23.3.10

Pesadelo consciente

Morro por dentro
E não ganho alento.
O sangue não me corre
E a alma em mim morre
Sem mais pelo que lutar
Esgotadas as forças para continuar
Quero ficar por aqui
Porque ainda não desisti
De tentar levar avante a minha
Numa vida que não alinha
Com nada que eu esboce?
Não há nada que me adoce
O apetite de acordar
E ver nascer mais um dia
Perdido na monotonia
De sentir o desalento
E o paladar do sofrimento.
Enforca-me com a fatal anilha
Para nunca mais eu seguir
Da vida a triste trilha
Que só quando vou dormir
É que a porra do sol brilha.
Eu quero, posso e vou desistir...

17.3.10

Auto-estima... fugiu!

Perguntaram-me pela minha auto-estima, não soube responder, ou antes, tive medo de responder. Tive medo que ela descobrisse a falta que me faz, o certo é que ela me deixou. Não sei quando, não sei onde, e nem sei bem como o fez. Sei que me deixou órfão de tal sentimento. Após vários acasos que levaram a minha auto-estima a esmorecer e a abandonar o meu ser, sinto-me como um caixote vazio e mal amanhado que depois de utilizado, perde a beleza e a utilidade que o deixa realizado. Talvez precise ser reciclado, para poder voltar a ser utilizado, se assim alguém quiser. Haverá espaço nos ecopontos para mim? Terei eu a sorte de cair lá, ou terei a fraca sorte de ser levado para um aterro onde não haverá alternativa a não ser o apodrecimento, lento e degradante. O meu ecoponto poderá ser simplesmente o reencontro da minha auto-estima que vagueia pelas ruas da amargura sem sítio para aconchegar. Fugiu de mim, culpa minha talvez, certo é que voltei a aprender a viver mesmo sem ela, a seguir em frente e enfrentar todos os medos e anseios sem saber bem o que esperar de mim. Procuro aleatoriamente pelas ruas por ela, na esperança de a ver e de a convencer a voltar, ou então na tentativa de encontrar a de alguém, não para me apoderar dela mas para a convencer a regressar ao seu dono, para que não seja o aterro o seu destino também. Já procurei em todo o lado auto-estima que se alugasse, que se vendesse que eu me pudesse tornar dono sem remorso algum... mas não existe, apenas a minha me fará reviver, acordar para o que ainda tenho pela frente, seja um caminho longo ou curto. Apenas a minha me fará voltar a acreditar em mim, acreditar que sou capaz, me fará arriscar e dar tudo por tudo para conseguir. Apenas ela, apenas a única que não consigo encontrar... porque te escondes de mim? Porque me mostras os meus defeitos sempre que preciso ver se tenho algo de bom em mim? Porque fugiste de mim? Não aguento muito mais...

15.3.10

Deserto

Estou sedento. Tenho sede de encontrar uma nova etapa, um novo rumo, deixar de andar ao sabor do vento da tempestade. Estou num deserto, um deserto árido, deserto de sentimentos onde quanto mais tento olhar o horizonte mais me parece um oásis inalcançável, onde os mimos me fogem entre os dedos como a areia fina, a mesma areia que o vento projecta contra a minha cara e me obriga a fechar os olhos, porque dói se os abrir, e feridas já tenho que chegue. Continuarei neste deserto, bebendo a água que o destino me dá, quando a dá, e caminharei por esta areia ardente, contra o vento sufocante e os pensamentos desencorajadores, porque sei que um dia chegarei ao fim do deserto, e terei água com fartura para beber. Não morrerei desidratado porque recuso-me morrer, e se morrer darei luta suficiente à dona da foice. Um dia voltarei a erguer a minha espada, e a minha armadura brilhará novamente, erguerei o meu estandarte o mais alto que puder e começarei uma nova guerra, quem sabe não será desta que saio vencedor, quem sabe não conquisto o meu pedaço de Mundo, para o mostrar orgulhosamente a todo a gente, tal como Camões o fez, o quanto significa para mim tal conquista. Não sei quem é, onde fica, se já a vi ou se está perto, sei que há-de chegar, e irei lutar até não ter mais força, até à vitória final ou à derrota desmotivadora. Resta-me para já lutar para sobreviver, não fisicamente, mas emocionalmente, deixar de ter duas personalidades e assumir de vez a única que me preenche. Vou aguentar firme, e vou chegar aí, prometo...

9.3.10

Tenho mais um vício

Sinto que tenho um novo vício. Tal como outros vícios, este não se manifesta de uma vez só, vai-se apoderando aos poucos do corpo e da mente das pessoas. Posso por isso afirmar que já tenho este vício há algum tempo, mas nos últimos dias tem-se intensificado a “fome”. É o vício pelo desporto. Não de me sentar no sofá e acompanhar o desporto pela TV, nem de seguir um qualquer desporto sabendo tudo o que se passa, mas sim fazer desporto, correr, suar, sentir os músculos doer e pedirem tréguas. Não procuro a melhor forma física nem me preparo para qualquer tipo de torneio ou prova, quero apenas sentir o prazer da fadiga até quebrar de vez, alimentar a raça, cerrar os dentes e puxar cada vez mais pelo corpo de que sou feito. Enquanto corro, suo, dou uns chutos numa bola, esforço-me ao máximo e aplico-me como se de algo sério se tratasse, não deixo que nada me quebre o ritmo, nem mesmo a fadiga ou o praguejar dos músculos por descanso. Enquanto me doem os músculos esqueço outras dores e ansiedades, esqueço que existo, esqueço quem sou e vivo o momento enquanto aproveito para levar a força de vontade ao extremo. Passei o dia todo com a ansiedade do jogo de futsal no final do dia, um jogo desigual de 4 contra 3, mas não me importou a derrota alargada, nem a inferioridade numérica. Corri até o apito final, senti o suor entrar-me pelos olhos dentro e arder, mas não deixei de correr, senti o coração trabalhar com a velocidade máxima que conseguia, e o diafragma pediu-me descanso... Neguei-lhe o pedido, sabia-me bem a dor e dava-me mais força e mais vontade ainda de correr. Ameaçou-me um músculo de descida e ameacei-o eu que continuaria mesmo com ele em baixo, ganhou a minha ameaça. Pensei que no fim de um banho quente esta fome me passasse, mas enganei-me, com dores nas pernas, músculos no limite da ruptura, costas a pedir clemência e pulmões sem mais por onde expandir, apetece-me correr, apetece-me chegar ao limite, cerrar os dentes e morder toda a merda que quero esquecer, a que me faz faísca cá dentro e me dá força e alento para me continuar a massacrar fisicamente. Depois de tudo sinto-me mentalmente fresco, e o cérebro pede-me para continuar, até cair, até não aguentar mais... Eu quero, eu preciso, eu tenho de...

7.3.10

Rendo-me

Não é fácil a um soldado perder uma guerra, principalmente se é o único soldado do lado vencido e decide não morrer, mas desistir, render-se mostrando as suas próprias fragilidades. Um entregar de armas que fere o ego e a autoconfiança mas que se torna necessário quando de um lado nos entala a consciência e do outro lado alguém cala a ordem de baixar as armas apontadas a mim. Perdi mais uma batalha, foi mais uma entre tantas outras mas esta valeu uma guerra, uma guerra que perdi, uma guerra que desisti para continuar a viver, deixei-me vencer pela ilusão que seria capaz, mas enganei-me e caí, não de pé, mas de costas, por ser fraco, não estar preparado e não saber mais lidar com os “senhores da guerra”, da minha guerra... Acreditei enquanto pude, e vivi uma mentira que me fez seguir em frente, em busca afinal da derrota, do desprezo, da ignorância, do crescer da fraqueza e da não crença. Já não possuo as armas, já foram entregues, e a armadura quebrou com a vergonha, deixei de ser soldado, de pertencer a um exército de um só homem, arriou-se a bandeira da minha pátria e hasteou-se uma bandeira branca que o vento defrauda. As lágrimas lavam a face antes de caírem na poeira onde os joelhos e mãos assentam, foi-me poupada a vida por me entregar, não se ouviu uma única palavra do lado de lá, apenas o partir de quem cá esteve e agora nada mais me resta a não ser partir, virar costas a um sentimento desfeito que se vai querendo reacender, mas são as sequelas normais, as feridas que hão-de sarar, as cicatrizes que o tempo irá formar e eternizar e que me farão lembrar os erros que cometi para aprender com eles e se possível evitá-los se houver próxima vez... Agora é tempo de partir, dizer o definitivo adeus, deixar para trás um passado e olhar em frente, tentando vislumbrar o futuro por entre a visão distorcida pelos reflexos da tensão. Para trás vai ficar a vontade, a força, e a bandeira branca, hasteada, e defraudada pela leve brisa da derrota... Desculpa!

1.3.10

Desencontrei o caminho

Odeio ter de ser eu. Quem me dera ser outro qualquer a mandar na minha vida, a dizer o que realmente devo fazer, a escolher o que posso e devo sentir. Tenho de deixar de continuar a viver sem objectivos, ou melhor, são tantos que os confundo. Não consigo perceber se quero quem nunca tive, se quero quem nunca hei-de ter, se quem não posso, ou se quem voltou, se quem não conheço ou se quem se lembra de mim a momentos espaçados por eternidades que me consomem o sentimento e o matam. Estou desfeito por não saber o que sinto, por não saber se ainda tenho coração. A verdade é que me apetece dizer que te amo, mas se nem sequer te vejo como posso dizer tal coisa para que o sintas como verdadeiro? Não posso, não quero e não vou dizê-lo. Sei que tu não o queres ouvir, talvez tenha esticado a corda de mais, talvez não mereça tamanha sorte e o meu lugar seja mesmo este, frio, escondido e esquecido, apenas com o luar por companhia, se as nuvens me derem essa benesse, olho-a e desejo-a tanto como a ti, fixo-lhe os olhos apreciando o brilhar tal como o faria com o teu se não tivesses olhos também e obrigasses os meus a desviarem o alvo, por isso continuo a olhar a lua, e a imaginar-te, a sentir o sangue acelerar até ferver e até a desilusão de tudo não passar de uma alucinação me assolar, deixando-me de lágrima a escorrer, salgada como o paladar do fracasso e da vergonha, não a travo, deixo-a escorregar até ficar pendurada no queixo e cair para a morte no meu regaço. Nada à minha volta se ouve, e aprecio apenas o silêncio que me apazigua a dor algures no peito, no ego e na alma. Não vou mais a lado algum, vou viver assim entorpecido até que alguém me descubra, tem de haver alguém, nem que seja a lua a vir-me buscar sorrateiramente e levar-me para longe de tudo, ninguém deverá sentir a minha falta, apenas um leve sussurro “ele já foi”, o ninguém que incomoda, o ninguém que diz algo que deveria calar e que no fundo sabe que deveria dizer o que cala, o ninguém que usa palavras incorrectas com quem acha certo, o ninguém que espera por algo que nunca há-de vir, o ninguém que senta ao luar e chora por não te poder amar...