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Vou contar-te uma história. Queres ouvir? Não respondes… Já não tens paciência
para me ouvir provavelmente, ou talvez eu já nem me faça ouvir, talvez seja
apenas um homem louco que acha que os outros fazem ouvidos moucos e talvez seja
eu quem emudeceu. Ainda aí estás? Não interessa vou contar-te na mesma a
história da minha árvore. Foi com o
vento que veio, ainda em semente, e misturada com a poeira levantada ao longe,
não se sabe de onde terá vindo, o vento é traiçoeiro e não se pode acreditar
nele, por isso nunca lhe perguntei, para não ser enganado. Os pingos grossos de
chuva que se foram entranhando na terra, ajudaram a tornar o piso lamacento.
Prenderam a semente e hidrataram-na. Foi crescendo um fino e frágil caule. Com
o tempo foi crescendo, protegido por mim e por outros em meu redor. Sobreviveu
a tempestades ainda novo, foi crescendo, engrossando, o caule passou a tronco
grosso, nasceram ramos e folhas, cravaram-se fortemente as raízes no chão.
Ficou uma bela árvore. Serviu de suporte para um baloiço improvisado que terá
feito uma criança muito feliz certamente. Suportou uma cama de rede, e
embalou quem nela se deitou, sobreviveu a um incêndio. Acima de tudo era a minha
árvore, porque era a árvore com quem eu falava. Encostava-me a ela ou
sentava-me no seu pé e conversava com ela. Tenho a certeza que me ouvia, apesar
de não vociferar nada, sentia que ela me ouvia e respondia. Um dia ceifaram-na
20 cm acima da raiz. Levaram o tronco, os ramos, as folhas, os ninhos e todas as
minhas conversas com a árvore. As minha alegrias, as minhas tristezas, os meus
sentimentos... Mataram a minha árvore, e com ela desapareceu tudo, nunca mais
haverá árvore igual... - dizia-me o velho enquanto dedilhava a morte entre os
dedos. O silêncio tomou conta do ambiente, e eu percebi que a história afinal
não era de nenhuma árvore. Tarde demais para lhe perguntar, já não me responde.
Terá mesmo contado a história antes de morrer, ou estarei eu a ficar louco por
ter imaginado que o velho mudo falou comigo mesmo antes de morrer?
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