16.2.12

O piano e a lágrima que não cai



Embala-me o piano, em batidas leves que fortemente me tocam no coração dorido. Prendo a lágrima com algemas e deito fora a chave. Dói-me a garganta de um nó que não desata e aperto a língua contra o céu da boca, faço força, cerro os punhos, dói-me, não me queixo… É a única vez no dia em que o consigo fazer. As pernas geladas não me bloqueiam o pensamento, mas antes o fizessem. Para que buraco fundo vou eu outra vez? Gosto do embalo que me dá o piano, gosto das notas que me obrigam o corpo a reagir, mas não gosto da dor que hoje me trazem, não gosto da fúria e da raiva que tenho hoje comigo. A voz que acompanha o piano traz-me o desalento, a vontade de desistir, a vontade de ficar parado, olhar a lua, sentir o frio roer-me os ossos, perder-me na imaginação de não pensar em nada, voltar a ser criança, reaprender a rimar… Oiço até à exaustão. Não tenho vontade de fazer nada, por isso espero… Espero que alguém me encontre e sei que me vão encontrar. Não estou escondido, estou só quieto, mas continuo aqui, à espera, contando até três, porque quero ser feliz. É assim que ela canta, é assim que eu oiço, é assim que me dói e é assim que eu não choro.

15.2.12

Porque te amo


Apetece-me ser apaixonado
Tal como me apetece dizer que te amo
Sem qualquer acto profano
Que na mente humana possa ser criado.
Apetece-me beijar-te,
Sentir dos teus lábios o doce travo,
O palpitar forte que no peito te cravo
Com carinho, com ternura, como se fosse uma arte.
Apetece-me sentir o teu abraço
E toda a paz que ele me oferece,
A ternura do teu regaço,
Aquele calor que me aquece.
Apetece-me ficar a lado
Como se o mundo não existisse
Sentir-me desejado, sentir-me amado,
Como se a cada dia um novo amor se abrisse.
Apetece-me tudo isto e muito mais,
Ir contigo sempre mais além
Tenho força para derrubar vendavais,
Para enfrentar o futuro que aí vem.
Apetece-me… deixa-me que te diga,
Apetece-me as borboletas na barriga,
Apetece-me o ternurento beijo que me aquece…
E eu só faço… só faço aquilo que me apetece…

Alívio


- Não tinhas o direito de o fazer. Não sei quem és, mas não te queria dar o direito de o fazer. Fizeste-o sem olhar para trás, e se o fizeste é porque podias. É injusto e não aguento esconder mais. Não consigo esconder mais a raiva por trás do sorriso, o olhar perdido, o sentimento de vazio, o eco dos gritos abafados na garganta. Podias ter avisado, podias ter feito alguma coisa… Podias ter-lhe poupado a vida… Não te apeteceu, e em mim puseste a raiva, a vontade de cerrar os punhos e gritar até que as artérias se mostrem na garganta. Não penses que me ganhas, deste-me um valente soco no estômago, criaste um fosso entre mim e o mundo para eu cair lá, mas não o vais conseguir. Eu não quero e não deixo que isso aconteça, deste-me força para seguir, deste-me força para resistir… Não sei quem és, não sei onde estás, sei que desta vez vai doer e sei que não me vais ganhar! Estás a ouvir-me? Julgas que a felicidade é pura ilusão? Vou mostrar-te o contrário. EU VOU VENCER! EU SOU CAPAZ!

- CALA-TE!

- Não me metes medo com o estremecer do chão. Quem és tu? Mostra-te! Responde-me! Vais fugir-me outra vez? FALA COMIGO! COBARDE! NÃO ME VAIS DERROTAR, NÃO DEIXO QUE O FAÇAS!

8.2.12

Não sou doido por cachecois...

Não tenho de me justificar, nem tenho de dar contas a ninguém do que faço, mas sinto uma necessidade de explicar o porquê da colecção de cachecóis, o porquê de continuar a aumentar o número de exemplares. Confesso que tenho uma paixão por símbolos, por emblemas e sempre me fascinaram os cachecóis de futebol. Por mero acaso, nas deslocações do Sporting de Braga, comecei a trocar cachecóis do meu clube com os adeptos da equipa da casa, foi por aí que começou a colecção. Uma vez que não existe número de exemplares definidos, defini eu que coleccionaria os cachecóis das equipas adversárias do Sporting de Braga. Nas equipas portuguesas a vida foi-me sendo facilitada a cada jogo fora que o Sporting de Braga fazia, quanto às equipas estrangeiras, que em tempos ou mais recentemente o Sporting de Braga defronta nas competições europeias, é mais difícil adquirir os cachecóis dessas equipas. Assim sendo, facilita-me a vida a Internet. Coloquei os meus cachecóis na Internet, e visitei inúmeros sites de outros coleccionadores com cachecóis que me interessavam.  Não conhecia ninguém, mas a verdade é que fiz inúmeros amigos. E digo amigos porque o são na verdade. Troco cachecóis com os mais variados países da Europa. Da vizinha Espanha à França, da Itália a Inglaterra, da Grécia à Rússia, passando pela Holanda, Roménia, Alemanha e Israel, da Bulgária à Eslováquia e até da Eslovénia à Ucrânia. Espalhados pela Europa estão pessoas de diferentes clubes, diferentes etnias, diferentes credos, mas sempre com a mesma paixão por cachecóis, por futebol e pelo fair-play, pela amizade. É inexplicável o sentimento que tenho sabendo distribuo cachecóis do Braga (e não só) pela Europa fora, que recebo encomendas do outro lado da Europa, onde alguém como eu, tem prazer e gosto por aquilo que faz. Contudo, o contacto não se resume a troca de cachecóis. Oferecem-se presentes, trocam-se ideias, fala-se de jogos antigos, de jogos recentes, fala-se da família, do estado do país e do estado do Mundo.  É esta união, é este grupo, United Scarves Collectors, que me faz continuar a contactar com todos eles, a trocar cachecóis e não só. Sinto-me bem com isso, não sou doido por cachecóis, não os tenho num sitio onde ninguém pode tocar, qualquer um pode lá ir, tocar neles, abri-los, vê-los, não é algo que guardo com a vida. Conseguem imaginar como um simples pedaço de pano com um símbolo pode levar dois desconhecidos a encontrarem-se num qualquer país? É como ter um amigo para ir ver num país que visitamos pela primeira vez. Assim fez o Simon Moses, Israelita, aquando da sua visita a Portugal. Visitou Braga e o nosso estádio num desvio à sua passagem pelo Porto, porque lhe falei da cidade e do clube. É a amizade que nos une, os cachecóis são só um pretexto. Que o diga o Mark Nienhaus, adepto do Shalke 04, alemão e com dois filhos, o mais novo tem uma babete com o símbolo do Braga, porque o pai assim desejou. Não me julguem por ter muitos cachecóis, façam um esforço para perceber o gozo que isso me dá… Deixem de me chamar doido, de me chamar viciado, recuso sê-lo…