16.7.12

Quatro traços




Queria nunca ter crescido, ser para sempre criança.
Um eterno menino sem consciência.
Enlouquecido, em estado de total demência
Recusava apaixonar-me sem pagar fiança.
Onde vivia esse querer, porém,
Cresceu algo em mim que devo a alguém.
Amor eterno, chamam-lhe assim.
Sei que gosto, sei que não te fim.
A ti garanto que é para toda a vida
Recuso perder-te ou deixar-te ferida
Consigo imaginar a teu lado um amanha diferente,
O que ontem parecia tão distante
Nada agora dentro do meu sangue quente
Trata-se de um querer fervilhante
Iluminado pelo brilho do teu leve olhar,
Guiado por um gesto de conforto
Ostentado pelo teu meigo dedilhar.
Jamais quero encontrar outro porto,
Outro abrigo, outros braços…
Antes que me tirem esta vida mundana
Nunca te esqueças destes 4 traços:
“Amo-te para sempre Joana”

3.7.12

Aos enfermeiros




Todos já fomos pequenos e todos nos lembramos de o ser, mas nenhum de nós se lembra de nascer. Como tal, é impossível saber quem nos viu nascer, quem estava por perto, quem foram as primeiras pessoas a quem o nosso choro fez vibrar os tímpanos. Tirando alguns casos, talvez cada vez menos frequentes, todos nascemos num hospital ou noutro espaço equivalente. Dentro da sala onde berramos pela primeira vez estava alguém cuja profissão é considerada uma arte, além de uma ciência, que se desenvolveu a partir do longínquo séc. XIX. Como pioneira teve Florence Nightingale, enfermeira de guerra, britânica que cuidou dos soldados do seu país na Guerra da Criméia. Mulher de armas, dirão alguns. Pouco me importa, não estou cá para falar dela. Estou cá para falar dos enfermeiros dos dias de hoje, dos enfermeiros do meu país! Ao longo da vida, além de sermos acompanhados por médicos, somos acompanhados por enfermeiros, e pouco ou nenhum valor lhes damos. Em verdade vos digo, por muito valor que lhes dêmos, nunca será o suficiente. Socialmente mal tratados com conotações pouco abonatórias da dignidade de uma pessoa e imagens criadas que em nada correspondem à verdade (no que ao sexo feminino diz respeito principalmente), os enfermeiros têm ainda a má fama de serem severos, mal dispostos, carniceiros e por aí adiante. Não acham que chega de maltratar quem luta por nós sem se importar com o “nada” que lhes damos em troca? Chega de menosprezar quem nunca vira a cara à luta, quem sofre por dentro, quem se esforça nas horas de maior aflição, quem sente que falha e o quão injusta é a vida quando parte alguém que apenas conhece de um internamento,  e que mesmo sem nada saber dele, lutou até ao fim por ele e com ele! Chega de espezinhar quem quer trabalhar no país que necessita de enfermeiros para libertar a carga laboral dos que estão empregados e se vê forçado a abandonar a nação e procurar novos rumos! Chega! Está mais do que na hora de olhar para os enfermeiros como heróis que lutam diariamente em batalhas desiguais pela simples paixão de desempenharem com afinco, profissionalismo e orgulho a sua profissão, está mais do que na hora de deixar a mesquinhez de lado e de ver em cada enfermeiro um amigo, que estará pronto para nos ajudar, para nos salvar, para cuidar de nós. Não sou enfermeiro, mas nos últimos tempos tenho convivido com alguns, e das conversas de cafés, onde por vezes pareço aluado, apenas penso na injustiça por que todos eles passam, apenas penso nas dificuldades que eles sentem e mesmo assim mostram uma força de vontade que engole o mundo de uma vez só. Coloquei os enfermeiros num pedestal, não os enfermeiros que conheço, mas todos os enfermeiros em geral. Coloquei-os lá no alto porque hoje me perguntei a mim mesmo a quem era eu capaz de prestar uma homenagem sentida. Coloquei-os num pedestal, agora façam-me um favor e não os atirem abaixo, tratem-nos com carinho, que é com carinho que eles cuidam de todos nós.  Florence Nightingale foi enfermeira numa guerra, mas hoje, os enfermeiros, travam diariamente a sua própria guerra…