé, crescem com a crença de que um dia irão chegar ao azul do céu onde se passeia o sol brilhante que incessantemente as alimenta, mas nunca o conseguem. São variadas, quer em cores, formas, numero de pétalas, odores, simbolismos, mas acima de tudo são bonitas, e acabam sempre por colocar um sorriso na cara de quem as recebe. Como mostra de o amor sentido pela cara metade, são oferecidos ramos de flores. Uns pequenos, uns grandes, outros ainda como uma simples rosa, no dia dos namorados deve ser a prenda mais procurada. E tal como eu, muitos outros homens acorreram às florista para comprar um raminho para o seu par. Até aqui tudo normal, mas como não é muito vulgar um homem passear-se na rua com flores na mão, é alvo dos olhares alheios, e neste dia é ver todos os homens, novos, velhos, grandes, pequenos, que andam com flores na mão com um ar envergonhado na esperança de não ser visto por nenhum conhecido! Todos a olhar o vazio que não existe em passo acelerado, que se mais devagar fosse e se lhe conseguisse-mos ler o pensamento decifraríamos “Está tudo a olhar para mim” e “Porque é que os ramos não se podem embrulhar? Assim ninguém via…”. Depois de ter eu passado por isso, e enquanto me deixava conduzir até ao emprego reparei na quantidade de pessoas que carregavam um ramo, e tinham os mesmos sintomas que eu… Sorri na altura, pois apercebi-me que isto são simplesmente bichos na nossa cabeça, pois na cabeça dos outros, na exacta altura que reparam em nós, não têm chacota na cabeça, mas sim inveja porque pensam “só a mim é que não me dão flores”!
Depois desta constatação apenas me resta dizer que oferecer flores é um gesto bonito, quem as recebe agradece e recebe também a felicidade que elas carregam. Não é preciso haver um motivo para oferecer flores, não se oferece só a quem está no hospital, nem só nos anos, nem só no dia dos namorados. Todos os dias são bons para oferecer flores, basta ter uma florista à mão e uma pessoa a quem dar flores… Se é um sorriso que queres receber, tens aqui a receita!

14.2.08

Acorda-me quando chegares XIV


Por entre o nevoeiro
Dos dias atarefados vi-te chegar.
Foste aos poucos entrando,
Na vida que guardava por inteiro.
Era cada vez mais angustiante a espera
Pelo reencontro certo que tardava,
E cada vez mais difícil o adeus
Que por poucas horas me matava!
Morte não perpetua,
Deste corpo insano,
Mas morte da alma,
Que pela dor, ia fraquejando.
Repousava forçosamente
Num sono quase eterno,
Desperto apenas pelo tom de voz
Calmo e sereno
De um anjo que me deu a beber
O seu mais fatal veneno.
Veneno poderoso em que me viciei
Parar de tomá-lo torna-se impossível!
Por um anjo alado me apaixonei,
Ainda que seja pouco credível.
E hoje, perante estes
Que desejava serem trinta mil
Secretamente te sussurro
Leve e de mansinho
O que a minha alma grita
Desesperadamente
Cá dentro
Com medo que tu não oiças
Encosto a boca tremula
Ao teu ouvido delicado
E por breves momentos esqueço tudo
Até mesmo que existo
Apenas me lembro e sinto
O que os meus lábios acabaram de dizer
Palavra pequena e de enorme significado
Que demostra toda a insanidade que me compõe
Devagar, com carinho e ternura
Solto um Amo-te
E um sorriso
Por saber que também o disseste...

12.2.08

Pertences-me? Pertenço-te?


Tu não mandas no teu corpo, não podes dizer que é teu, que fazes dele o que quiseres! Ele é que te controla, por isso não o contraries, não o tentes mudar só porque não gostas de ver o reflexo que te devolve o espelho, tu simplesmente vives dentro dele, como se de uma armadura utilizada na cruzada de todos os dias se tratasse. Enquanto lês tamanho devaneio. coloca a mão direita sobre o peito e sente, sente o bater do coração, tenta pará-lo, tenta variar o ritmo dos batimentos… Não consegues pois não? Logo não és dono dele. Não deixes os pulmões consumir o ar que te rodeia, impede as unhas de crescer e o cabelo de desviar a ponta cada vez mais da raiz, não salives, e no caso de salivares não engulas a saliva e sem pestanejar não sues com o calor, impede o corpo de se arrepiar sempre que alguém te sussurra com ternura ao ouvido “amo-te” ou quando te lembras da tua equipa marcar um golo importante em que pareces ainda ouvir todo o público festejar e gritar até as forças fraquejarem… Conseguiste? Bem me parecia, este é apenas um pequeno rol de situações em que tu não tens qualquer tipo de controlo sobre o corpo, como estas existem muitas mais, basta imaginares a digestão por exemplo e todos os seus complexos processos a que chamamos involuntários por não os controlarmos, ou então todas as paixões que não sabes como nem porque as tens, mas que sentes. A imagem que te devolve o espelho sempre que te colocas em frente a ele não te pertence, tu é que lhe pertences, por isso não desejes ser diferente, aprende a gostar de ti, a ver o que tens de bom, a ter autoconfiança e auto estima e lembra-te que só o teu corpo tem direito de te modificar a ti e não tu a ele…

4.2.08

Porque não brilhas (tanto)?


Não! Hoje não consigo escrever coisa nenhuma… Talvez não seja só hoje! Começa a ser irritante a falta de argumentos, palavras, expressões. Falta de ideias para começar e acabar frases, falta de claridade nas ideias transcritas, dificuldade em transpor para palavras aquilo que sinto… Assim não vale a pena escrever… Já não tenho o mesmo à vontade que anteriormente demonstrava, naquelas noites gélidas de Inverno em que eu me penitenciava na varanda, olhando o céu por vezes encoberto, pensando nas minhas mágoas e transcrevendo-as para o papel tal e qual elas estavam atravessadas na garganta ou cravadas a ferros no coração. Era fácil, muito fácil mesmo… Eu próprio estranhava o brilho que tinha essa estrela dentro de mim. A estrela que me ajudava a escrever, que me oferecia uma interminável lista de palavras, maneiras e variedades, para descrever fosse o que fosse. Está a diminuir o brilho, o brilho da estrela que ajudou a escrever alguns textos para o jornal, o brilho que me vem ajudando a adicionar um número de cada vez na “saga” «Acorda-me quando chegares» (e tão longa ela já vai) o mesmo brilho que me criou a ilusão de que eu era capaz de escrever um livro, ilusão essa que me fez começar uma estória que nunca passou disso, de um começo. Sete paginas escritas já sem a intensa luz que outrora brilhara. Podia continuá-la ainda assim, mas lendo o que escrevi sinto que é fraco e nem vale muito a pena fazer alguém perder tempo em ler tal amontoado de letras e frases sem a qualidade que era pretendida! Esta baixa luminescência reflecte-se nas actualizações aqui no blog, cada vez menos periódicas… Talvez esteja a ficar velha a luz, talvez tenham acabado as pilhas, talvez seja apenas um momento menos bom em que a luz esteja a fraquejar, talvez o melhor seja esperar… É isso que vou fazer, não vou deitar fora as sete páginas, não vou deixar de escrever, vou antes pelo contrário tentar escrever mais, mesmo sem a mesma qualidade, mesmo sem o mesmo sentimento e valor mas vou escrever, porque acho que o que a luz sente é tristeza, tristeza por eu nem tentar sequer, tristeza por parecer desistir, por isso vou escrever o máximo possível até que a estrela me volte a preencher, me volte a iluminar, me ajude a gravar no papel aquilo que na alma foi estampado!
Pode parecer estranha a musica que coloquei aqui em baixo, apesar de ter o seu sublime sabor a tristeza, sinto que no meio de tanta angustia, revolta e mistura dos mais variados sentimentos ela me faz sentir bem, me faz relaxar, acalmar, e me leva para bem longe de tudo, num sitio onde não existe tempo, dor, sofrimento, preocupações, não existe nada a não ser paz, paz interior e sossego da mente. Foi ao som dela que este texto se codificou. É difícil, senão mesmo impossível, explicar o porquê desta música me tocar ao de leve, pôr uma lágrima marota ao canto do olho e uma fome insaciável de um abraço bem forte….

Vangelis - Missing