Desde miúdo trago o
Sporting Clube de Braga no coração. O meu pai ensinou-me o que era ser adepto
do clube da nossa cidade, ensinou-me a defender o que é nosso, a sorrir com as
vitórias e os triunfos e a erguermo-nos com as derrotas ainda mais fortes.
Tinha talvez 4 anos quando entrei num estádio
pela primeira vez. É obvio que não tenho grandes recordações desse dia, daí que
sinta que vou ao estádio ver o Sporting Clube de Braga desde “sempre”. Neste desde
“sempre” estão incluídas grandes vitórias, enorme conquistas, um crescimento
tremendo. Mas também estão derrotas pesadas, noites de sofrimento, desilusões,
manutenções no final do campeonato, muitos nervos… Um sem fim de emoções.
Curiosamente não encontrei, nestes cerca de 22 anos de adepto do Sporting Clube
de Braga, o sentimento de humilhação, de vergonha.
Com o crescimento e
o passar dos anos, o meu pai, decidiu por sua livre vontade, que seria altura
de o começar a acompanhar nos jogos fora da cidade de Braga. Sentia ele como
pai, que era seguro para mim acompanhá-lo. Gabo-me de sempre ostentar as cores
do Sporting Clube de Braga em tais deslocações. Percorri os mais diversos
estádios de norte a sul do país em jogos com equipas como o Leça, o Boavista, o
Aves, a Naval, o Leiria, o Setúbal, o Varzim… A saudável harmonia que existia
entre os adeptos dos mais distintos clubes levou-me a fazer uma coleção de
cachecóis. Ia trocando com os adeptos locais, à medida que ia passando por
esses estádios fora. Porém, com o crescimento do nosso clube, comecei a sentir
alguma hostilidade em certas zonas do país, ainda assim, essa hostilidade não
era exteriorizada se existisse respeito.
Acreditava eu que
todos os adeptos do Sporting Clube de Braga eram pacíficos como eu. Por vezes
uns mais exaltados, outros mais calmos, algumas provocações e picardias durante
os jogos, que acaba por fazer parte do espetáculo se prevalecer o bom senso,
até porque a rivalidade é boa quando é vivida, desde que não se transforme a
rivalidade em violência física.
Voltando aos
sentimentos, dizia eu que nunca tinha sentido qualquer tipo de humilhação ou
vergonha. Há quem diga que há uma primeira vez para tudo. Esta época senti-me
por mais que uma vez humilhado e envergonhado. Senti-me humilhado e
envergonhado pelos atos praticados por certos indivíduos que têm recorrido à
violência por mais que uma vez, como se quisessem impor alguma coisa. Sinto-me
triste e revoltado ao ler as noticias em jornais nacionais que um grupo de
adeptos esperou pelos jogadores da nossa equipa no fim de uma derrota para se
travarem de razões, que um grupo de adeptos se envolveu em violência física com
adeptos do Belenenses antes de um jogo da Segunda Liga, que um grupo de adeptos
percorreu uma bancada provocando uma cena de pancadaria com os adeptos do Paços
de Ferreira. Senti-me envergonhado e humilhado por um grupo de pessoas que se
dizem adeptas e defensoras do meu clube e que agem sem perceber o mal que lhe
estão a fazer, senti-me de rastos ao perceber que a notícia rapidamente correu
o país e por esses estádios fora seremos de agora em diante apelidados de
perigosos, violentos e arruaceiros… Tudo por um grupo de adeptos… Senti a maior
frustração e raiva da minha vida enquanto adepto do Sporting Clube de Braga ao
ver um miúdo de 5 ou 6 anos fugir para trás de uma baliza e a puxar pela mão do
pai numa aflição tremenda, num ato de pânico e de terror. Dói-me a alma quando
penso nisto, e pergunto-me se será possível aquele miúdo e outros tantos que lá
estavam voltar a ver um jogo fora do estádio dele, será possível aquele miúdo
continuar a gostar de futebol e será possível aquele miúdo perdoar os adeptos
do Sporting Clube de Braga que nenhuma culpa tiveram?
Tais atos são para
mim indesculpáveis. Comportamento gera comportamento, e eu que este ano
acompanhei diversas vezes o Sporting Clube de Braga fora de casa começo a temer
pela minha segurança. Não me sinto mais seguro por esses estádios fora, tenho
medo de ser confundido e tomado por quem não sou na verdade. Ontem disse a
quente que ao fim de mais de 20 anos a correr estádios tinha chegado o dia em
que não voltaria “à estrada” contudo pensando que hoje pensando com mais calma
a opinião mudaria. Puro engano, continuo igual. Continuo com medo, continuo a
pensar que para mim acabaram as deslocações, pelo menos enquanto não me sentir
seguro de novo.
Quanto aos atos de
ontem, só peço que seja feita justiça, só peço que se identifiquem os autores
dos desacatos e que se castigue quem de direito. Não sou dono da razão e tenho
os meus defeitos como toda gente. O Braguismo não se mede, sente-se, ser sócio
há cerca de 20 anos, percorrer os estádios nacionais durante épocas a fio,
estar em Sevilha, em Udine e em Dublin não faz de mim mais Braguista que
ninguém, mas também não faz de ninguém mais Braguista do que eu, e se há quem
tenha regalias por se deslocar sempre para apoiar (e bem, porque felizmente não
somos todos iguais) o nosso clube, eu também mereço tais regalias, pois estive
lá com o nosso Clube sempre que o tempo e o dinheiro me permitiram.
Ajudem a acabar com
a violência no desporto!
Com
os mais cordeais cumprimentos,
Rui
Xavier
(sócio
nº3992)
10 comentários:
Parabens, por esta carta é o verdadeiro desenho do que se tem passado, eu como o adepto e socio à mais de 35 anos do sei rival Vitoria de Guimarães, so o posso elogiar por esta atitude, estas claques que foram aparecendo nos ultimos anos só vieram trazer mais violencia ao futebol, e vou-lhe contar um caso recente que por minutos nao era eu a vitima, quando o Porto veio à pouco tempo jogar a Guimaraes chegaram 2 camionetas dos super dragoes ainda faltavam 3 horas para o jogo o que acho muito estranho, eu vinha de fazer compras com a minha mulher e minhas filhas de carro, quando á minha frente vejo esses assassinos a partirem os vidros do carro de uma senhora que ia com um bebe de 10 meses a senhora saiu do carro a chorar em estado de choque e eles lá foram pela avenida abaixo a partirem tudo pois aquela hora ainda nao havia adeptos do vitoria a irem para o estadio senao talvez as coisas fossem diferentes a policia chegou mais tarde já eles estavam longe, covardes, por isso o futebol tanto é perigoso fora como em casa e as vezes calhamos de estar na hora e no local errado.Levar crianças neste momento ao futebol é um suicidio e só quando houver algo de muito grave é que os nossos dirigentes vão parar para pensar.
Caro Rui,
Faço minhas as suas palavras, transpondo-as para a minha realidade, enquanto sócio e apoiante do Vitória Sport Clube há mais de 20 anos.
É triste perceber que hoje, ao contrário do que acontecia no passado, me sinto cerceado no meu natural impulso de acompanhar o meu clube do coração para todo lado, em razão de actos mais ou menos isolados de gente ignóbil, violenta e sem formação, que arrasta consigo para a lama o nome de todo um universo de sócios e apoiantes que não se reveem nesses actos e que apenas querem "ir à bola".
Penso naturalmente que cabe também aos clubes fazer a sua parte e, à semlhança do que acontece por exemplo em Inglaterra, pura e simplesmente identificar os responsáveis, e bani-los de vez do estádio!
Bem haja.
João Freitas
como adepto vitoriano compreendo bem esta s situações nos nossos clubes. é mau para o espetaculo que e o futebol e sejam em que clube for.
cumps
Parabéns, pela maturidade e forma de pensar e aos teus pais pela educação que te deram. Daqui vai um abraço.
Mário
Amigo Rui, sou seu homónimo e sócio deste nosso grande clube, parabéns pelas suas palavras, não teria escrito melhor... Faço das suas as minha palavras, infelizmente há no futebol muita gente que se insurge contra este tipo de incidentes mas no dia a dia pouco ou nada fazem para impedir que isto aconteça...
Muito bem Nemec, esse é o pensamento de dezenas de Braguistas...
Está aqui tudo dito! É esta verdade que deve ser partilhada. Estas palavras devem chegar a muita gente pois nelas se lê aquilo que um adepto de futebol deve ser. Também sou sócio do Sporting Clube de Braga há 20 anos, e não me identifico em nada com estes atos. Não quero partilhar as emoções de cada jogo do nosso Braga com gente assim. Parabéns pelas palavras.
De um sócio do Vitória SC.
De pé:
CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP. Bem haja, cumprimentos
Caro adepto,
Nem imagina como o compreendo! Sou bracarense, não Braguista, mas sempre acompanhei muito de perto o clube da minha cidade. Sempre gostei que o Braguinha ganhasse todos os jogos do campeonato, excepto dois! Mas desde à uns tempos, as coisas mudaram... apesar de ter bilhete de "borla", pela empresa, não usufruo dele, e lá está, por causa de meia dúzia de bestas quadradas que não sabem comportar-se. É triste ver a que ponto chegou o comportamento de adeptos outrora famosos pela hospitalidade e simpatia. Sinais do crescimento do clube? Talvez... Porém, todos os clubes os têm e o meu Benfica não foge à regra! Tem ainda mais adeptos ruins que o Braga, com certeza, devido à dimensão da massa adepta de um e outro clube. Esses, as bestas que fazem de um jogo de futebol um motivo para descarregar frustrações, são uns tristes. Mas os culpados são os clubes, que os protegem, infelizmente. À anos que digo que as claques não deviam existir, em clube nenhum! E a única forma de isso acontecer é legalmente. Acabar com adeptos organizados é fácil... basta vontade de "quem manda"! Seja nos clubes, cortando o apoio a essas bestas, seja a nível governamental, impedindo o acesso aos estádios a tais bestas, algo que se faz em Inglaterra, por exemplo, à décadas! Em suma, caro adepto, apenas lhe digo que, neste momento, faço mais rápido 350km para ver um jogo de futebol do que 5km. E não, não me sinto seguro no Estádio do Braga, quando cá vem o Benfica. Mas vou ver o jogo, claro... apenas escondo o que dantes mostrava com orgulho! Um grande abraço e que mais pessoas consigam ler esta sua mensagem e a utilizem, para pôr cobro à estupidez que se tem visto nos nossos estádios! Afinal, o futebol... é um jogo!
Caros adeptos e sócios do seu respetivo clube seja ele qual for.estava eu hontem a assistir ao dito "jogo" quando tudo comecou,tinha o meu filho ao meu lado de 9 anos,olhava para ele e dava para ver que ele estava cheio de medo pelos acontecimentos.Fomos embora com grande triteza por não haver jogo e pela violência que se registou.Não se admite tanta burrice junta.Agora nem sei quando vou conseguir que ele volte a querer ir ao estádio.Sou VITÓRIA ATÉ MORRER mas Nãoposso aceitar o que aconteceu,foi muito grave.Têm de ser tomadas sérias medidas para que não volte a acontecer e espero que depressa.Apoio a todos os que aqui deixaram comentários contra os acontecimentos de hontem e não só.Os meus PARABÉNS ao RUI XAVIER pela coragem de escrever a carta,faço minhas as suas palavras bem hajam todos com os melhores comprimentos.
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