31.3.11

Não quero escrever mais



- Desaparece!
- Ora viva para ti também… ainda agora cheguei e já me mandas embora?
- Já estás aqui à tempo a mais. Desaparece!
- Porque choras?
- Não estou a chorar… Desaparece!
- Claro que não estás a chorar, isso é só suor a escorrer-te pela cara abaixo… Até está calor e tudo! E tu queres que eu desapareça para onde? Eu não existo, eu não estou aqui, não sou vivo nem morto, sou inspiração, sou criatividade, sou tu, nada mais. Se queres que eu desapareça faz por isso, deita-me fora, esquece que existo. Não precisas de mim para nada, a fama é tua, escreve o que te apetece, vá força. Tens essa folha branca à tua frente desde quando? Não consegues escrever uma palavra só? Não tens confiança?
- Sai daqui senão…
- Senão o quê? Bates-me? Expulsas-me? Tu nem sequer sabes se faço parte do teu lado consciente ou do teu lado inconsciente. Eu não tenho rosto, não tenho alma, não tenho nem sou nada.
- Quando mais precisei de ti abandonaste-me, deixaste-me pendurado e viraste-me as costas quando me entalaram entre a espada e a parede.
- Tu já és suficientemente crescidinho para resolveres os teus problemas. Não escreveste um livro por tua conta e risco? Pediste-me opinião, precisas-te de mim para alguma coisa?
- Sabes muito bem que não o escrevi sozinho, e sabes ainda melhor do que preciso.
- Só o saberei se me disseres, tal como não sei porque não fizeste o lançamento do livro, muitos te deram a ideia e pediram, te elogiaram…
- Eles não sabem nada… Como ia explicar que o nome impresso na contracapa não é o verdadeiro autor daqueles textos. Como ia explicar que te tenho dentro de mim? Eu nem sei quem tu és afinal…
- O Pessoa conseguiu…
- Mas eu não sou o Pessoa, e ele era maluco…
- E tu não és?
- Não…
- Como defines alguém que fala consigo mesmo como se fosse outra pessoa?
- Cala-te e desaparece de uma vez por todas, não quero escrever mais, chega, acabou-se o conto de fadas, eu não fui feito para isto, letras não é comigo, não tenho categoria…
- Para quem queres escrever?
- Para ela.
- Ama-la?
- Sim
- Então siga, escreve o que sentes, sê tu mesmo, mostra-lhe porque pensas nela a toda a hora.
- Não sei por onde começar, sai daqui Nemec, por favor, desaparece de uma vez por todas…
- Cala-te Rui, já não te posso ouvir, pega na caneta que vou começar a ditar…

1.3.11

Livro Nemec Thoughts



O blog que 4 anos e meio depois se tornou livro está agora à venda no site da editora Euedito em formato papel por 7,49€ e em formato digital (.pdf) por 1,27€

18.2.11

A um grande amor

Lembro-me da primeira vez
Que o meu pai me levou a ver-te
A idade não era ainda metade de dez.
Lembro-me do colorido, da alegria,
Da ilusão, da magia do ambiente
E do sorriso que levava a tua gente.
Que doce murmúrio me arrepiava corpo e mente.
Senti desde esse dia, que seria um amor diferente.
Aqui se vê a coragem, a entrega, a arte e o amor
Pelo símbolo que carregas ao peito sem pudor.
A estes adeptos só importa ver ganhar seus jogadores,
Mas se perdem com honra, defendendo as tuas cores,
Que suem a camisola, que entreguem seu coração
Que deixem em campo a pele e não têm de pedir perdão.
E todos os que se sentem desiludidos, ano após ano
Que juram não voltar a sofrer tanto e não voltar a ver-te
Na próxima época voltam à bancada para defender-te.
Porque o amor por ti não se controla, é soberano!
São estas palavras que me saem do coração,
Escritas a sangue do meu próprio corpo,
Que espero que acordem para a razão
O sentimento que muitos julgam morto.
Aquele sentimento com vontade de lutar
Contra quem no caminho se atravesse
Aquela enorme crença que os podemos derrotar,
Um sentimento assim não se esquece.
A quem não te quer, te odeia e te insulta,
Esta cruz carregará sempre:
A de ter de lutar contra a tua gente
Que te defenderá até à morte na luta.
É esse preço da tua glória.
E se tens sido Enorme na vitória,
Nas derrotas serás mais forte,
Porque da tua história não reza a sorte,
Apenas lágrimas, sangue e suor
Por adeptos, jogadores e dirigentes derramado
Desde Celtic, Sevilha e do Arsenal amado,
Às batalhas ganhas de menor valor.
Não conheço Braguista que vá por esse mundo sem te levar
Que não se sinta orgulhoso, que não sinta prazer ao te mostrar.
Ser campeão de Portugal, da Europa ou do Mundo,
Apenas nos irá fazer bem à vista
Porque não é esse o maior sentimento e orgulho,
Mas sim o de ser Braguista
Quando o meu dia chegar e Deus me quiser à sua beira
Dir-lhe-ei que não vou pró céu, porque o meu céu é na Pedreira
Que me deixe ficar com a minha gente
Com aqueles que nunca te faltaram
Com os que gritam presente!
Com os que sempre dão a cara e te protegem, te defendem,
Com os que sentem ferver o sangue e os que choram quando perdem,
Com os que vivem lutando e os que tombaram valentes,
Ao lado de grandes jogadores, ao lado de grandes presidentes
Com os que não se rendem e com sangue juraram te amar sempre…

23.1.11

Dói? Sim dói...

Já nem a música que me faz vibrar o rasgado tímpano me sossega, já nem os gritos de alguém que canta a tempestade me fazem abstrair e desbloquear uma mente presa na sua própria armadilha. Não me apetece rimar, talvez o jeito tenha ficado preso na neve do outro lado dos Alpes. Tenho saudades de ser só eu, o mesmo de sempre a alimentar as minhas ideias e os meus sonhos como se fossem bebés famintos por um delicioso biberão de leite. Quem me dera voltar a ser bebé, voltar ao tempo em que todos os problemas se resolviam no colo dos pais, ou numa noite dormida entre ambos. Voltar ao tempo em que não tinha consciência, onde não era massacrado com perguntas sem fim, se chamarmos resposta ao fim. Porque pensei que era capaz de ajudar se na verdade estava era a forçar? Dói-me saber que nada posso fazer para apagar a memória, nada posso fazer para te voltar a prometer um jardim florido, com rosas, malmequeres e cravos que florescem mesmo no inverno, dói-me querer fazer tudo tão bem e não perceber que o caminho não é esse. Preciso abrandar o carro em excesso de velocidade, preciso mentalizar-me que tenho de ter mais calma, preciso falar menos e agir mais, mostrar o lado bom de um dia negro, o calor de um abraço, o ritmo cardíaco de um beijo, preso nos lábios de alguém que coloquei numa redoma para que não  magoe mais do que a mim…

15.1.11

Lágrima

Não me foge o sorriso
Por estar preso ao meu pulso
Apesar de ter sofrido um impulso
Sem qualquer tipo de aviso
Que o queria enviar para longe
E cerrar num convento, qual monge,
Substituí-lo por uma gota
Gorda e salgada como o mar,
Que ameaça se soltar
E de um enfraquecimento me dota
Que me faz temer o amanhã,
Me impede de pensar futuro
Pois não sei se duro até lá
E se sobrevivo à queda do muro
Que me serve de suporte,
Não me deixa desabar
Em direcção à certa morte,
Se nesta linha não me equilibrar.
Sento-me sobre ele
Na tentação de me largar,
Na esperança de apagar
As marcas deixadas não na pele
Mas cravadas no peito
Por ferros que nos fazem sofrer
E por vezes desejar ser o eleito
De quem escolhe quem deve morrer.
Molha-me a face, e não a seco,
Deixo-a cair por onde calha
Pois não sou santo, também peco
E não há perdão que me valha…

13.1.11

Sem igual

De te descrever parei de tentar,
A quem pergunta porque sorrio afinal.
Digo só que o sentimento é como o mar
Enorme, apaixonante, mas sem o sabor a sal.
Aquele sal que escorre pela face
Que nenhum de nós saboreou
Não existe, fizeste com que secasse
A fonte que antes brotou.
A tua mão trouxe-me o conforto
Em suaves carícias que me dão.
No teu peito encontrei o porto
Que serve de abrigo a um coração
Eternamente derretido
Pelo calor do teu abraço,
Pelo carinho garantido,
Por me teres guardado um espaço
Nesse mundo onde és Rainha,
De um reino a cores pintado,
Onde sonhei que serias minha
E que esse sonho seria realizado.
Dos teus lábios deixa-me sentir o mel
Que me adoça o paladar,
Dos meus sairão palavras sem fel
Pois sou feliz só por te amar…

15.12.10

Recado


Pudesse eu não te sentir doer
Sem significar que não existisses,
Pudesse eu a tua dor sofrer
Para que bem tu te sentisses.
Não seria mais pobre do que sou
Nem ficaria a minha alma mais ferida
Por não sair do sitio onde estou
Mesmo que no chão esteja escrito partida.
Não tenho vontade de voltar a correr
Nas veias da vida que me sustém,
De sangue já me fartei ser
Por não ser derramado por ninguém.
Só te peço que pares de me bombear
E me deixes ficar aqui, quieto,
As minhas mágoas a soluçar
Sem ter de sentir qualquer afecto.
Deixa-me ficar com o que te mói,
Deixa-me sofrer por ti,
Para poderes dizer que já não dói,
A lágrima que cair não vi.
Reduz-me à insignificância que tenho
Desdenha-me até te sentires leve,
Culpa-me pela falta de empenho
Do recado que esta mão escreve…

17.11.10

Não sei voar

Não dançarei a valsa que me tocas
Por não ter asas que ma deixem voar,
Tornaram-me a alma e a mente ocas,
Sem sentimentos… abafo, sem ar.
Cortara-me me as asas e já não te acompanho,
Não tiro, assim, ao teu esvoaçar beleza
Por entre jardins e prados floridos
Restando em mim apenas a fraqueza
De rastejar por mundos descoloridos
Monocromáticos, tristes e sem vida.
Apenas a dor de uma trovoada imensa
E da penosa chuva agora aparecida
Fica só o amolecer da caminhada extensa
Em busca da felicidade que não me apetece
Apaziguando a dor que me endurece
Me torna menos sentimental
Já que eu nem sequer sei voar afinal…

16.11.10

Ergue-me

Custa voltar a erguer a espada
Que antes caiu por falta de força.
Antes que o meu pescoço torça
E a minha alma seja iluminada
Deixa-me só soltar um grito,
Juro que não te peço mais nada,
Apenas que não me deixes aflito
E deixes sair estas palavras quentes
Presa nas cordas da garganta
E ameaçadas de morte pelos dentes
Que este vociferar espanta.
Só queria apagar esta dor
E voltar a ter o mesmo fulgor
De tempos que já mal me lembro.
Talvez tenha sido outro Novembro
Mais frio, menos chuvoso
Por entre o cheiro do gelar gostoso.
Não sei, já não sei nada…
Sei que me caiu a espada
E não a estou a conseguir erguer
Resta-me apenas a vontade…
Já não sei do querer…
Não me mintas, diz-me a verdade!

31.10.10

(Já) não sou poeta

Não sei de onde apareceu
Tamanho saber para pôr em escrita
O que escondo por baixo do véu
Que cobre esta mente aflita
E me faz mostrar uma paz interior,
Um sorriso na cara que nem sempre apetece,
Mas que me faz pensar ser superior
A este inverno que me arrefece.
As mãos geladas são o prenuncio
De que algo está em mudança em mim,
Um golpe infligido sem anuncio
Parece a este dom ter mostrado o fim.
Acabou-se a facilidade de versejar,
Os poemas já não fazem sentido
Não sou mais capaz de rimar
Um verso com um sentimento escondido.
Perdi a minha veia poética,
Algures na cama onde me deito,
E não quero o excerto de uma sintética
Que me fará rimar o que não sente o peito.
Há-de ela, voltar um dia
Para este corpo que me carrega alma
Que por agora não conhece alegria
Por lhe faltar o dom que a acalma.
Lá se foi o meu alento
Arrefecido pelo frio, diluído pela chuva,
Levado para longe por este vento
Que me devolve a visão turva
De uma vida que nem sempre é boa,
De um sorriso que por vezes é triste,
De um amor que também magoa
E de uma saudade que afinal existe.
Por agora não lhe encontro o jeito
De os sonhos voltar a rimar
Mas não dou valor à dor no peito,
Sei que um dia ela há-de voltar…