25.4.07

Passa o tempo fica o sentimento...




Enquanto pequeno fui criado através de um "molde" que me ensinou a gostar e a defender até não ter mais forças ou argumentos aquilo que, de certo modo, me pertence. Numa família de braguistas ensinaram-me a defender as cores do meu clube não só quando ele ganha. Mostraram-me que me devia sentir orgulhoso por ser adepto de um clube que mesmo não ganhando muito, me alegrava o coração só em vê-lo jogar. Na escola primária era olhado com espanto quando alguém me perguntava "De que clube és?", e eu orgulhoso respondia "Do Braga.", a pergunta seguinte, todos aqueles que como eu começaram de cedo a gostar, defender e apoiar em qualquer circunstância o que lhes pertence e não o que ganha mais, consegue adivinhar, "E que mais?". Parecia uma obrigatoriedade ser de um clube que já tivesse sido campeão. "Mais nenhum." respondia eu. Na maioria das vezes mesmo sem lhes perguntar acabavam por me dizer "Eu sou do X... mas também gosto do Braga...". Não compreendia o porquê de dizer que tinha outro clube, e sentia-me triste, triste por ficar com a sensação de que o meu clube tinha poucos adeptos verdadeiros.
Era raro na altura ver alguém a jogar á bola na rua com a camisola do Braga, mas eu jogava e vestia-a sempre que podia, mostrava o meu cartão de sócio e o meu cachecol a toda a gente, e sentia-me orgulhoso pelo que fazia, por mostrar a todos o meu braguismo... Sentia-me a criança mais feliz do mundo por domingo sim domingo não ir até ao 1º de Maio e exibir o meu cartão de sócio apenas por satisfação (pois não era necessário para entrar com aquela idade) a quem controlava a entrada.
Os anos foram passando, eu fui crescendo, as conversas foram mudando mas as perguntas e as respostas continuavam as mesmas, apenas os comentários dos outros consoante o resultado do jogo mudavam e algumas perguntas começavam a vaguear na minha cabeça. Sempre que o Braga fazia um bom resultado falavam comigo e referiam-se ao "nosso Braguinha", quando os resultados não agradavam abordavam-me referindo-se ao "teu Braga". Perdia a cabeça com isto, sentia a raiva correr-me nas veias como se de sangue se tratasse. Como era possível alguém se aproveitar do resultado de um clube e tirar sempre satisfação fosse qual fosse o resultado... Não havia sentimento verdadeiro, não havia sofrimento... Eram anos em que o Braga vivia de altos e baixos, em que se lutava uma época para ir á UEFA e na seguinte para não descer de divisão. Nestes anos conseguia-se distinguir perfeitamente, o Braguista sofredor e verdadeiro do "falsificado e oportunista". Sentia-me feliz por, embora sermos poucos Braguistas verdadeiros, não sermos confundidos com os que simplesmente iam á bola ou mesmo sem ir discutiam como se fossem...
Passaram mais alguns invernos, e eis que num verão se realiza um Campeonato Europeu que veio mudar muita coisa e apaixonar mais pessoas pelo futebol... Coincidência ou não, foi um ponto de viragem para o Braga, tornou-se um clube mais estável e mais forte, tornou-se num "Braga Europeu". Muitos, arrastados pela onda vitoriosa do clube da sua terra, decidiram segui-lo de mais perto, e esquecer um pouco o clube que até então os prendia á televisão, e começaram-se a auto-intitular Braguistas... Começaram a ir ao estádio, aos treinos, a comentar fóruns na internet afirmando sempre que o Braga sempre foi a paixão deles. Agora quando lhes perguntam o clube dizem "Do Braga" mas lá acabam por confessar, a custo "simpatizo por o X"... Apesar de se ter criado uma nova geração de verdadeiros Braguistas, são muitos os que se tornaram Braguistas falsificados e oportunistas, mas estes são agora mais difíceis de distinguir...
Época 2006/2007. Após uma série de épocas espectaculares, as melhores de sempre, vem uma época com alguma quebra, fica-se uns furos abaixo do esperado. O que acontece? Os Braguistas falsificados e oportunistas criticam tudo o que podem, presidente, treinadores, jogadores, horários de jogos e treinos, equipamentos utilizados, métodos de treino e tudo o que se possa imaginar, preferem assobiar em vez de dar apoio... Pois eles querem sempre mais para matar a sua fome... Na minha opinião, o verdadeiro Braguista, aquele que sofre, vê esta época como uma época menos boa (ou talvez não) que as anteriores mas mesmo assim de sonho, ½ da Taça de Portugal, mais jogos de sempre efectuados na Taça UEFA e um lugar na classificação que a 4 jornadas do fim nos permite sonhar e depender apenas dos nossos resultados para participar na próxima edição da Taça UEFA... O único sentimento de revolta deste Braguista é saber que está a ser confundido com alguém que não é capaz de sacrificar uma unha que seja pelo clube que diz ser adepto... Lembro aqui todos aqueles que, independentemente do resultado, ficam no seu lugar até o arbitro apitar pela ultima vez, todos aqueles que aplaudem quando a equipa perde, todos aqueles que foram esperar a equipa ao aeroporto no fim de um jogo para a Taça UEFA, não só quando ganhou mas também quando perdeu, lembro alguém que apesar de ser sócio preferiu comprar um bilhete de público do que ir embora porque a espera iria ser demorada para tirar bilhete de sócio e iria perder o principio do jogo, todos aqueles que lutam, assim, pela verdade e genuinidade clubistica. É por tudo isto que, olhando para trás e vendo-me naquela criança sinto um enorme orgulho e agradeço a que me ensinou a ser assim...

3.4.07

Um Mundo do meu tamanho...


Domingo, manhã solarenga de Junho, acordo bem cedo, o fato de cerimónia que ainda cheira a novo cobre-me o corpo, prepara-se um dia diferente, não imaginava eu o quão diferente... A cerimonia era um casamento, e eu ia fazer parte dela de certa forma especial, ia ser "menino das alianças"... Antes da igreja toca a tirar as fotografias da praxe na casa da noiva, uma assim, outra daquela maneira, mais um flash, mais um passarinho, e a minha vergonha não me deixava ver ninguém... Acabadas as fotos e satisfeitos os estômagos dos convidados, tudo ruma à igreja, onde já está o noivo, nervoso e com a consciência de que está a acabar o tempo de solteiro, coisa que nunca mais vai voltar a ser... Alinha-se a noiva em frente á porta de braço dado com o padrinho, que a vai levar ao altar, á frente os meninos das alianças, e os convidados vão entrando devagar, enquanto entram vão dizendo qualquer coisa á noiva que está nervosa. Entretanto alguém me pede para dar a mão á menina das alianças que era mais nova que eu, talvez com 2 ou 3 anos e eu cheio de vergonha lá pego na mão da menina, um dos convidados ao entrar, não fala para noiva, mas para mim, "Vais casar com a menina..." disse-me... Com a vergonha que tinha, e com a que ganhei depois disto, não me consigo lembrar de mais nada, apenas que entrei de mão dada com uma menina na igreja e alguém me disse que seria ela minha noiva, não me consigo lembrar de nomes, nem sequer de nenhum rosto... A cerimonia acabou, o fato voltou para o guarda-vestidos, a menina já não sei dela... Passaram dias, meses, anos... tantos que o fato já nem me serve, cresci, mudei, e a menina das alianças também, ficámos irreconhecíveis... Cerca de 13 anos mais tarde sou apresentado a uma rapariga, pela qual me apaixono, e começo a namorar 8 meses depois. Com um mês e alguns dias de namoro, uma duvida me assalta, "será que devo acreditar no destino?" coisa que até então não acreditava. O fundamento desta duvida em forma de questão é que enquanto lhe mostrava as fotografias desse casamento, ouço sair da voz dela, "Esta sou eu!"... Encontrei a menina das alianças...