27.3.08

Paulo Gonzo (com Lúcia Moniz) - Leve Beijo Triste

Teimoso subi
Ao cimo de mim
E no alto rasgei
As voltas que dei

Sombra de mil sóis em glória
Cobrem todo o vale ao fundo
Dorme meu pequeno mundo

Como um barco vazio
P´las margens do rio
Desce o denso véu lilás
Desce em silêncio e paz
Manso e macio

Deixa que te leve
assim tão leve
Leve e que te beije meu anjo triste
Deixo-te o meu canto canção tão breve
Brando como tu amor pediste

Não fales calei
Assim fiquei
Sombra de mil sóis cansados
Crescendo como dedos finos
A embalar nossos destinos

Deixa que te leve
assim tão leve
Leve e que te beije meu anjo triste
Deixo-te o meu canto canção tão breve
Brando como tu amor pediste

Deixa que te leve
assim tão leve
Leve e que te beije meu anjo triste
Deixo-te o meu canto canção tão breve
Brando como tu amor pediste


24.3.08

Eu, o sol e... o cu!




Todos nós nascemos e iremos morrer um dia, é a ordem natural da vida. Nascer, crescer e morrer. Entre o nascer e o morrer temos uma imensidão de pequenas coisas que nos vão marcando e vão sendo escritas no grande livro da nossa vida. Cada pessoa escreve o seu próprio livro, onde contém todos os sentimentos e peripécias que vamos vivendo. As fazes boas, as fazes más, as lutas por um objectivo, as desistências… Ultimamente tenho reflectido bastante sobre que caminho dar ao meu livro, se devo fechar um capítulo, se o devo manter por mais algum tempo encerrando-o depois por outra qualquer razão, se valerá a pena arriscar por o ponto final para virar a pagina… Dúvidas que não se calam e me obrigam a pensar em todos aqueles que não as têm. Apesar da tenra idade que tenho, já muitas vezes escrevi no meu livro algo que não tinha projectado, que mudou o rumo da história, por acreditar em mim, por lutar pelos meus objectivos, por defender o que possuo, por todas as conquistas que vou conseguindo com sangue, suor e lágrimas, por procurar incessávelmente a perfeição inatingível por qualquer mortal, por querer ser especial sem dar nas vistas, por querer ser diferente, por querer ser eu… Uma luta diária, cansativa e dura mas que me faz encher de orgulho por tudo aquilo que sou e que tenho. Troquei a entrada na Universidade pela entrada no mercado de trabalho, lutei contra a vontade dos meus pais, professores e amigos. Por entre as batalhas diárias travadas diariamente no emprego lá fui conseguindo amealhar dinheiro para conseguir cumprir aos poucos os meus objectivos. Tirei a carta comprei um telemóvel, um portátil, um carro, consegui a independência necessária para sustentar os meus desejos. Sacrifiquei-me, chorei muitas vezes, revoltei-me contra mim e contra o mundo e deu-me vontade de desistir, mas lá fui conseguindo levar o meu barco, remando muitas vezes contra a maré, outras deixando-me ir à deriva, esforcei-me e consegui atingir alguns objectivos. De todas as palavras redigidas até agora no meu livro lembro várias que não deveriam figurar lá, entre elas a troca da electrónica pela metalomecânica. Mundos dispares, a que me tive de afeiçoar sem preparação. Ajudou-me a raiva transformada em força, e a necessidade transformada em vontade. Ainda continua a ser difícil ouvir das bocas de muita gente “Eu bem te avisei, ias para a Universidade…”, custa porque eles não sabem o que é a vida, não sabem o que é trabalhar porque assim tem de ser, trabalhar e parte do salário ser para a ajuda da família, trabalhar porque o dinheiro auferido vai fazer mais falta a alguém do que a mim, sujeitar-me a empregos e horários que muitos desempregados rejeitariam, fazer sacrifícios para poupar algum dinheiro para que ele estique até ao próximo fim do mês, eles não sabem… Não sabem porque têm a vida facilitada, ofereceram-lhes a carta no dia em que fizeram 18 anos, a prenda por ter passado no exame de condução é o carro com que eles fazem inveja aos amigos, falam com o pai ou com a mãe quando se esticam mais um bocado nos gastos da mesada e eis que nascem mais uns euros na conta, gastam com exagero porque nada lhes custa, sobem na vida porque o dinheiro é algo que se dão ao luxo de esbanjar, e gabam-se, gabam-se de boca cheia que são os melhores, que têm os melhores empregos (mas não dizem que foi uma “cunha”) não lutam pela vida, nunca lutaram e nunca vão precisar de lutar, nasceram com tudo, e isso é o que vão deixar quando morrerem, nasceram com o cu virado para o sol, e por muito que abanem ou escondam o sol vai estar sempre a brilhar no fundo das costas, mas eu não, eu nasci com o cu na sombra e tenho de lutar, tenho de chorar, tenho de sangrar para triunfar, mesmo não sendo reconhecido, mesmo não me sendo dado o devido valor, e por muito que procure o sol com o cu ele há-de fugir-lhe sempre. Mas no fundo tenho orgulho do que sou, tenho orgulho de todas as escolhas que fiz, tenho orgulho em ser eu e agradeço por não ter nascido com o cu virado para o sol…

18.3.08

"O Pedro e o sonho" - A concretização


Cumpri o prometido. Levei o “Pedro” ao estádio, que orgulhosamente vestiu o cachecol do Braga. É difícil encontrar palavras que descrevam todos os momentos que quer eu, quer ele vivemos. Saltou, gritou, apoiou o Braga como nunca antes tinha feito, sentia-se a criança mais feliz do mundo. Apesar de não saber o nome dos jogadores, sentia-se um felizardo por poder vê-los ali tão de perto e ver que mesmo eles parecendo algo diferentes de todos os outros humanos, são no fundo pessoas como qualquer um de nós. Ele imaginava-os maiores, como se fossem Deuses, como se não reparassem que estavam ali milhares de pessoas a torcer por eles por serem tão importantes, mas não, ele sentiu que afinal são pessoas como ele, quis aprender os cânticos e tudo o resto, sentiu-se bem por estar ali no meio de toda aquela festa, sentiu-se em casa, sentiu-se Braguista!
Há quem diga que não há felicidade maior que ver um sorriso de uma criança, mas eu digo que há, é simplesmente inexplicável a sensação de realizar o sonho de um miúdo e sentir a felicidade que dos olhos lhe saía… Já em minha casa e enquanto jantava-mos, ele contava eufórico aos pais e à irmã como tinha sido o dia mais feliz da vida dele. Uma lágrima marota quis fugir, mas prendi-a no canto do olho, deixei-me embalar pelo momento e sorri ao mesmo tempo que me senti realizado, senti que nasceu mais um Braguista e a confirmação veio logo a seguir quando a irmã, mais nova do que ele, lhe atirou “Eu sabia que tu ias virar a casaca…”, e ele com o sorriso que não conseguiu disfarçar o dia todo respondeu que “Desta vez é diferente, até tenho um cachecol e tudo! Agora vou ser sempre do Braga”. Já o sol dormia à muito quando me despedi dele, apertou-me a mão com força, olhou-me nos olhos, e eu vi nos dele um brilho ofuscante, e um sorriso maravilhoso e gratificante, não resisti, abracei-o e disse-lhe um simples mas sentido obrigado. Ele ficou confuso pois obrigado era o que ia dizer, e eu é que agradeci, agradeci por me ele me ter deixado feliz e agradeci por ele sentir que o meu clube também é dele, agradeci pela felicidade que a sua criou em mim. Ele foi embora, ainda de cachecol ao pescoço, e eu senti-me feliz por realizar o sonho de um menino… E assim nasceu mais um Braguista, que no que depender de mim, será para sempre…

13.3.08

O Pedro e o sonho




O “Pedro” é um menino ainda, mora na aldeia, e estuda na pequena escola primária da sua freguesia nos arredores de Braga. Adora futebol, e no intervalo das aulas, todos os dias joga “à bola” com os poucos amigos que lhe servem de companhia nas aulas. Em casa, já sem os amigos, imagina no muro uma baliza como as que apenas na televisão viu até então. Não tem clube favorito, e confessa que quando diz que é sportinguista , diz apenas para fazer o pai feliz, pois ele também o é! Nascido no seio de uma família com poucos recursos, nunca entrou num estádio, e apenas viu o do Braga… por fora! Gostava de um dia entrar num estádio, ver como é, aprender todas as regras que no recreio da escola não se utilizam, saber o que é fora-de-jogo, saber porque é que a barreira não fica só a três passos do sítio onde foi marcada a falta, saber o que é uma claque, porque não se sentam, porque estão sempre a cantar, todas as curiosidades de um miúdo, que ainda nem fez 8 anos, acabado de chegar a um mundo totalmente novo. No último fim de semana expliquei-lhe que eu era braguista (palavra que ele desconhecia), que ia ver muitos jogos e já fui a muitos estádios, tentei explicar-lhe que mesmo quando o Braga perde eu continuo a gostar dele. Embalado pelo entusiasmo de mostrar o quão realizado e feliz me sinto em ser braguista, esqueci-me do sentimento que estava a provocar no miúdo, esteve sempre calado enquanto me ouvia com atenção e estranhei a ausência de perguntas por parte dele. Quando deparei com tal silêncio parei de falar. O miúdo olhou para mim com ar abatido e os olhos a brilhar e disse-me: “ Um dia, já há muito tempo, ainda nem tinha pedido as prendas ao Pai Natal, fui a Braga e passei perto do estádio. Estava a estrada cheia de carros, muitas pessoas com cachecóis e eu perguntei ao meu pai porque estava ali tanta gente, e ele disse que era por jogar o Braga, como eu gosto de futebol pedi-lhe para irmos ver. Ele parou o carro e foi até onde se compra os bilhetes, quando veio entrou no carro e disse que não podíamos ir porque os bilhetes eram muito caros. Nesse dia fiquei triste, e a partir daí, imagino-me no recreio da escola e aqui em casa a jogar no estádio do Braga, no meio daquelas pessoas todas a gritar. Por causa disso na quarta-feira tive um sonho. Enquanto estava a dormir sonhei que tinha um cachecol do Braga e um bilhete para ir ver o jogo e estava a ir para o estádio, mas depois acordei. Gostei muito daquele sonho, mesmo tendo acordado antes de entrar no estádio. Mas foi só um sonho. Como o meu pai não tem dinheiro para comprar os bilhetes não posso ir. Quando eu for grande, vou trabalhar muito, para poder ir ver um jogo de futebol!”. Continuei calado com um aperto no peito e uma lágrima ao canto do olho enquanto olhava a cara dele. Não consegui dizer mais nada e apenas sorri para disfarçar a dor, ele pegou na bola e foi marcar mais golos contra o muro. Esta semana soube da possibilidade de um sócio do Braga com cadeira anual poder obter um ingresso. Vou buscar o bilhete, comprar o cachecol e realizar o sonho do pequeno “Pedro”. Sei que ele vai ficar feliz, sei que nunca se vai esquecer deste dia e sei que de hoje em diante será mais braguista… Quantos Pedros existem por aí à espera de concretizar o sonho? Quantos novos braguistas estão a ser criados?

12.3.08

Clã - Sexto andar

Uma canção passou no rádio
E quando o seu sentido
Se parecia apagar
Nos ponteiros do relógio
Encontrou num sexto andar
Alguém que julgou
Que era para si
Em particular
Que a canção estava a falar

E quando a canção morreu
Na frágil onda do ar
Ninguém soube o que ela deu
O que ninguém
estava lá para dar

Um sopro um calafrio
Raio de sol num refrão
Um nexo enchendo o vazio
Tudo isso veio
Numa simples canção

Uma canção passou no rádio
E quando o seu sentido
Se parecia apagar
Nos ponteiros do relógio
Encontrou num sexto andar
Alguém que julgou
Que era para si
Em particular
Que a canção estava a falar

E quando a canção morreu
Na frágil onda do ar
Ninguém soube o que ela deu
O que ninguém
estava lá para dar

Um sopro um calafrio
Raio de sol num refrão
Um nexo enchendo o vazio
Tudo isso veio
Numa simples canção

Uma canção passou no rádio
Habitou um sexto andar

8.3.08

(In)Coleccionáveis


O coleccionismo fascina-me. Não sei explicar o que sinto quando vejo uma colecção seja do que for. Talvez o bichinho venha da família, o meu colecciona chávenas de café. Desde miúdo que cravava à minha mãe dinheiro para as minhas colecções. Cromos, tazos, berlindes, surpresas dos ovos kinder, tentava coleccionar um pouco de tudo nunca completando no entanto qualquer colecção. Com o passar do tempo e o evoluir natural da minha pessoa, fui-me dedicando a outras colecções. Mentalizando-me que nunca iria conseguir acabar uma colecção, decidi optar por colecções sem um número de items previamente definido, ou seja, nenhuma delas tem fim à vista e posso contribuir para o enriquecimento de cada uma toda a minha vida. Neste momento tenho 4 colecções deste tipo. Três delas são constituídas por artigos não comprados directamente para esse fim e a restante já exige algum investimento, ou seja, das três primeiras fazem parte, uma colecção de moedas em que, sendo moedas de euro troco por uma de valor igual e nas restantes cinjo-me ao que vai aparecendo no dia-a-dia; uma colecção de bonés, onde ao contrário do que se espera, não fazem parte bonés de marca mas sim daqueles oferecidos quer por marcas de carros, quer por bombas de gasolina, quer partidos políticos e outros mais; a última deste grupo é a colecção de bilhetes de futebol em que fiz parte da assistência. Sabendo toda a gente do vírus que me corre no sangue e me faz ter uma paixão descabida pelo Sporting de Braga, não será de estranhar que eu tentasse conjugar numa colecção interminável vários gostos pessoais, e quando se mistura a paixão pelo Sporting de Braga, o bichinho pelas infindáveis colecções e o sentimento com forma de gosto por símbolos nasce a outra colecção, a colecção de cachecóis. Viajando eu por esse país fora sempre que posso para acompanhar o meu clube nos mais diversos estádios, aproveito para confraternizar com os adeptos adversários (naquilo que deverá ser o verdadeiro desportivismo muitas vezes esquecido) tentando trocar impressões e mostrar que em Braga vive-se o Sporting de Braga. Uns trocados entre estas conversas, outros comprados por aí, outros ainda trazidos por conhecidos que sabendo deste meu fascínio se lembram de mim e decidem contribuir com mais um exemplar. Como uma colecção (no meu entender) só tem razão de o ser se for mostrada e apresentada para um “público” decidi, na impossibilidade de criar um museu (isto já sou eu a delirar) criar um blog com fotos e breves descrições de cada um dos exemplares. Passem por lá e opinem.