21.10.14

Distúrbio de letras



Saudade do sossego, de ouvir o silêncio e de o perceber a cada pausa. Saudade da paz interior que antes me explodia pelo poros, saudade da calma, saudade de sentir o bater do coração e saudade de ter tempo para o escutar simplesmente a bater sem que nada nem ninguém lhe peça para tal. Saudade de reparar em nada, saudade de deixar fugir o que tudo parecia sem que isso ganhe mais importância que a que realmente tem… nenhuma. Saudade de não pensar no amanhã, no logo, no daqui a pouco. Saudade de sentir o frio roer-me os ossos, de sentir o vento gelar-me a cara. Saudade dos gritos mudos que apenas os surdos compreendem, ninguém melhor que eles para lerem os olhos. Esses não mentem, brilham… Brilham. Saudades do brilho, do sorriso e da felicidade ligeira. Saudade da despreocupação e da falta de objetivos. Saudade de navegar à deriva ao invés de à bolina. Saudade de escrever e não ter tema, saudade de desencaixar o subconsciente e de sair de dentro de mim. Saudade de não saber quem sou, saudade de não ter futuro, saudade de não ser, saudade de não viver… Saudade de não sentir saudade.

27.8.14

Seu parvo!


Existirá uma meta? Será que corremos numa maratona sem fim? Valerá a pena o esforço, o suor, as lágrimas, as dores? Apetece-me parar, sentar-me, cruzar as pernas e calmamente ver os outros passar, dar-lhes força para que continuem sempre na procura do que eu deixei de crer que exista, o cruzar da meta, o momento de glória dos que finalizam não interessa o lugar, a felicidade de lá chegar, o sentimento de realização que tão bem nos faz ao ego. “Que parvos!” – exclamaria eu. “Isto é apenas um círculo! Corram seus parvos, corram cada vez mais!” e ficaria só, seria motivo de chacota, seria o parvo que nada busca, o que deambula, o que não sai da cepa torta. Mas não será isso que eu sou? Porque corro afinal se nada muda? “Isto é um circulo seu parvo! Mas corre, corre que um dia… vais voltar aqui outra vez. Seu parvo!”

17.5.14

Medo



Medo. Medo do que aí vem, medo do que tenho e medo do que me possa faltar. Tenho medo… medo do som do gatilho e do esticar da corda. Medo do presente e do desconhecido futuro. Receio perder as forças, o crer e a vontade de ser e de existir. Conseguirei aguentar tumultos, tempestades  e eventuais atrocidades? Em mim existe hoje, além do medo, a dor… A dor de quem mente enquanto sorri, a dor do aperto no peito pela falta de autoconfiança, a desconfortável dor que me tolhe o pensamento, que me mói a alma e mata aos poucos. Fui atropelado pelos pensamentos que se amontoam, não os consigo tirar cá de dentro, não os consigo abrandar, não consigo viver!