29.4.10

Bloqueio cerebral

É entre a escuridão do meu quarto, enquanto repouso o corpo mal amanhado sobre a cama que me abraça, que fecho os olhos, e sem adormecer deixo que o pensamento me guie por entre mais um devaneio. Nunca sei onde me leva, talvez seja essa incerteza que me faz tanto querer ir e ficar lá. A cada viagem um mundo novo me é mostrado. Desejos, sonhos, caminhos perdidos, opções não equacionadas, tudo me vem à cabeça de uma maneira não muito alinhada mas que faz todo o sentido para mim. Numa dessas viagens bem recentes reencontrei algo que há muito tinha perdido. A vontade de amar, a vontade gostar de alguém, a vontade de arriscar e mostrar o que cá dentro tenho. Quis acordar desse estado de múmia em que me encontrava mas por muito que batalhasse não me conseguia tornar consciente e continuava a sonhar, a desejar e a sentir um ardor no peito misturado com alguma dor. Gostava de falar com essa vontade, dizer-lhe o que penso, expor os meus pontos, e pedir-lhe para ter calma, para que não volte a ter de fugir de mim. Mas não fui capaz de ir ter com ela, e escondi-me por trás da vergonha que me assolou. Se ela fugiu de mim é porque nada queria comigo, porque raio deveria eu agora ir ter com ela? Na verdade esta pergunta foi só para me convencer a deixar de pensar “eu quero voltar a ter vontade e capacidade de amar alguém, quero perder este medo”, não me sai da cabeça... Nesse dia já só acordei de manhã, como se não tivesse dormido pois sentia-me cansado, mentalizei-me que aquilo não passou de um sonho, mas durante o dia algo me foi provando o contrário. Os “frios” no estômago, a cabeça aluada, o desnorte total e a perda da noção das horas faziam-me acreditar que passei toda a noite acordado a pensar no que afinal não tinha sido um sonho. Encontrei mesmo a tal vontade, só não encontrei força para ir ter com ela, não a perdi de vista, nem a quero perder, ate encontrar alguém com quem a partilhar. Pode ser amanhã, na próxima semana, ou na próxima década...

25.4.10

Liberdade

Chamo do alto a liberdade
Que me roubaram sem desdém,
Já nem me importa quem a tem,
Exijo apenas a igualdade,
Ser comparado com os da mesma idade
Poder sorrir sem qualquer medo
Enquanto aponto firmemente o dedo
A quem se baseia na falsidade
Promíscua na ingratidão
Tentando fazer do vento tempestade
Que atinge e destrói sem exactidão
A mais pura e fiel verdade.
Tentam vender-me a troco do fel.
Querem de mim fazer o vilão
Que espalhou a destruição
Onde antes barrei o mel.
Dei o que tinha e o que me faltava
Segurei o leme até não ter mais força,
Capaz de impedir que um sorriso torça
Se num bolo-rei acertar na fava.
Mas de nada valeu e de nada me vale
Porque agora querem que me cale
Perante tamanha mentira e desfaçatez
Criada por pura malvadez
E que distorce a verdade de sentimentos
Passados que foram de acalentos
E que apregoados agora são nas costas
De fingidos, falsos, e que afinal nem gostas.
Estou cansado de viver com correntes
Que me amarram a ideias contra dizentes
Sobre o que no passado se viveu
E que no presente se distorceu.
Quero apenas ser livre e ter vida
Para contar a história não distorcida
Que com sentimentos não se brincam
Nem com as lanças que fincam
Uma alma dilacerada
À espera de ser libertada
Por um cravo que não será vil
E lhe traga o seu 25 de Abril...

18.4.10

Falsidade





Senti a falsidade nos passos que deste
Sabias que podias tropeçar neles,
Tinhas noção do quão agreste
Ia saber isso na minha alma reles...
Eu não te perguntei nem pedi nada,
Nem te ia pedir explicações.
Porque não existe conto onde és fada
E tudo não passa de meras ilusões.
É tudo um mero engano
Que na tua mente habita,
Quanto pensas que me faria dano
Se a verdade me fosse dita.
O comportamento estranho denunciou
Aquilo que não foi mais possível esconder.
O frasco que tinhas na mão quebrou,
Não tiveste cuidado, deixaste-o verter...
Não é com a mão que a estancas,
Nem eu o vou fazer espalhar,
Vou-te deixar viver essas pancas
Vou deixar a verdade espelhar...