23.10.12

Teatro dos sonhos

 
Chamam-lhe teatro dos sonhos. Nem me interessa saber porquê, para mim ficará para sempre gravado esse nome por me ter feito sonhar, e como o sonho comanda a vida, fez-me viver. Fez-me sonhar primeiro com a possibilidade de voltar a terras de sua majestade, mas não fui, fiquei por cá a sofrer, podia ter sido pior e podia estar do outro lado do Mundo a sofrer ainda mais. Sofri, antes do apito inicial o friozinho na barriga não me deixava sossegar, mexia as pernas sem sentido, não me concentrava no que me diziam, não fazia sentido por mais atinado que fosse. Após as pancadinhas de Molière, um cruzamento com olhinhos do Hugo Viana encontrou a cabeça do Alan que lhe deu a melhor direção possível, as redes de Old Traford, leva-me ao delírio, grito, cerro os punho com bastante força, é golo, é do meu Braga, calámos os ingleses, marcámos um golo, quase nem acredito. É quase tão difícil, para mim, acreditar neste golo como é acreditar que consigo ouvir os Gverreiros que na bancada puxam com toda a força pelo clube de que tanto se orgulham. Somos nós, os do Braga que lá estamos, somos nós que acreditámos que os sonhos se realizam. Assim o fez Éder, acreditou que era capaz, acreditou que conseguia e conseguiu mesmo, fintou o defesa, levantou-me do sofá e obrigou Alan a não falhar novamente, que sensação, que desassossego, que nervos, que vontade, que grito, que arrepio agora que me lembro disso… Marcámos dois golos ao Manchester United, no seu próprio covil, trocávamos a bola, jogávamos bonito, mostrava-mos a nossa raça, a nossa crença o nosso valor. Por dentro sabia que havia muito jogo, mas continuava a sonhar… Aos poucos o sonho foi-se perdendo e acabei por acordar. As luzes continuavam acesas, caímos com a cortina, mas caímos tal e qual como ela, caímos em pé, mostrámos que somos Gverreiros, mostrámos contra um colosso europeu que quando se acredita tudo é possível. Não me venham com pieguices, não culpem ninguém, saibam ver o futebol como futebol que é, vejam o jogo como um jogo sem polémicas com duas excelentes equipas, que lutaram ambas pela vitória, que jogaram limpo, que jogaram bonito, que jogaram futebol e não se limitaram a jogar à bola, orgulhem-se do Braga e não apontem o dedo a ninguém. Adivinho o que me amanhã me dirão, e só me deixam duas possibilidades de resposta que é com dois dedos bem esticados, se amanhã falarem para mim, escolham bem o dedo que querem ver erguido. Caímos de pé como a cortina, no palco do teatro dos sonhos, e mesmo depois da luz apagar eu vou continuar de pé a aplaudir, porque tenho orgulho no meu Sporting Clube de Braga…