24.11.07

Devagar




Aos poucos. Assim vai acontecendo o meu regresso, no fundo como tudo na minha vida. É difícil viver o dia de hoje com 10% do pensamento na saudade de ontem, mais 10% no desejo de poder voltar atrás para modificar o que ficou gravado,5% a tentar mudar o futuro, e com uma grande parte a recear o futuro próximo. Tento viver de pequenos momentos onde se mistura o passado, o presente e o temível futuro. Continuo a sorrir para que não se note nenhuma diferença em mim, mas minto, minto como quantos dedos tenho nas mãos. Sinto-me triste e desorientado por dentro. Tenho medo, medo de ver as horas passar, medo da correspondência que o carteiro traz, medo que o futuro chegue... Ouço dizer, pelas ruas da minha memória, que com a saúde não se brinca. E eu juro a pés juntos, que não me lembro de ter brincado com ela nos 20 anos que levo de existência. Juro ser tão verdade como a lágrima que me escorre. Mas ela é irmã gémea da vida, e como se não chegasse ainda tem muito em comum com ela, é injusta, dura e atinge ao acaso...
À pouco menos de um ano, um zumbido no ouvido e um líquido invulgar que me escorria do ouvido esquerdo fez-me ganhar uma ida ao médico, na altura o médico da fábrica onde trabalhava. Foi-me dito que era um infecção pequena e que com o tempo passava... Mas não passou, e por força do aumento de liquido que parecia nascer no orifício por onde ouço, resolvi ir a uma urgência no posto médico. Desta feita na vinda para casa tive de passar pela farmácia e levantar o receituário. Uma otite, era do que padecia. Acalmou por uns tempos o fluxo que brotava anteriormente, mas acabado o tratamento com antibiótico voltou a aumentar, e desta vez vinha mais frequente, mais grosso e tinha cheiro (insuportável diga-se). Nova ida às urgências, novo antibiótico receitado, mais forte desta vez... Parou de escorrer, mas a audição estava diferente... mais baixa... bem mais baixa... Volta o fluído, mais grosso, mais escuro, mais mal cheiroso, e desta vez com sangue à mistura uma vez entre outra. O susto leva-me de volta ao centro de saúde, mais um antibiótico, que no fundo, era a junção dos dois anteriores, e o conselho de consultar um otorrino. A ausência de dor, sempre me levou a crer que seria algo passageiro, mas o último conselho dado como forma de única solução e a perda parcial de audição abalaram tal crença. Após consultado o otorrino ganho dois antibióticos e um anti-estaminico que me iria ajudar a manter o ouvido seco, num tratamento de cerca de 8 dias. Um pedido de um TAC veio anexado à novidade de que o tímpano esquerdo teria uma ruptura de cerca de 3mm. De volta ao posto médico na tentativa de bater um recorde, lá consigo a consulta com a médica de família que me iria passar o tal TAC enquanto eu a punha ao corrente da situação. Marcado e feito o TAC e já com o último tratamento terminado, volto ao consultório de otorrinolaringologia para saber o resultado. A eternidade de cerca de 20 min na sala de espera, faz-me suar, acelerar o coração, e alienar-me para um outro lugar qualquer. Ouço o meu nome ser chamado e não me lembro sequer de como fui ter ao consultório, a ânsia não deixou. O relatório trazia escondido algo que não estava de todo à espera. Um tumor. Benigno e pequeno, mas não deixa de o ser por isso e não deixa de me arrepiar nem de eu o temer. “Habita” no meu ouvido perto da bigorna e do martelo (2 dos 3 ossos constituintes do ouvido médio). Uma operação resolve o problema e dentro de 15 dias deverei receber uma carta do hospital com notícias. Daí eu não desejar o futuro, daí eu ter medo que os ponteiros se mexam, daí eu ter medo do que traz o carteiro...
Feliz daquele que lhe dói alguma coisa, é sinal que sabe que tem um algo mal... ao contrário de mim...

2 comentários:

Trivela7 disse...

Não fazia ideia...
Mas vais ver k td vai correr bem...
Não deves temer o futuro, ele pode ter a soulção para muito do temor do presente...
xxx

Anónimo disse...

Ola munino da munina =D...
Pois,foi um grande balde de agua fria,mas sabes bem que depois da operaçao nao te vais incomodar mais com esse ouvido,e parece ser uma sirurgia simples,e tens que confiar nos profissionais que te vao operar,porque é so pa teu bem,nao podes desanimar nem andar sempre a pensar nisso,porque por mais que queiras disfarçar,isso reflecte-se muito em ti.
Tens que viver um dia de cada vez e nao pensar sempre no proximo como um pesadelo que ai vem,e se pensares,tens que pensar que é um mal que vem por bem...Eu se tivesse no teu caso estava cheia de medo,mas pensava que era o melhor para mim e o medo fugia...e o munino tem que pensar que é forte e que vai superar sim?=)
A munina ta aqui para tudo que precises,nunca duvides disso.Nao tenho falado muito no assunto porque tambem nao te quero lembrar...
Pensa em coisas boas e deixa tudo acontecer naturalmente ;)
Beijinhos
Amo-te