29.11.07

Mais um 29 de Novembro




Faz hoje, exactamente 200 anos, que a Família Real Portuguesa partiu em direcção ao Brasil com o objectivo de escapar às inimigas mãos de Junot, o general francês a quem Napoleão Bonaparte confiou a primeira invasão a terras de Camões.
Pode o primeiro parágrafo ter bastante importância na história do meu país, pode até ser alvo de estudo nas aulas de História, mas para mim, existe algo que ultrapassa tal importância, algo bem mais recente... Não é estudado na escola em disciplina nenhuma, nem sequer é merecedor de tal. Apenas me diz respeito a mim, e por tal, já é de estrema importância pessoal. Faz hoje 21 anos que passei a constar como um novo cidadão português no Registo Civil lusitano. Podia olhar para trás, reviver, ainda que apenas em pensamento, todas as coisas boas por que já passei, lembrar todas as más que, por minha culpa ou por culpa de outrém, me fazem querer mudá-las e me fizeram aprender com os próprios erros para não cair duas vezes na mesma casca de banana. São 21 anos de encontros e desencontros, derrotas e vitórias, altos e baixos, tudo o que uma vida normal tem. Podia, realmente podia, mas não o vou fazer. Não o faço por uma razão simples, ontem, alguém com uma opinião que eu respeito e valorizo disse-me que “quando olhámos para trás podemos não nos aperceber do degrau que temos à frente, e podemos (ou não) cair nele”, daí que, a jogar pelo seguro, vou olhar bem para o degrau, para não tropeçar nele, ainda que, se por ventura, este degrau me leve a um nível mais baixo vou cair de pé e com uma certeza: um dia vai aparecer um degrau para subir, e aí eu vou estar atento e vou subi-lo com os pés bem firmes...
Desejo a todos os que hoje fazem anos um excelente dia, e como forma de agradecimento a todos os que se lembraram de mim deixo, mesmo antes de partir, uma musica...




24.11.07

Devagar




Aos poucos. Assim vai acontecendo o meu regresso, no fundo como tudo na minha vida. É difícil viver o dia de hoje com 10% do pensamento na saudade de ontem, mais 10% no desejo de poder voltar atrás para modificar o que ficou gravado,5% a tentar mudar o futuro, e com uma grande parte a recear o futuro próximo. Tento viver de pequenos momentos onde se mistura o passado, o presente e o temível futuro. Continuo a sorrir para que não se note nenhuma diferença em mim, mas minto, minto como quantos dedos tenho nas mãos. Sinto-me triste e desorientado por dentro. Tenho medo, medo de ver as horas passar, medo da correspondência que o carteiro traz, medo que o futuro chegue... Ouço dizer, pelas ruas da minha memória, que com a saúde não se brinca. E eu juro a pés juntos, que não me lembro de ter brincado com ela nos 20 anos que levo de existência. Juro ser tão verdade como a lágrima que me escorre. Mas ela é irmã gémea da vida, e como se não chegasse ainda tem muito em comum com ela, é injusta, dura e atinge ao acaso...
À pouco menos de um ano, um zumbido no ouvido e um líquido invulgar que me escorria do ouvido esquerdo fez-me ganhar uma ida ao médico, na altura o médico da fábrica onde trabalhava. Foi-me dito que era um infecção pequena e que com o tempo passava... Mas não passou, e por força do aumento de liquido que parecia nascer no orifício por onde ouço, resolvi ir a uma urgência no posto médico. Desta feita na vinda para casa tive de passar pela farmácia e levantar o receituário. Uma otite, era do que padecia. Acalmou por uns tempos o fluxo que brotava anteriormente, mas acabado o tratamento com antibiótico voltou a aumentar, e desta vez vinha mais frequente, mais grosso e tinha cheiro (insuportável diga-se). Nova ida às urgências, novo antibiótico receitado, mais forte desta vez... Parou de escorrer, mas a audição estava diferente... mais baixa... bem mais baixa... Volta o fluído, mais grosso, mais escuro, mais mal cheiroso, e desta vez com sangue à mistura uma vez entre outra. O susto leva-me de volta ao centro de saúde, mais um antibiótico, que no fundo, era a junção dos dois anteriores, e o conselho de consultar um otorrino. A ausência de dor, sempre me levou a crer que seria algo passageiro, mas o último conselho dado como forma de única solução e a perda parcial de audição abalaram tal crença. Após consultado o otorrino ganho dois antibióticos e um anti-estaminico que me iria ajudar a manter o ouvido seco, num tratamento de cerca de 8 dias. Um pedido de um TAC veio anexado à novidade de que o tímpano esquerdo teria uma ruptura de cerca de 3mm. De volta ao posto médico na tentativa de bater um recorde, lá consigo a consulta com a médica de família que me iria passar o tal TAC enquanto eu a punha ao corrente da situação. Marcado e feito o TAC e já com o último tratamento terminado, volto ao consultório de otorrinolaringologia para saber o resultado. A eternidade de cerca de 20 min na sala de espera, faz-me suar, acelerar o coração, e alienar-me para um outro lugar qualquer. Ouço o meu nome ser chamado e não me lembro sequer de como fui ter ao consultório, a ânsia não deixou. O relatório trazia escondido algo que não estava de todo à espera. Um tumor. Benigno e pequeno, mas não deixa de o ser por isso e não deixa de me arrepiar nem de eu o temer. “Habita” no meu ouvido perto da bigorna e do martelo (2 dos 3 ossos constituintes do ouvido médio). Uma operação resolve o problema e dentro de 15 dias deverei receber uma carta do hospital com notícias. Daí eu não desejar o futuro, daí eu ter medo que os ponteiros se mexam, daí eu ter medo do que traz o carteiro...
Feliz daquele que lhe dói alguma coisa, é sinal que sabe que tem um algo mal... ao contrário de mim...