20.6.12

Sem corda





Desespero ao olhar o relógio que não avança, desespero ao não ver os ponteiros mexer à velocidade dos meus dedos nervosos que se apertam aleatoriamente entre eles… Desespero porque descobri que nem sempre sobram forças para erguer obras e nem sempre as obras já erguidas assim se mantêm. Chateia-me a pequenez mental e a mesquinhez de mentes que se acham brilhantes por segurarem uma lâmpada. Não sou dono do Mundo e não sou dono da razão, mas sou dono da minha sanidade mental, e por isso olho o relógio que tenho em frente, os ponteiros não mexem, o pendulo não oscila, e o martelo não assinala as horas, nem as meias, nem os quartos. Podia dar-lhe corda, mas não quero, prefiro contemplá-lo assim, sossegado, desinteressado do mundo, porque mesmo quando lhe dizem que está errado, que está atrasado, que está parado, ele mantém a sua postura, digna, bela, inabalável… Acho que afinal adoro vê-lo parado e descobri que o adoro assim ao descobrir que o meu mundo afinal não é tão grande quanto eu pensava, e já não cabem nele aquelas esperanças mortas pelo tempo que o relógio fez passar. Nada parece completar aqueles buracos que cuidadosamente foram identificados pela máquina dos sonhos, por agora parada em frente a mim, e que faz questão de me lembrar que dos sonhos idealizados enquanto o relógio andou, poucos foram realizados… Tenho a alma cansada, a pedir apenas um pouco de repouso, um pouco de colo…

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