26.7.08

Gverreiros do Minho - A conquista da Ásia Menor


Ao longe olho o horizonte
Sem qualquer pressa ou anseio,
Avisto algo no cume do monte
Um brilho que me traz receio.
Uma figura humana vislumbro,
Vem a cavalo montado.
Desconheço qual o seu rumo,
E de bandeiras vem ladeado.
Aproxima-se rápido como vento,
Já ouço o seu marchar vitorioso,
Não os identifico, mas tento
Desvendar o cavaleiro majestoso.
Nas bandeiras fixo o olhar
Em busca de algo que me afoite,
O vento fá-las desfraldar
E mostram-me a Sr.ª do Leite!
É impossível esconder o fulgor
Misturado com tamanha emoção.
Foram conquistar a Ásia Menor.
Está de volta a minha Legião!
Travaram batalha em Sivas
Com povo de diferentes costumes.
Sua vitória merece “vivas”,
Estes bravos saíram incólumes!
Da vitória existe ainda o cheirinho,
Mas não há tempo para descansar.
Prepara-te Gverreiro do Minho,
Eles estão prestes a atacar.
Juntos nos vamos preparar
Para a Pedreira defender,
A vitória queremos conquistar,
Medo de lutar nunca iremos ter.
A batalha não será fácil
Disso estou eu bem ciente,
Venham todos os trinta mil
Para como eu dizer “presente”...

6.7.08

As portas que (não) me abrem


Já não sinto! Não sinto nada, não sinto o sangue a correr, não sinto o bater do coração, não sinto o cérebro a pedir descanso, não sinto a felicidade, não sinto os sorrisos que dou, só sinto dor, medo, angustia, nervosismo, ansiedade! À muito que me penitencio neste corredor da vida, várias vezes tentei abrir portas que me levassem a salas diferentes, ou a outros corredores com mais portas, mas além da maçaneta todas elas tinham uma fechadura... sem chave! Bati nelas, em todas pelas que passei, sem realmente saber onde me levavam, mas bati porque queria mudar o rumo, mudar o destino, mudar de vida. Apesar da insistência nenhuma me deixou entrar, em algumas ninguém me atendeu, ignoraram-me por completo, e eu sei que havia alguém do outro lado que me podia abrir a porta, mas simplesmente não se deu a tal trabalho, outros entreabriram a porta mas negaram-se a ceder-me passagem, diziam que não era aquele meu destino, era naquele corredor da “morte da sanidade” que eu deveria permanecer pois foi esse que escolhi e deveria saber de antemão que não seria aceite por todos, mas eu não sabia, e não fui eu que escolhi entrar na porta que tinha no inicio deste corredor de sentido único, fui forçado a entrar, o chão da sala que existia antes deste corredor estava velho e podre, a cair para um vazio de onde seria quase impossível sair, por isso entrei na maldita porta que apenas dizia empurre e onde não havia ninguém para negar a entrada. Andei muito tempo desde a última porta em que bati, eu sei que não pertenço a este corredor apesar de quem passa por mim não fazer ideia de tal e me queira moldar para aqui permanecer até não haver mais portas nem portinhas, até ao portão que dizem existir no fim que leva ao derradeiro descanso, mas muito recentemente encontrei duas portas, ficando com três hipóteses, bater numa ou em outra das portas ou continuar neste corredor cada vez mais estreito e mais monótono. Tentei parar para pensar, mas o tempo fazia-se escasso e o peito apertava, o medo de voltar a ouvir um não ou de se escusarem a ver-me a cara era grande mas a vontade de mudar e de acreditar, aliou-se com a fé e misturou-se com a teimosia. Bati em ambas com bastante força para ter a certeza que me fiz ouvir. A porta do lado esquerdo fez um grande eco, como se tudo estivesse vazio, ouvi passos em direcção á porta, cresceu a ansiedade, acelerou o coração e ninguém falou, nada mais ouvi, percebi que talvez eu não fosse bem-vindo mas ainda assim não perdi a esperança que alguém a abra um dia (tarde demais quem sabe), a do lado direito foi um bater mais seco, era uma porta dura, em madeira maciça, logo fui atendido por alguém que abriu a porta, apanhou-me de surpresa e quando me pediu para aguardar que iria chamar por alguém que se poderia interessar pelo que eu teria para dizer, senti o que muitas outras vezes sentira, a vontade de me entregar de corpo e alma a uma vida nova, a vontade de dar tudo de mim, a vontade de finalmente triunfar, a espera foi curta e a felicidade andava estampada nos meus olhos que brilhavam por entre o calor do dia. Foi me dito que apenas uma pessoa poderia entrar naquele local, e eu apercebi-me que não estava sozinho pois mais portas ligavam aquele espaço com outros, informaram de tudo o que necessitavam que essa pessoa fosse, senti que teria de me esforçar arduamente para o conseguir e senti vontade, força e determinação suficientes para poder triunfar, pediram-me para aguardar que a porta seria novamente aberta brevemente. Nos primeiros tempo sentia-me extasiado e empolgado para ver rodar novamente a maçaneta, mas ela tardava e a esperança tinha pressa. Quando já pouca existia eis que novamente a maçaneta roda e a porta abre, disseram-me que seria recebido por alguém que decidiria se o meu futuro passava por debaixo da ombreira da porta no dia seguinte de manhã. Entusiasmei-me, demais até, comecei a imaginar que tudo iria correr bem quando sou interrompido pelo abrir da porta de onde uma voz me pedia desculpa mas que apenas seria recebido de tarde, pouca diferença me fazia, apenas ia aumentar o tempo de espera e mais iria crescer a ansiedade. E cresceu, cresceu, cresceu... Cresceu até me pôr a barriga a doer, os dentes a trincar as unhas, e o pensamento a querer acelerar o relógio. O relógio não acelerou e o tempo já se arrastava quando me veio à lembrança outras vezes em que bati em portas me receberam muito bem, me deram a entender que gostavam de contar comigo e depois simplesmente me ignoraram ou me disseram de uma maneira muito leve que não contavam comigo e me deixaram do lado de fora da porta. Assentei bruscamente os pés na terra e a dor de barriga passou para o peito, senti uma mágoa enorme e um medo terrível do dia seguinte, pois era já noite e o sono não chegava, chorei com os nervos e medo de falhar e voltar a desiludir quem me rodeia e a mim mesmo, acabei por ser vencido pelo cansaço lavado em lágrimas. Acordei bruscamente e sobressaltado com o abrir da porta de manhã cedo. Quando pensava que tudo ficaria resolvido e já estava preparado para o pior a mesma voz me volta a pedir desculpa pelo facto da pessoa que me teria de receber não estar presente e adiando tal encontro para dez dias depois. Voltou o medo da desilusão, do esquecimento, mas ao mesmo tempo uma réstia de esperança por me terem aberto por quatro vezes a porta, foi até hoje a porta onde melhor fui atendido. Estão a ser dez longos dias e ainda nem a meio chegaram, ainda a procissão vai no adro, e eu já sinto o medo, a ansiedade, a esperança, tudo misturado, tudo sem nexo. Tento viver um dia de cada vez, mas é difícil, quando fico só dou comigo a encontrar a vontade de entrar naquela porta e a perguntar a mim mesmo como será do outro lado, ao mesmo tempo que a vontade de permanecer neste agoniante corredor que me mói e quase nula e está mesmo perto do fim, estou a perder a vontade a cada segundo que passa e pergunto-me depois “ se não entrar na porta terei força para continuar neste corredor? Onde vou encontrar a vontade que vou perdendo agora?”. São muitas perguntas, muitas vontades, muitos sentimentos, muita coisa para uma cabeça só, e uma só... uma só vida! Quero vivê-la como a pintei em pequeno, não quero permanecer neste corredor mas para isso preciso que me deixem sair, que me deixem entrar numa porta, que me deixem voltar a ser eu, que me façam parar estas lágrimas que caem espaçadas entre cada vez que engulo em seco e que cerro os dentes com toda a força ao mesmo tempo que escrevo e desabafo, só quero mudar de rumo e estou a lutar arduamente por isso, só quero que não me deixem escrever mais isto, só quero... deixem-me, por favor!