27.12.09

Ignorado


Não me sai o grito
Amordaçado pelas cordas vocais.
Ao pensamento então suplico
Que me liberte a raiva e outros que tais
Em vez desta água salgada
Que mantém a face molhada,
Me desfoca a visão e cai lentamente,
Secando na folha onde escrevo
E marcando-a eternamente.
Não desvio o seu caminho
E deixo-a percorrer o seu leito
Imaginando que é um carinho
De alguém que guardo no peito,
Tentado não me sentir sozinho.
Vivo sem vontade que chegue o amanhã
E de tirar a mão que me apoia a cabeça
Sobre um cotovelo cansado de me ouvir,
Não me vai responder, mesmo que peça.
Levanto a cabeça e não tenho nada a dizer,
Sinto-me cansado de tentar viver
Neste mundo cada vez mais real,
Olho o espelho e que vejo afinal?
Quero mudar tudo aquilo que sou.
Talvez exista um lugar certo para cada um,
E o meu é certamente onde nunca estou.
Será que existe mesmo lugar algum?
Terei eu noção de para onde vou?
Tenho nada mais do que cansaço
De um livro continuar a escrever
Que afinal só retrata um fracasso
De alguém que nem sequer sabe viver...

14.12.09

O meu jornal desportivo II


Braga-Naval

«Nem a força Naval os tira da liderança»


São já treze as jornadas da liga de futebol 09/10 e não se conhece outro líder a não ser o Sporting Clube de Braga. Tal como publicado no site oficial do clube “Não é sorte... é talento”. Desta vez foi a Naval 1º Maio a não conseguir vencer os Gverreiros do Minho, que perante a sua legião de 10 000 almas que resistiram a temperaturas gélidas (o fervor Braguista aqueceu-os durante o jogo), lutou durante todo o encontro contra o anti-jogo, a passividade e serenidade do árbitro Rui Costa perante as atitudes de falta de vontade de jogar futebol por parte da equipa visitante, e também contra a Naval, que apesar de só defender, também lá estava em campo, melhor meio campo! Perante uma equipa que viajou de tão longe em busca de um precioso pontinho, os Arsenalistas entraram com toda a força e decididos a mostrar quem manda em Braga. Foi o que demonstrou Moisés, após canto na esquerda e alguma confusão na área, a bola sobrou para o central que em cima da linha limite da grande-área rematou com potência a rasar a barra. Um tiro que acertou na água mas que assustou a frota toda. Meyong também tentou a sorte após cruzamento rasteiro de Alan mas a bola saiu ao lado baliza da Naval. Augusto Inácio, que viu a primeira parte ser jogada ao longe, apercebeu-se do perigo em que estava a sua armada e decidiu defendê-la com unhas e dentes. Incutiu isso nos seus pupilos, que acataram as ordens e limitaram-se a defender até ao intervalo. Com a chegada da 2ª parte apenas mudou o meio terreno onde mais tempo estava a bola, ora atacava o Braga, ora aliviava a bola a Naval. Meyong voltou a assustar com um cabeceamento a passar ao lado poste após cruzamento de Hugo Viana. Intensificou-se a pressão ofensiva do Braga e aumentou o número de cantos e pontapés de baliza para a Naval. Pontapés de baliza que eram sempre colocados no seu jogador mais alto, Baradji, que cabeceava ora para um jogador do Braga, ora para outro jogador do Braga. Pouco depois Matheus cabeceia a bola na área mas esta vai de encontro com Peiser. Cheirava a golo na Pedreira, e Rui Costa como tem nariz também cheirou e decidiu meter o dedinho onde não devia. Decidiu-se então por marcar faltas de jeito e equilíbrio dos jogadores da Naval e por não fazer cumprir as leis do jogo sendo bastante complacente com o anti-jogo praticado pelos figueirenses. De destacar ainda dois remates de Matheus que cara a cara com Peiser enviou uma bola por cima da trave e outra acertou no guarda-redes. Mais pontaria tiveram os figueirenses que aos 93 minutos lá conseguiram efectuar o primeiro remate que acertou na barra. Acabou o jogo com o mesmo resultado que tinha começado muito por culpa de Augusto Inácio, o único homem carta de pesados para retirar o autocarro da frente da baliza decidiu deixar-se ficar pelo banco de suplentes... estava frio! E se outros podem ser tendenciosos porque não posso ser eu?

10.12.09

Feridas


Sento-me num canto
Enquanto vejo quem passa,
Enquanto seguro o meu pranto,
Fogem-me lágrimas que a mão disfarça
Por não encontrar em viver
A mais pequena ponta de graça.
Os que passam deixaram de ter dó,
Eu apercebo-me afinal que estou só.
Só num mundo que me abre feridas,
Tento carregar os meus fardos
E atravesso o leito de uma vida
Que me vai penando com cardos.
Deixei de perguntar porquê
E pergunto agora, para quê?
Para quê mostrar boa cara
Se a ferida aberta dói e não pára?
Para quê continuar a sorrir
Se na verdade só me apetece desistir?
Ainda sinto as picadas, espinho por espinho
Continuo a alterar o destino do meu caminho.
Uma senda teimosa que só me leva
Onde existe apenas a solidão,
E lá do fundo a escuridão se eleva.
De nada adianta pedir perdão,
Mais um espinho será espetado
Outro prego será cravado
Nas tábuas do meu caixão...

6.12.09

O meu jornal desportivo I


Se há coisa que me revolta é ler jornais desportivos. Não compro nenhum porque pagar duas ou três moedas para ler meia ou ¾ de página de mentiras, pressões e presunções acho um desperdício... de papel! Como tal sei por terceiros as notícias vergonhosas que vão sendo publicadas por jornalistas de pouca credibilidade. Não sendo eu jornalista e não tendo qualquer credibilidade resolvi criar o meu espaço noticioso aqui no superbraga. Não me importa se as noticias que eu vou escrever são falsas ou verdadeiras, mas vou falar só do Sporting de Braga e vou puxar a brasa sempre à minha sardinha. Não precisa de ter nome, basta chamar-se “O meu jornal desportivo”, se os outros podem escrever as mentiras que bem lhes apetece, porque não posso eu também escrever?


Leixões – Braga


«Empate injusto no lamaçal serve para manter liderança»


Noite de sábado invadida por uma tempestade que durante todo o dia se abateu sobre o Estádio do Mar. A deficiente drenagem do relvado aliada à má qualidade da relva (já com remendos visíveis em alguns pontos) tornava a casa do Leixões sem condições para a prática do futebol. Assim não o entendeu o árbitro Leiriense Olegário Benquerença, nem a Liga de clubes, que curiosamente decidiu adiar o jogo Oliveirense – Fátima pela mesma questão.
Com o Braga instalado no meio campo Leixonense apenas em contra-ataque o Leixões conseguia acercar-se da baliza Arsenalista, mas sempre sem perigo. João Pereira teve oportunidade de inaugurar o marcador após uma boa combinação com Madrid, que lançando a bola por cima dos defensores contrários deixou João Pereira em boa posição para marcar, mas o remate saiu um pouco ao lado. O mesmo João Pereira aos 19 minutos viu o árbitro erguer o cartão amarelo por ter proferido pela primeira vez no jogo palavras que terão ferido a susceptibilidade do árbitro do encontro. Um amarelo que foi demais até porque nem tinha sido o número 47 a fazer a falta. O golo do Leixões nasceu de um pontapé para a frente (táctica utilizada durante todo o jogo) que obrigou Moisés a fazer um atraso para o guarda-redes, que devido ao estado impraticável do relvado desviou a bola do guardião da Selecção Nacional e se encarregou de a encaminhar para o fundo da baliza. Não merecia o Braga pelo jogo que estava a fazer, não merecia o Leixões pelo jogo que não estava a fazer e nem merecia a legião de 500 Gverreiros que apesar da chuva intensa se deslocaram a Leixões para ver o jogo. Com a equipa da casa a jogar ainda mais à defesa e a fazer anti-jogo constante, poucos lances de perigo houveram até ao final da primeira parte. Apenas uma equipa procurou o golo ate a recolha aos balneários. A segunda parte trouxe duas mexidas no onze do Braga, saíram Madrid e Meyong, entraram Hugo Viana e Matheus, o brasileiro que curiosamente teve uma soberana oportunidade de igualar o marcador, mas sem o guarda-redes entre os postes tentou picar a bola sobre os defesas, e esta acabou por sair ao lado. Antes disso destaque para a expulsão de Braga por acumulação de amarelos e por ter feito falta sobre o jogador do Braga por trás, e quando este já não tinha a bola em seu poder. Decidiu bem Olegário mas apesar de todo o alarido criado pelos jogadores da casa nenhum foi admoestado com o cartão amarelo, ao contrário de João Pereira, dualidade de critérios demonstrada pela equipa de arbitragem. Reduzida a dez elementos a equipa do Leixões limitou-se a defender com unhas e dentes e a colocar a bola o mais longe possível da sua baliza, isso foi bem notório pelos 8 pontapés de baliza marcados pelo defesa Laranjeiro, em que colocava a bola sempre na esquerda do seu ataque onde curiosamente apenas se encontrava João Pereira. Já na recta final do encontro o árbitro demonstrou que tem boa audição (ou então não) ao expulsar do banco o treinador Domingos Paciência por ter proferido algo ofensivo que o árbitro ouviu... no meio do campo! De nada serviu a tentativa de Olegário em destabilizar os minhotos que poucos momentos depois empataram por Alan, fazendo rejubilar os adeptos da capital do Minho que se mantiveram de pedra e cal nas bancadas frias e descobertas do Estádio do Mar. Até ao fim o Braga não consegui colocar justiça no resultado, que premiou com um empate uma equipa que nada fez para marcar um golo, e se refugiou no anti-jogo e pontapé para frente. Merecia outro resultado o Braga, mas ainda assim continua isolado no primeiro lugar da Liga e a depender só de si para se manter lá. E se outros podem ser tendenciosos porque não posso ser eu?

29.11.09

Outro 29 de Novembro




Não me lembro dos primeiros que vivi, por ser pequeno e não perceber que os dias eram diferentes, achava que nenhum deles era diferente no significado. Aos poucos lá me fui apercebendo que havia um dia que eu iria gostar mais que os outros, um dia que iria ter um carinho especial. Comecei a aperceber-me que nesse dia se fazia uma pequena festa, e que, ao contrário do Natal, apenas eu recebia presentes. Decorei essa data e por ser um dia em que me sentia feliz, comecei a ansiá-lo. Não me lembrava muito dele até ao início de Novembro, e aí começava uma contagem decrescente pelo penúltimo dia do mês, o dia da euforia, o dia em que da aurora ao crepúsculo eu estampava um sorriso na cara que me saia com a maior naturalidade e simplicidade do mundo. Com o passar dos anos essa ânsia começou a demorar menos tempo, porque a contagem decrescente foi reduzindo o número de dias a contar. Notei isso este ano, foi diferente esta espera. Não sei ao certo a que razão atribuir, mas no fundo encontro várias razões para a falta de ânsia e de lembrança. Durante este mês que amanhã acaba, não me lembrei do dia 29, não me lembrei de contar os dias que faltavam, não me lembrei de querer vê-lo chegar, não me lembrei de sentir a ânsia, mas não me esqueci que fazia anos. A todos os que se lembraram de mim, muito obrigado, e fica aqui uma musica de alguém que vai actuar na minha festa de anos logo à noite algures em Lisboa. A última parte como é lógico sou eu a regar...






17.11.09

Carta para a vida II


E se eu quiser desistir?
Rir-me até não poder mais na tua cara
E depois deixar-me simplesmente ir,
Até à linha que separa
O dia de hoje dos restantes dias.
O que farias?
E se eu quiser partir?
Sacrificar o resto que falta de te viver?
Deixa-me escolher seguir
Mesmo que não signifique me mover.
Disseste que ias acabar,
Estás à espera de quê?
Não vou fugir, nem me vou acobardar
Demoras tanto a fazê-lo porquê?
Tentei ser alguém diferente
Mas nada mudou interiormente,
Finalmente encontrei-me a mim
E afinal sou mesmo assim.
Espero só pelo teu fim.
Vem, estou à espera, deserda-me!
Vem, sem medos, enterra-me!

12.11.09

Voltei a ver-te


Voltei a ver-te
A mesma cara, diferente o corpo
Sei que não poderei ter-te
Mas no fundo gostei daquele sopro
Pequena corrente bafejada
De uma cara lembrada,
Uma lágrima que quer sair,
E uma mão pronta a impedir.
No pensamento tento decifrar,
Se será verdade ou imaginação.
Deixaram-te voltar?
Acelera-se o coração,
Mas foca-se a visão,
E vejo agora com clareza.
Que tamanha decepção
Quando tive a certeza
Que não era o teu rosto,
Que afinal não ia ter-te,
Que são distantes os nossos mundos
Mas mesmo assim voltei a ver-te
Ainda que por 2 segundos...

8.11.09

Insónia


Acordo gelado de um sonho,
Sento-me na cama enquanto penso
Sobre algo que tem agora senso.
Passo despercebido de manhã à noite
E já não resta nada que me afoite,
Levaram-me a alma, levaram-me o coração,
Agora apenas estou, sem qualquer suposição,
Não mais do que vivo,
Enquanto mal sobrevivo,
Numa palavra sou um... esquecido.
Ofuscado pela luz do meu calabouço
Onde existe escuridão e um sorriso evadido,
Murmuro um silêncio, e agora
Já nem quando penso alto me ouço...
Não sairão mais palavras da minha boca
Criadas por esta mente oca,
Que apenas consigo fala
E todos os prenúncios de voz cala.
É como se vivesse alguém dentro de mim,
Alguém que me acorda quando fecho os olhos,
Alguém que sabe quando será o meu fim
Como se me descobrisse sempre que minto
E me ridicularizasse se já não nem sinto.
Sei que estou a ficar paranóico,
E que não sou mais que um acanhado.
Nunca serei capaz de um acto heróico
Que me liberte deste tornado
Que há muito me habita a mente
E me baralha o que antes era desejado
E agora tão de repente
É um tumulto de poeiras despejado.
Sujidade de um cérebro poluído
De pequenos sonhos e objectivos,
Nenhum deles foi concluído,
E acabaram-me os incentivos.
Não quero mais mentir
E mostrar quem não sou,
Quero apenas de mim fugir
Mas não tenho para onde ir,
A solidão tudo me roubou...

25.10.09

O meu lado do futebol


Muito se tem falado sobre a quantidade de Braguistas que vivem na nossa cidade, mas hoje peço-vos um “exercício” diferente, e pensem na quantidade de Braguistas que saem da nossa cidade em dias frios, abrasadores, de chuva, de sol, de neve, de dia, de noite, percorrem quilómetros e quilómetros e fazem sacrifícios, tudo para ver 90 minutos do jogo do seu clube amado. Peço-vos que pensem no meu lado do futebol, porque lá encontram estórias e histórias que ficaram gravadas, memórias de golos, de bolas no poste, de penalties falhados, de jogadas fantásticas e de erros que deitaram tudo a perder, de emoções contidas e explodidas, de amigos que se fazem, uns que se mantêm outros que ficam para trás. O meu lado do futebol é o lado que alimenta tudo o que é jogado, que paga os ordenados, que idolatra os que entram em campo, que chora por eles, que bate palmas se perde, que canta e explode de alegria ou de raiva a cada golo, que custa a adormecer e acorda triste no dia seguinte às derrotas, que não dorme para ir esperar a equipa ao aeroporto, em troca de sorrisos e obrigados dos que chegam. O meu lado do futebol é o que falta às aulas e arranja desculpas no emprego, que põe de lado a família porque joga o Braga, e quando a namorada lhe pergunta se gosta mais dela ou do Braga, ele responde sinceramente que antes de gostar dela, já amava o Braga. O meu lado do futebol é o que se sacrifica e recusa festas e noitadas para poupar dinheiro para ir ver o Braga jogar fora, entra por um caminho que o vicia, e não tem retorno, é onde se gosta do jogo puro, sem truques, limpo e corrido, e que se abraça ao desconhecido a seu lado, mas que na celebração do golo são como conhecidos de longa data. O meu lado do futebol percorre quilómetros de estrada, e passa noites sem dormir, justificando as pequenas loucuras a quem pergunta com um simples “É pelo Braga”. O meu lado do futebol é aquele que a comunicação social quer abafar e mostrar que não existe, são os apelidados de fanáticos e doentes, e se me dizem que à frente do Braga coloco só a saúde pergunto “Como, se quando estou doente vou ver o Braga na mesma?”, e se dizem que sou doido por pensar assim, respondo apenas que somos o lado bom do futebol não jogado dentro de campo, o lado não corrupto, não financeiro, não televisivo, o lado da essência, o lado puro, o lado que não se vê, que se sente, o lado que só aqueles que entendem estas minhas palavras sentem, sentiram e querem continuar a sentir... Eis o nosso lado do futebol... Eis os Gverreiros do Minho... Eis os Braguistas!

19.10.09

Duas flores, uma pedra e um monólogo


Deixei que toda a cidade recolhesse, cada qual num aconchego que pode, e sai do meu. Fartei-me de ver paredes pintadas de branco a toda volta e de pensamentos negros que criavam um mundo a duas cores. Em passos curtos e lentos, olhando o chão como quem procura o que sabe que não vai encontrar, deixei que me guiasse o inconsciente para onde lhe tinha pedido. Voltei a sentar-me na mesma pedra de pernas cruzadas à chinês, como se me quisesse sentir uma criança que nunca quis deixar de ser. Preguei o olhar no luar distante, deixei-me embalar pelo vento que aos poucos me apaga à chama que me aquece por dentro, e tentei não pensar em nada. Não quis incomodar as flores que me rodeiam com conversas de fazer correr lágrimas, nem quis disfarçar com um mentiroso sorriso a tristeza que mesmo sem a querer, guardo. Há muito que tinha sentido que não estava só, mas não tive força nem coragem para esboçar a mais pequena palavra. Elas aperceberam-se e deixaram-se simplesmente ficar ali a meu lado, como quem sofre a dor dos outros para a tentar serenar. Deixei-me aproveitar o momento que tão bem me estava a fazer, e aos poucos lá fui abrindo a boca, dando voz ao que a mente bordava num monólogo que ia desenrolando o novelo. “É nos pequenos gestos que me vou apoiando, a falta deles nos últimos tempos fez-me dar uma importância ainda mais elevada, a uma simples palavra, a um simples olá, a um sentido obrigado, e a cada gesto desses é plantado um estímulo que me vai acelerando o bombeador de sangue e me vai mantendo de olhos abertos. Se há quem me ache parvo por agradecer os simples gestos do dia-a-dia, eu acho-os parvos por nunca terem sentido falta de quem os diga. Não peço que me enxuguem as lágrimas se as virem cair, nem que me atrelem só porque sim, apenas quero voltar a sorrir por viver, voltar a habituar-me e relembrar como é ter amigos, voltar a distinguir os sentimentos que se atropelam todos os dias cá dentro e não voltar a dizer coisas que magoam os ouvidos e a alma que as palavras atingem. Quero só saber o que sinto, e não quero mais sentir a ansiedade nem o desespero de cada vez que me confundo por não saber mais... Quero apenas continuar a mimar-vos e a ajudar-vos, só porque me sinto bem, não preciso receber nada em troca, porque é assim que me sinto feliz, a cuidar de vocês sem me querer fazer passar por vosso parente chegado, quero continuar a fazer de tudo para que não vos derrube o Outono e para que o Inverno não vos magoe, e quero que se um dia tiverem de se afastar de mim, que não vos roa a consciência e que sigam em frente com toda força do Mundo, porque no meu pensamento e no peito ficarão sempre guardadas. E se alguém vos perguntar o que vos disse, respondam que foram oito letras em três palavras, e se estou a pedir muito então quero só que me deixem voltar a sentar nesta mesma pedra e relembrar os dias em que cá estavam duas flores...”

15.10.09

Nuvens negras


Acredito que estou a ficar doido,
Pelas nuvens negras que perseguem.
Sinto a alma e o corpo dorido
Além de me achar doido varrido
Por continuar à espera que cheguem
O brilhar que ainda me seduz e
Os dias em que brilhará a luz.
Dela procuro sinais
Mas raramente os vejo,
São já dias e noites a mais
Em busca do que ainda almejo.
Regresso por isso ao meu abrigo
Onde há só a solidão como amigo,
Estou a perder a força e a crença nisto
Mas ainda assim insisto,
As lágrimas escorrem como chuva,
E a dor é sentida como raios, mas não desisto
As nuvens negras podem trazer-me a chuva,
Mas não pensem que vou morder o anzol,
Por muito que tentem não conseguirão matar o Sol

11.10.09

Inquérito


Porque continuo aqui?
Porque sinto que ainda não morri?
Porque me continua o peito a doer,
E porque sofro afinal?
Porque continuo a viver
Se à muito deixei de o querer?
Porque não me espetam pelas costas,
Uma faca no coração, num acto de cobardia?
Porque me obrigam afinal a acordar,
Se não quero mais isso, dia após dia?
Porque não me impedem de respirar
O ar que vos ando a roubar?
Porque não me espancam até à morte,
Em vez de me deixarem entregue à sorte?
Porque me continuam a mimar
E não me deixam acabar
Esta vida que nunca quis,
E tarda em me ensinar a ser feliz?
Porque despejo lágrimas de tristeza,
De raiva, de ódio de tudo?
Porque caio sempre na fraqueza,
E porque caralho eu não mudo?
Porque me continua a nascer
Esta vontade louca de escrever?

10.10.09

Utopia - Within Temptation

The burning desire to live and roam free,
It shines in the dark and it grows within me
You're holding my hand but you don't understand
So where I am going, you won't be in the end

I'm dreaming in colours of getting the chance
Dreaming of tryn'a the perfect romance
In search of the door, to open your mind
In search of the cure of mankind

Help us we're drowning
So close up inside

Why does it rain, rain, rain down on Utopia?
Why does it have to kill the idea of who we are?
Why does it rain, rain, rain down on Utopia?
How will the lights die down, telling us who we are?

I'm searching for answers not given for free
You're hurting inside, is there life within me?
You're holding my hand,but you don't understand
You're taking the road all alone in the end

I'm dreaming in colours
No boundaries are there
I'm dreaming the dream. and I'll sing to share
In search of the door,to open your mind
In search of the cure of mankind

Help us we're drowning
So close up inside

Why does it rain, rain, rain down on Utopia?
Why does it have to kill the idea of who we are?

Why does it rain, rain, rain down on Utopia?
How will the lights die down, telling us who we are?

Why does it rain, rain, rain down on Utopia?
Why does it have to kill the idea of who we are?

Oh, why does it rain, rain, rain down on Utopia?
How will the lights die down, telling us who we are?

Why does it rain?


5.10.09

De duas em duas pegadas


Sinto felicidade se me sento no meio das
areias frias onde o luar é a distância entre as estrelas que me acompanham, me
servem de companhia para onde for, me
ajudam, me guiam por entre as
pegadas que outros cá deixaram e que criam
dificuldades que vou encontrando nesta
longa caminhada a que teimo chamar
vida. Não faço ideia para onde vou
mas continuo, sem norte nem sul, vagueio,
mas sei que não vou só, sinto a companhia das
ondas e do luar que as faz brilhar como
estrelas doces, lindas e cintilantes que
me trazem à memória recordações que
encontrei algures entre o passar dos dias e
que já não posso voltar a viver. Apenas
sei que posso contar sempre com
pedras no caminho, fazem parte dele e sem
elas a meu lado para me acompanhar
não teria vida e seria apenas mais uma pedra
nesta caminhada longa e dura.
Alguém me ia odiar erradamente. Porquê?
São elas que me fazem erguer a cabeça
e pensar que o dia de amanhã será melhor
e devo agradecer tudo o que têm feito
por mim apesar de toda a dor que causam
em mim, por mim e especialmente para mim.
Vou deixando marcas de pegadas para trás.
São recordações que para sempre ficarão
guardadas não na areia que o mar apaga mas
no coração de alguém que escreve
palavras soltas para o mar apagar,
pequenos textos onde exprime toda a gratidão
pela imensidão do mar o acalmar e encantar
pelas estrelas que ele tanto adora...

29.9.09

No início


Ainda que muito procure
Não poderei nunca encontrar
Alguém mais que sem me tocar cure
Bastando que para isso dure
Esta amizade estrelar,
Lembrando que nem sempre brilha
A estrela que o caminho nos trilha
Aquela estrela que nos guia
De onde apenas existe o escuro
Rindo sempre se o caminho é duro
Imaginando que fácil seria
Aquela jornada mais bravia.
Nunca mais triste serei, e
As duas estrelas adorarei

27.9.09

O brilho das estrelas


Roubei duas estrelas,
De um céu que não é meu.
Foi por acaso que tropecei nelas
Em dia de baixo brilho, que por estar
Eu mais escuro, ao chegar perto delas,
Reparei no doente cintilar.
É uma dor que as deixa fracas,
Uma dor que não mostra marcas.
É por dentro que ela mora,
A dor que quero apaziguar
Que tenho sede de matar,
Antes que a estrela vá embora.
Quero curá-las para sempre,
Para que seu corpo volte a ser quente,
E volte eu para o meu lugar,
De onde ao longe voltarei a apreciar,
Duas estrelas a brilhar
Nessa imensidão distante.
Por ter eu falta de luz,
Num mundo que há muito me enclausurou,
Invade-me um pensamento atroz
Que na boca me amargou
E não me deixa dizer o que sinto
Sei apenas que minto,
Sei que o quero dizer, mas calo
E se me perguntam porque não falo
Nunca digo o que sinto...
Não é por não o saber,
Mas sim pelo medo me deter
As palavras que querem sair,
E a vergonha me fazer acreditar
Que não é este o seu lugar.
Sei que se um dia me deixarem
E voltarem ao mundo a que pertencem,
Vou guardar sempre na memória
Cada página desta história
Na esperança que um dia voltem
Não para de vez ficarem, mas por algum
Tempo estarem comigo,
Falar do tempo antigo
Do dia em que sem medo nenhum
Encontraram mais um amigo
Que as quis voltar a ver brilhar,
E passava a vida a agradecer
Sem razão aparente de ser.
Mas a verdade é que ele se sentia
No dever de agradecer por cada dia
Que passava junto das duas estrelas que roubou,
Daquela imensidão de céu
Que por muito que ele queira, não voltará a ser seu...

21.9.09

Flores no meu caminho


Vivemos uma vida feita de corridas e monotonias. Falámos em sair da rotina por vezes mas não conseguimos viver sem criar rotinas atrás de rotinas. É natural passarmos todos os dias pelo mesmo sítio em passo apressado, para não deixarmos que a rotina se altere, e vamos focando o que ao longe almejamos. Nunca reparamos que pelo caminho que percorremos existem várias coisas a que erradamente e inconscientemente apelidamos de nadas, mas que na verdade podem ser muito, basta querer, basta ter vontade de olhá-las e tentar entende-las. Foi num desses dias de rotina percorrida à velocidade do costume, que descobri que no meu caminho de todos os dias existia uma flor que diariamente me olhava mas nunca me dissera nada. Uma flor pequena e bela, com o seu jeito tímido e envergonhado o suficiente para me atrair a atenção. Prendeu-me o olhar, mas nesse dia não podia dizer-lhe um olá sequer, não podia quebrar a rotina. Continuei assim o meu caminho a flor continuava a ocupar-me espaço no pensamento e levava-me a perguntar como nunca tinha reparado nela antes. Decidi que nessa noite quebraria a rotina e tentaria falar com ela, assim fiz, nessa noite decidi ir ao encontro dela e sentei-me numa pequena pedra que a ladeia. Não tinha muito para falar com ela mas fui falando, deixando a conversa seguir, sem saber ao certo o onde queria que ela me levasse. Estive horas numa conversa que me rejuvenesceu interiormente. Sentia-me mais leve, mais feliz e confesso que me custou sair de ao pé dela, mas tinha de ser, não podia ficar para sempre lá e arrancá-la está de fora de questão. Saí com a promessa e o convite de voltar, e vontade não faltava na verdade. Assim sendo criei o hábito de ir ter com a flor e ajudá-la em tudo o que podia, regando-a, deixando que o sol a aquece-se mas não em demasia, tirando as ervas que a rodeavam para que crescesse forte e saudável, mas sobretudo falava com ela, sobre todas as coisas possíveis e imaginárias, sem receio de ser julgado ou apontado, começou a ser uma terapia para um dia duro de trabalho. Acabei naturalmente por conhecer outra flor que a costuma ladear, diferentes as duas, na cor, no número de pétalas, no cheiro, mas iguais no sentimento e na vontade de ouvir os lamentos de quem passa e se senta nessa pedra. Ainda hoje continuo a falar assiduamente com essas duas flores que encontrei no caminho para casa, ainda hoje as tento ajudar em tudo o que posso, e não espero nada em troca, quero apenas agradar e agradecer todo o carinho que elas me dão, toda a compreensão que elas têm e quero estimar, no fundo, as únicas duas amigas que tenho, e toda a amizade que delas brota. Não tenho medo que me achem doido por falar com duas flores, só tenho medo do Outono, e ele começa amanhã. Vou por isso lutar contra a queda das pétalas e contra o frio que as gela, nem que para isso tenha de dar eu a minha vida...

19.9.09

Ultimo Destino


I escaped my final moment
But it's turning back at me
On every corner I can feel it waiting
Just a moment, no awareness
I could easily slip away
And then I'll be gone forever
I'm searching,
I'm fighting for a way to get through
To turn it away
It's waiting, always trying
I feel the hands of fate, they're suffocating
Tell me what's the reason
Is it all inside my head
Can't take it no more!
All around me I see danger
And it's closing in on me
Every second I can hear it breathing
I can't stand the fear inside me
Cause it's leading me astray
And it will be my ending
I'm searching
I'm fighting for a way to get through
To turn it away
It's waiting, always trying
I feel the hands of fate, they're suffocating
Tell me what's the reason
Is it all inside my head
Can't take it no more!
But no one faced what's coming my way
And I will let my fear fade away
Whatever may be, I'll have to find out
It's waiting, always trying
Feel the hands of fate, they're suffocating
Tell me what's the reason
Is it all inside my head
Can't take it no more!



19.7.09

Doar sangue... Braguista


O “Marco” nasceu em Braga, desde cedo começou a ver uma bola em tudo o que fosse redondo, chutava e gritava “golo do Braga” tudo o que rolasse. Aprendeu com o seu pai a ser do Braga, e a defende-lo perante tudo e todos. Quando lhe perguntavam porque era adepto do Braga, respondia ironicamente “há mais algum clube sem ser o Braga?”, e se insistissem dizia apenas “então o Braga é o único que me está no sangue”. O “Marco” foi crescendo, não conseguiu realizar o seu sonho de jogar de vermelho e branco com a Sr.ª do Leite ao peito, contudo continua a ser um Braguista, e orgulha-se disso. Há quem o ache diferente, há os que o acham estranho, há os que não acreditam que ele é realmente assim, e há os que sabem como ele é mas preferem negá-lo. Preferem ferir o orgulho dele dizendo publicamente que não existem Braguistas, que não passam de um mito, de uma lenda. Tendo já o “Marco” idade suficiente para dar sangue, e vendo tantas campanhas por aí espalhadas pedindo sangue para quem precisa, o “Marco” sentiu que seria altura de ajudar quem precisava, mas tinha em mente mais que a simples ideia de ajudar quem precisa de saco de sangue para viver, queria ajudar um clube, o seu clube, o seu Braga. Correndo-lhe o Braga nas veias, juntamente com o sangue, o “Marco” sabia que junto com o liquido vermelho desejado sairia um pouco do bichinho do Braga que iria entrar nas veias de outra pessoa mais cedo ou mais tarde e iria “contaminá-lo” tornando-o Braguista, e assim nasceria mais um Gverreiro desta Legião que querem abafar.
Dirigiu-se ao local onde a recolha era feita naquele dia. Foi-lhe entregue um questionário onde das várias perguntas que lá lhe eram feitas uma o deixou intrigado, e não era a que lhe perguntava se era homossexual. Perguntava se alguma coisa lhe corria nas veias além do sangue. Escreveu que apenas o Braga estava nas veias misturado com o sangue, e que era impossível eliminá-lo pois precisava dele para viver. Informaram-no que ele não poderia dar sangue devido a isso. O “Marco” pensou que fosse uma brincadeira mas rapidamente se apercebeu que lhe falavam a sério. Não virou as costas à luta, tentou por todos os meios demonstrar que era saudável e que era uma pessoa como qualquer outra, os tribunais recusaram-se a ajudá-lo, e a imprensa afirmava insistentemente que ele não existia e que o que dizia ter no sangue era fruto da cabeça dele. Fizeram chacota dele quanto puderam e humilharam-no de tal maneira que acabou por ser internado numa clínica de psiquiatria por defender o Braga sempre... Apesar de tudo nunca virou o costas ao Braga e continua a afirmar que ele existe e que no sangue dele corre o Braga também. Continua a ser desprezado e ignorado, continua a ser abafado pela imprensa para que não se descubra que ele existe. Quantos “Marcos” existem por aqui? Levantem-se os “Marcos” e mostrem os que vos corre nas veias...

1.4.09

O Povo sabe agradecer


Solitário vive o Guerreiro
Por entre os dias que o massacram,
Do sangue sente o cheiro
De todos os que o atacam.
Luta orgulhoso e com valentia
Sem medo de encontrar Golias,
Transporta a crença de que um dia
Ao seu povo só dará alegrias.
Não é grande o povo que é seu,
Mas é forte e dedicado,
Agradece o que o Guerreiro lhe deu,
Pois vencer não é sempre fado.
Perde o Guerreiro importante batalha
De pé seu nobre povo o aclama,
Será tamanha a salva que lhe valha?
Terá razão tudo o que se proclama?
De todo o povo veio a razão
Que fez a pedreira estremecer,
Povo que sofre e sente a Legião
Apoia o Guerreiro sempre que perder.
Lutará o Guerreiro para vencer
As novas batalhas que hão-de vir,
E promete nunca esquecer
Dez mil na pedreira a aplaudir.
No coração do Guerreiro ficará
Sempre o povo que o ajudou a ganhar
Do fundo do seu o povo dirá
Obrigado por me deixar sonhar...

25.1.09

Estranha cegueira


Acordo em sobressalto com uma dor forte no olho! Uma picadela que já cá morava à algum tempo mas que se tem intensificado de dia para dia, tornando-se cada vez mais incomoda. Desta vez não vou conseguir adormecer mais, levanto-me e corro para a casa de banho, abro a torneira da água fria para tentar enxaguar o olho, inundando-o talvez passe. Não faço ideia de que raio será. Uma pestana? Um mosquito perdido na sua incursão nocturna? Um simples cisco que veio aqui parar? Não faço ideia mas incomoda cada vez mais! A água não faz efeito desta vez, e tento desesperadamente abrir o olho e olhar ao espelho para tentar ver o que ficou agarrado e não quer sair mais. Nada, não vejo absolutamente nada, mas sinto, sinto a inconfortável picadela que me acordou, peço a alguém que tente com uma ponta feita de papel procurar por algo que esteja a mais no meu olho mas ninguém vê. Desesperado com a dor tento por soro fisiológico dentro do olho e tento chorar para me tentar libertar da dor. A certa altura já não sei se sou eu que não quero parar de chorar ou se é o choro que não quer parar. A dor ia aumentando, a visibilidade ia diminuindo a passos largos e a falta de sono era insuportável quando me decidi a ser atendido por um oftalmologista. Já completamente cego, fico sentado na cadeira enquanto o médico me faz o diagnóstico, e quando deixo de sentir a presença da luz pergunto ao médico se viu alguma coisa, ele responde que viu algo que nunca tinha visto nem estudado! Enquanto me apontava a luz para os olhos diz que viu faltas por marcar, outras marcadas por excesso de zelo, cartões despropositados e sem fundamento, discórdia entre árbitros e fiscais de linha, golos mal anulados e outros assinalados sem que a bola ultrapassasse totalmente a linha de golo, grandes penalidades por marcar e marcadas propositadamente em benefício de um trio de clubes protegido pela influenciada Comunicação Social, um misto de erros não tão humanos quanto parece, e tudo isto por debaixo de uma já grossa camada de pó! O pó que semana após semana nos é atirado para os olhos para encobrir o que todos nós vemos por esses estádios fora, o pó que nos cega e que encobre a verdade desportiva, o pó que luta pela desigualdade e desequilíbrio da tabela classificativa, o pó que me cegou! Chegou a altura de dizer BASTA! Chegou a altura de lutar contra os que se fazem de cegos e lutar pelos que eles realmente cegaram...

20.1.09

Para sempre




Nem sempre conseguimos sentir o aproximar silencioso e repentino de uma má noticia, cujo único objectivo é abalar-nos e testar-nos levando-nos até aos limites mais extremos da nosso sentir! Podemos ser os mais fortes física e psicologicamente que quando ela chega provoca na mesma uma dor que nos mói e não somos capazes de apaziguar! Ao longo dos últimos 14 anos aprendi a viver com alguém que era “diferente”, alguém que desde à muito deixou de poder responder por todos os seus actos. Por ser diferente era humilhado por muita gente ainda que mais nova, e vendo-se ele fechado num mundo tão próprio onde via mais costas voltadas que mãos esticadas caiu nas mãos de um vício que lhe fez encolher todas as mãos à excepção de uma que o agarrou firmemente e o puxou para fora do vício que afogavas as intermináveis mágoas. Uma mão que o amou, que lutou por ele e com ele contra as adversidades, uma mão que o mudou, que o tornou numa pessoa que nunca antes tinha sido, porque apesar de diferente continuava a ser uma pessoa merecedora de todo o respeito pois deixara de faltar ao respeito aos outros, uma mão que lhe devolveu um sorriso! Não foi fácil levar para casa mais uma pessoa com o intuito de mudar, principalmente se ela não quer ser mudada, dividir o quarto com alguém que até então dormia só e não mais ter uma noite seguida de sono mas antes de sobressaltos e sustos. É de louvar o gesto feito a troco de nada, ainda que muitos continuem a achar que não, mas nunca lhe deitaram a mão por saberem que iria ser assim, ajudar sem recompensa financeira era esse o contracto celebrado com a consciência! Catorze anos são uma vida, e quando é vivida ao lado de alguém que precisa de nós habituamo-nos a ela e sentimos que temos um dever a cumprir, passa-mos a levar um pouco dela sempre connosco, partilha-mos sorrisos, tristezas e dores, curamos feridas e olhava-mos para trás com orgulho pela mudança feita! Nada me levava a crer que tudo isto teria um fim tão próximo. Ainda entusiasmado pela neve que tinha caído durante o dia cheguei a casa e em vez de contar a novidade recebi outra, fui vê-lo deitado na cama a sangrar pela boca. Pensei que fosse devido à fragilidade dos dentes e decidi levá-lo ao dentista a fim de ser tratado. Já no dentista e enquanto esperava-mos pela vez tentava-mos que se mantivesse quieto e a fazer pressão por onde brotava sangue, mas a curiosidade fazia-o sempre querer ver o pano já totalmente ensanguentado e não mostrando qualquer tipo de dor sorriu e piscou um olho como se nos quisesse acalmar e quisesse despedir com uma imagem ainda alegre dele, depois de extraído o dente não mais o sangue parou e a imagem dele sentado a escorrer cada vez mais sangue a ficar pálido e a tremer enquanto eu lhe segurava no pano a tentar estancar o sangue e enquanto o INEM se recusava a enviar uma ambulância em auxilio não quero mais guardar, tal como a ultima vez que o vi ainda vivo, sentado no cadeira de rodas e a entrar pela triagem do hospital! Ainda assim não acreditava que algo fosse correr mal, pensava que seria só coser e estava como novo. Já era sábado quando fui buscar a minha mãe que o acompanhou no hospital, não consigo descrever o que senti quando a minha mãe sentada na sala de espera me abraça com força e me diz que ele tinha de ir de manhã cedo para o porto pois tinha um cancro galopante no sangue! Não consegui imaginar o que seria isso, tive medo de procurar saber e continuei a pensar que o tratamento devido o iria salvar! Rezei durante a noite para que me pudesse despedir e pudesse dizer o que sentia por ele! Ainda antes do almoço de sábado recebi uma mensagem do meu pai com apenas três palavras que me retiravam toda essa possibilidade, por não ter sido capaz de o dizer escreveu apenas “o tio faleceu”! Senti vontade de gritar até rebentar as artérias, senti vontade de ser fraco e chorar como uma criança pequena, senti vontade que tudo fosse mentira, mas não era e eu senti uma força que não era minha e aguentei-me, tornei-me forte e não mostrei parte fraca em frente de ninguém para não piorar tudo, pois sei que era isso que ele desejava de mim. Apesar de tudo ter feito para o salvar e por não me ter conseguido despedir dele, senti que tinha obrigação de lhe prestar uma última homenagem, e carreguei-o a força de braços até à sua última morada. Continuo a sentir uma dor enorme no peito como se de uma facada se tratasse a cada passo que dou e me lembro dele, faz-me falta a presença dele, faz-me falta perguntar por ele, agora restam apenas as lembranças, as lágrimas de alegria por gestos simples que lhe fizemos, a palavras características que ele dizia, os momentos únicos que passamos e o sorriso e o piscar de olho no dentista, pois é essa a última imagem que quero guardar dele... A tua marca ficará para sempre em mim como uma lição de vida, pois até na hora da despedida não quiseste preocupar nem dar trabalho a ninguém, obrigado tio Zé!

Boss AC ft. Mariza - Alguém me ouviu

Não me resta nada
Sinto não ter forças para lutar
É como morrer de sede no meio do mar e afogar
Sinto-me isolado
Com tanta gente á minha volta
Vocês não ouvem o grito da minha revolta

Choro a rir
Isto é mais forte do que pensei
Por dentro sou um mendigo que aparenta ser um rei
Não sei do que fujo
A esperança pouco me resta
Triste ser tão novo e já achar que a vida não presta

As pernas tremem
O tempo passa
Sinto o cansaço
O vento sopra
Ao espelho vejo o fracasso
O dia amanhece
Algo me diz para ter cuidado
Vagueio sem destino
Nem sei se estou acordado

Sorriso escasseia
Hoje a tristeza é rainha
Não sei se a alma existe
Mas sei que alguém feriu a minha
Às vezes penso se algum dia serei feliz
Enquanto oiço uma voz dentro de mim que me diz

(M) Chorei
(M) Mas não sei se alguém me ouviu
(M) E não sei se quem me viu
(M) Sabe a dor que em mim carrego
(M) E a angústia que se esconde
(M) Vou ser forte e vou-me erguer
(M) Ter coragem de querer
(M) Não ceder nem desistir
(M) Eu prometo
(M) Busquei
(M) Nas palavras o conforto
(M) Dancei no silêncio morto
(M) E o escuro revelou
(M) Que em mim a luz se esconde
(M) Vou ser forte e vou-me erguer
(M) E ter coragem de querer
(M) Não ceder nem desistir
(M) Eu prometo

Não há dia que não pergunto a Deus
Porque nasci?
Eu não pedi
Alguém me diga o que faço aqui
Se dependesse de mim teria ficado aonde estava
Aonde não pensava, não existia, não chorava

Prisioneiro de mim próprio
O meu pior inimigo
Às vezes penso que passo tempo demais comigo
Olho para os lados,
Não vejo ninguém para me ajudar
Um ombro para me apoiar
Um sorriso para me animar

Quem sou eu?
Para onde vou?
De onde vim?
Alguém me diga,
Porque me sinto assim?
Sinto que a culpa é minha mas não sei bem porquê
Sinto lágrimas nos olhos mas ninguém as vê!

Estou farto de mim,
Farto daquilo que sou,
Farto daquilo que penso
Mostrem-me a saída deste abismo imenso
Pergunto-me se algum dia serei feliz
Enquanto oiço uma voz dentro de mim que me diz

(M) Chorei
(M) Mas não sei se alguém me ouviu
(M) E não sei se quem me viu
(M) Sabe a dor que em mim carrego
(M) E a angústia que se esconde
(M) Vou ser forte e vou-me erguer
(M) Ter coragem de querer
(M) Não ceder nem desistir
(M) Eu prometo
(M) Busquei
(M) Nas palavras o conforto
(M) Dancei no silêncio morto
(M) E o escuro revelou
(M) Que em mim a luz se esconde
(M) Vou ser forte e vou-me erguer
(M) E ter coragem de querer
(M) Não ceder nem desistir
(M) Eu prometo