Todos
já fomos pequenos e todos nos lembramos de o ser, mas nenhum de nós se lembra
de nascer. Como tal, é impossível saber quem nos viu nascer, quem estava por
perto, quem foram as primeiras pessoas a quem o nosso choro fez vibrar os
tímpanos. Tirando alguns casos, talvez cada vez menos frequentes, todos
nascemos num hospital ou noutro espaço equivalente. Dentro da sala onde
berramos pela primeira vez estava alguém cuja profissão é considerada uma arte,
além de uma ciência, que se desenvolveu a partir do longínquo séc. XIX. Como
pioneira teve Florence Nightingale, enfermeira de guerra, britânica que cuidou
dos soldados do seu país na Guerra da Criméia. Mulher de armas, dirão alguns.
Pouco me importa, não estou cá para falar dela. Estou cá para falar dos
enfermeiros dos dias de hoje, dos enfermeiros do meu país! Ao longo da vida,
além de sermos acompanhados por médicos, somos acompanhados por enfermeiros, e
pouco ou nenhum valor lhes damos. Em verdade vos digo, por muito valor que lhes
dêmos, nunca será o suficiente. Socialmente mal tratados com conotações pouco
abonatórias da dignidade de uma pessoa e imagens criadas que em nada
correspondem à verdade (no que ao sexo feminino diz respeito principalmente),
os enfermeiros têm ainda a má fama de serem severos, mal dispostos, carniceiros
e por aí adiante. Não acham que chega de maltratar quem luta por nós sem se importar
com o “nada” que lhes damos em troca? Chega de menosprezar quem nunca vira a
cara à luta, quem sofre por dentro, quem se esforça nas horas de maior aflição,
quem sente que falha e o quão injusta é a vida quando parte alguém que apenas
conhece de um internamento, e que mesmo
sem nada saber dele, lutou até ao fim por ele e com ele! Chega de espezinhar
quem quer trabalhar no país que necessita de enfermeiros para libertar a carga
laboral dos que estão empregados e se vê forçado a abandonar a nação e procurar
novos rumos! Chega! Está mais do que na hora de olhar para os enfermeiros como
heróis que lutam diariamente em batalhas desiguais pela simples paixão de
desempenharem com afinco, profissionalismo e orgulho a sua profissão, está mais
do que na hora de deixar a mesquinhez de lado e de ver em cada enfermeiro um
amigo, que estará pronto para nos ajudar, para nos salvar, para cuidar de nós.
Não sou enfermeiro, mas nos últimos tempos tenho convivido com alguns, e das
conversas de cafés, onde por vezes pareço aluado, apenas penso na injustiça por
que todos eles passam, apenas penso nas dificuldades que eles sentem e mesmo
assim mostram uma força de vontade que engole o mundo de uma vez só. Coloquei
os enfermeiros num pedestal, não os enfermeiros que conheço, mas todos os
enfermeiros em geral. Coloquei-os lá no alto porque hoje me perguntei a mim
mesmo a quem era eu capaz de prestar uma homenagem sentida. Coloquei-os num
pedestal, agora façam-me um favor e não os atirem abaixo, tratem-nos com
carinho, que é com carinho que eles cuidam de todos nós. Florence Nightingale foi enfermeira numa
guerra, mas hoje, os enfermeiros, travam diariamente a sua própria guerra…
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