25.2.10

O buraco

Sinto-me deveras vazio,
Oco por dentro.
E de repente um frio
Que me deixa sem alento
E me atravessa o estômago
Deixando um sabor amargo
À velocidade de cada trago
Do veneno que entretanto sorvo
E me vai desfazendo o âmago.
Nunca quis ser um estorvo
Nem tão pouco me sentir a mais,
Desejei apenas que fossem leais
As palavras soltas ao vento afinal,
Não as tomava como tais
Mas sim do foro sentimental.
Terá valido a pena todo o sacrifício?
Sinto-me tão mal no fim disto,
Que apesar de não haver nenhum orifício
Onde possa esconder a minha cabeça
Cheia de tanta vergonha, eu insisto
Até que a desdita se despeça!
Porque não me disseste que era isso?
Não me importaria nem envergonharia,
Nem deixava que o meu género submisso
Vertesse lágrimas até ser dia
Por não poder explodir,
Por não poder mostrar esta raiva
Que me faz desejar sumir.
Desaparecer sem que ninguém saiba.
Como sou capaz de ser tão burro?
Entender sinais que nem existem,
Ser surpreendido por um murro
E já nem as forças subsistem.
Não quero mais crer em nada,
Quero apenas o meu buraco
Com a minha alma dissecada
E aquilo que ama enfiado num saco.
Já não preciso mais dele
E recuso-me a dizer o nome,
Para não ter de sentir o fel.
Deixei de existir, agora some!

22.2.10

Porque o futebol não é só golos

Aposto que muitos concordam com o título, mas só alguns sentem o porquê de eu o ter escolhido. A razão é muito simples e prende-se com os acontecimentos dos últimos dois dias, o futebol não é só golos, e ser do Braga não é só quando se ganha. Tal como um jogo que termina 0-0 é futebol, o Braga quando perde, seja por 2, por 3, por 10 continua a ser o Braga, e eu continuo a afirmar-me Braguista, não foi uma escolha que fiz, mas também não me foi imposto, nasceu comigo e cresce comigo a cada segundo que passa, sinto-me bem com isso, e não o nego seja em que circunstância for. Voltarei a festejar de forma efusiva uma permanência se assim o tempo o ditar, porque o meu orgulho veste vermelho com mangas brancas. Não é que seja grande a minha memória, mas acredito que este seja o primeiro ano em que a 10 jornadas do fim estamos a 1 ponto do primeiro classificado, e dependemos só de nós para atingir seja que objectivo for, além disso temos apenas duas derrotas! Acham normal? Eu não, durante anos habituei-me a ver o Braga sofrer a 2ª derrota entre a 3ª e a 5ª jornada, e é por isso que me sinto nas nuvens e completamente deslumbrado com a presente época.
Já antes tinha escrito algo sobre “o meu lado do futebol”, o lado da bancada, o lado da família a que pertencemos só em certos momentos. Ontem durante a viagem na camioneta nº 5 que saiu do 1º Maio senti-me pertencente a uma nova família. Por momentos senti que o Bruno, o Paulo, o senhor que me ofereceu um pacote de batatas fritas, a senhora que me ofereceu os queques, a senhora que me ofereceu o presunto, e mais uns quantos anónimos que nos fizeram companhia, eram parte da minha família. Eram meus tios, meus primos, meus irmãos, meus sobrinhos... Sei que se hoje passar por eles na rua é certo que não me reconhecerão, mas durante toda a viagem é como se já me conhecessem à décadas. É também isto que nos une, a fraternidade em torno de quem não conhecemos, a mim e ao meu vizinho de viagem ofereceram-nos algo para tapar o buraco no estômago, nós distribuímos boa disposição e tentámos fazer esquecer o que dentro do campo se passou, foi uma forma de agradecimento, fazer-me passar por “Reniie” ou por “Ben-u-ron”, pelo menos foi essa intenção. Mesmo após uma pesada derrota fomos capazes de dar a volta por cima, e divertimo-nos durante os 50Km que nos separavam de casa e que foram percorridos em 5 minutos. Sim 5 minutos, lembram-se da publicidade do comboio mais lento do mundo que fez a viagem mais rápida de sempre e chegou à mesma hora dos outros dias? Eu estive nesse comboio ontem, e combinámos lá que se tudo ajudar iremos apoiar o Braga à foz do rio Sado. Não os conheço, sei poucos nomes, sei que na pedreira moram no A5 e que visitam aqui o fórum, mas isso interessa mesmo? Eu para eles sou apenas um maluco que os fez rir. Se me aproveitei para fazer um agradecimento público por me terem matado a fome? Talvez, mas também dei um banho de Braguismo a muito forista, porque futebol não é só golos...

16.2.10

Fim da luta...


O carnaval está a acabar, e quem me dera poder acabar também junto. Não disse que amava ninguém ao contrário do apregoado, e ninguém se chateou também. A verdade é que não sou capaz de o dizer sem o sentir, e como passei o Carnaval sem ver ninguém, não o senti, nem o pude tampouco exprimir. O bem de tudo é que ninguém estava à espera que eu demonstrasse o sentimento, ninguém conta com ele sequer. Sinto-o, sei que sinto, mas calo-o, por não o poder ter, por medo, por vergonha, por falta de força e coragem, e não me importa que me chamem fraco, eu não quero ser forte, não quero ser herói, quero passar despercebido, no meu luto, no meu esquecimento, continuar a ser um anónimo entre uma multidão que se conhecesse, continuar a ser o Nemec que escreve devaneios, e continuar a ser o Rui que pensa demais e cala os actos. De entre todos os buracos que passei, talvez este seja o mais fundo e o mais escuro, talvez este seja o último de onde não será fácil me arrancar, e onde vou lutar sozinho contra o que quer que ele me traga, porque estou cansado de me queixar, e estou farto de viver num mundo de faz de conta, onde eu faço de conta que sou mais burro, e onde eu faço de conta que não reparo nos pequenos bicos que me espetam quando se aproximam, ou finjo que está tudo bem. Não quero voltar a ter sentimentos por ninguém, transformem-me numa máquina que simplesmente reage a estímulos, mas que não sente, mas que não sofre. Deitem-me fora uma coração que se diz feito para amar e coloquem no seu lugar uma pedra, fria, como o gume da lança que me cravaram algures entre o ego e a alma. Sinto uma quebra nas forças que me faziam querer continuar, me levantavam e secavam as lágrimas salgadas que me morrem no queixo. Não tenho mais força, mas continuarei a luta, mesmo que saia derrotado, antes morto que ferido! Pintei a Primavera com letras a flores, estrelas e borboletas, Primavera essa que nunca chegou, por engano meu, por fantasia dos meus sonhos, por acreditar no impossível, e por ser estúpido ao ponto de me voltar a deixar iludir por um órgão constituído todo ele de fantasia e quem nem sequer existe dentro de mim. Afinal deveria ter pintado era o Outono com letras às folhas secas e ao seu estalar quando as piso, ou ao Inverno e à sua neve branca que nunca vejo cair. Poderá ser o fim de uma longa história, triste história, o fim de uma luta, e o começo de um arrastar de caixão. Provavelmente morro com o fim da luta... mas se te faz feliz...

11.2.10

Se disser que te amo no Carnaval, levas a mal?

Está a chegar mais um Carnaval
E mesmo que não o queira
Chegará na terça-feira,
Não precisa do meu aval
Para trazer a farra e a festa
E sei que não será desta
Que farei parte do arraial.
Não tenho para isso cabeça
Mesmo que alguém me peça,
Nem tão pouco para gozar
Aquele dia de euforia
E quando o vejo passar
Já nem estou certo do queria.
Talvez quisesse por um dia
Perder toda e qualquer estribeira,
Para ser de inteira folia
Só com a alegria por conselheira
Mas não serei capaz,
Tal como não o sou de dizer
Aquilo que a alma me apraz
Nem sequer tentar fazer
Com que ela se sinta em paz.
E se aproveitar o dia do festival
Aquele em que tudo é normal,
Dizer que te amo no Carnaval,
Levavas a mal?

9.2.10

Soubesses tu...


Deverei dizer-te o que entendo
Acerca dos sinais que recebo?
Será mesmo que os percebo?
Talvez sejam antes fruto
De uma mente ilusionista
E de um coração que veste luto.
Não quero que seja uma lista
De possibilidades e probabilidades,
Não quero que seja obra alquimista
Nem um sentimento cheio de falsidades.
Quero apenas ver a verdade
Mesmo que ela morda e lacere,
Sejam os sonhos não mais que a realidade
E descobrirei que o sentimento fere.
Mas nada disso me interessa.
Não seria a primeira vez
Que algo em mim se atravessa
Com tamanha desfaçatez.
Interrogo-me se devo perder o medo
Que te afastes por te contar
O que afinal quase nem é segredo
Ou não fosse eu o único a guardar.
Continuo a apreciar teu voo,
Teu bater de asas parece aproximar-se
E apercebo-me do quanto destoo,
Terei a mente a apaixonar-se?
A mente sim e não o coração
Esse há muito que já não tem perdão
Por me enganar a cada minuto que passa
E não lhe importa nada que faça
Seja para seu bem ou para seu mal
Faz-me acreditar no que poderá ser
A fuga do seu funeral
E o encontro do meu sem saber.
Deixa-me em momentos de aflição
Sem saber que decisões tomar
Se devo avançar com toda a convicção
Ou devo obrigar o seu bater acalmar.
De tantas vezes que já caí
Não sei se serei mais capaz de andar,
De alguns buracos já saí
Mas este talvez seja para ficar,
Talvez seja a minha última morada
Por não ser capaz de te dizer
Que tenho a alma lacerada
Por te amar e não poder.
Soubesses tu que é por ti que escrevo
E a ti te imagino uma borboleta
Soubesses tu que assim te descrevo
E já me tinhas tirado desta roleta.
Soubesses tu que o que escrevo vocifero,
Para que ao longe oiças, assim espero
Soubesses tu como realmente te quero
E já saberia eu que o que sinto é vero...

4.2.10

Carta aberta ao Sporting Clube de Braga

Uma carta não tem de servir só para fazer uma crítica depreciativa ou apresentar uma sugestão/queixa. Pelo menos não tenciono fazer nada disso com esta. Tenciono simplesmente dirigi-la a toda a estrutura do Sporting Clube de Braga, desde dirigentes e atletas a empregados e colaboradores.
Apesar de ainda ser novo, já acompanho o Sporting Clube de Braga desde muito miúdo, por influência do meu pai. Assisti apenas à conquista de um troféu (a Taça Intertoto) mas ainda assim, nos anteriores anos, em que não se sonhava sequer em conquistar troféus, sempre me orgulhei de ter o Sporting Clube de Braga no coração. Sempre o defendi e lutei para que por onde quer que passasse o nome do Sporting Clube de Braga fosse visto com bons olhos. Nos últimos anos todos nós assistimos a um crescimento do clube a vários níveis, e com ele abriram-se várias possibilidades de ganhar algo mais que o costume, abriram-se as portas do sonho. Por diversas vezes se criou nas nossas mentes um pequeno brilho de que poderíamos estar perto de ser campeões. A imprensa nunca acreditou e os manipuladores acabavam sempre por deitar por terra os nossos esforços, porém chegou a presente temporada e com ela o outrora brilhozinho se tornou numa luz forte e ofuscante que torna o sonho tão real. A imprensa continua a não acreditar, nos bastidores joga-se sujo, mas em campo o Sporting de Clube de Braga tem dado água pela barba a todos eles. Fomos capazes de enfurecer de tal modo o sistema de manipuladores que o jogo sujo se tornou visível aos olhos de quem quer ver, infelizmente ninguém nos ajuda a mostrar a injustiça para onde nos empurram. É por isso que temos de ser nós, clube e adeptos, a lutar com todas as armas que temos e até que as forças não nos deixem mais, para que a verdade seja reposta, porque eu como adepto dos Gverreiros do Minho estou farto que me rebaixem e que me empurrem para baixo com ilegalidades. Quero ainda agradecer a todo clube por me ter criado um sonho e por me continuar a alimentá-lo, tenho por esses estádios fora enfrentado as condições mais agrestes e lutado para eliminar todos os contratempos de maneira a poder dizer presente fim-de-semana após fim-de-semana em mais uma batalha, em mais uma conquista, e dou a minha palavra que vou continuar a fazê-lo, por entre chuvas torrenciais e sol abrasador, em horários poucos dignos para quem quer ver e praticar futebol, mas tudo farei para marcar presença, até que o coração deixe de bater, para que me oiçam os que se fazem de surdos e me vejam os que se dizem cegos, porque vocês merecem. Sou apenas um que vos escrevo, mas estou certo que muitos milhares assinariam por baixo, porque para mim, aconteça o que acontecer, vocês serão sempre os verdadeiros campeões!