«Onde estou, tenho o Terreiro de Moisés à vista.
Conhecido por todos, não por este nome, o terreiro ostenta com orgulho um cavalo em pedra e seu cavaleiro
segurando uma lança ao ombro. Que cavaleiro é toda a gente o sabe, que se trata
de um santo pouca gente acreditaria se eu contasse. Trata-se de um militar do longínquo
exército romano. Sofria de um grave problema de visão, mas acabou torturado,
sem dentes e sem língua, por ter abandonado a vida militar e se tornar monge,
por deixar de ser pagão e se ter convertido. Mas o que teria acontecido na vida
dele afinal para esta súbita mudança? E o que faz uma estátua dele no Terreiro
de Moisés? Sendo este um local muito visitado, deveria constar uma pequena
informação sobre tão grande estátua e se alto eu soubesse falar, para que toda
esta gente que o fotografa pudesse ouvir diria que este a quem fotografam se
trata do soldado romano que perfurou Jesus Cristo, quando este estava
crucificado, para confirmar que já estaria morto, respingou-lhe o sangue nos
olhos, curou-o, deixou a vida militar e tornou-se monge, foi perseguido e
torturado. Por cá pouca gente sabe disso, e quando alguém nos massacra a
moleirinha dizemos “Vai xotar as moscas ao Longuinhos…”»
24.6.12
20.6.12
Sem corda
Desespero
ao olhar o relógio que não avança, desespero ao não ver os ponteiros mexer à
velocidade dos meus dedos nervosos que se apertam aleatoriamente entre eles…
Desespero porque descobri que nem sempre sobram forças para erguer obras e nem
sempre as obras já erguidas assim se mantêm. Chateia-me a pequenez mental e a
mesquinhez de mentes que se acham brilhantes por segurarem uma lâmpada. Não sou
dono do Mundo e não sou dono da razão, mas sou dono da minha sanidade mental, e
por isso olho o relógio que tenho em frente, os ponteiros não mexem, o pendulo
não oscila, e o martelo não assinala as horas, nem as meias, nem os quartos.
Podia dar-lhe corda, mas não quero, prefiro contemplá-lo assim, sossegado, desinteressado
do mundo, porque mesmo quando lhe dizem que está errado, que está atrasado, que
está parado, ele mantém a sua postura, digna, bela, inabalável… Acho que afinal adoro vê-lo
parado e descobri que o adoro assim ao descobrir que o meu mundo afinal não é
tão grande quanto eu pensava, e já não cabem nele aquelas esperanças mortas
pelo tempo que o relógio fez passar. Nada parece completar aqueles buracos que
cuidadosamente foram identificados pela máquina dos sonhos, por agora parada em
frente a mim, e que faz questão de me lembrar que dos sonhos idealizados
enquanto o relógio andou, poucos foram realizados… Tenho a alma cansada, a
pedir apenas um pouco de repouso, um pouco de colo…
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