18.11.15

Apelo ao degelo


É o gelar que me incomoda! Cresce em mim a vontade de sair a correr pelo mundo fora e soltar o grito ensurdecedor de um qualquer Deus poderoso o suficiente para todos o temerem. Pode ser de um Zeus e do seu trovejar, pode ser de um Noto e das suas tempestades de vento, pode até ser de uma Ganesha com toda a sua sapiência. No entanto é a gelar que me sinto, incapaz de reagir, entorpecido pelas gotas de gelo que prendem os movimentos, os pensamentos, os sentimentos... Não é o frio que me gela, é o medo, o receio de estar vivo, o desespero de acordar para viver o mesmo dia outra e outra vez. Falta-me o saber, o poder e por vezes o querer confesso. Ainda acredito na possibilidade de retroceder, continuo a esforçar-me para me ir movimentando, mas começo a ficar cansado, o ar rarefeito nada ajuda, os pingos minúsculos de água entram-me pelo nariz e alojam-se no cérebro, estão a gelar-me por dentro. Aos poucos sinto o coração a desacelerar, e a vontade de o contrariar a diminuir, estou a deixar-me ir, estou a gelar! Ajudem-me se me virem por aí gelado…

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