Depois do tempo de tempestades, de sofreguidão e de abandono, em que nos sentimos perdidos e sem saber que rumo tomar, pensando que nada vale a pena e tudo foi em vão de tal forma que a vida nos parece um deserto, não daqueles de areia em que falta água, mas daqueles em que abunda a água derramada pelos nossos olhos (e pela alma) em forma de lágrimas salgadas ao nosso paladar e falta o carinho e os afectos de quem nos parece cada vez mais distante, vem sempre um intermédio, onde descobrimos vida no que achávamos mórbido e sem esperança de renascer... Temos forças para, finalmente, ver a flor, ainda que encharcada pela chuva, desabrochar, ou o pássaro, que molhado e frio começa a piar! E o mundo que antes era um deserto pintado em tons cinzentos que arrefeciam a paisagem, começa a ser colorido, e começamos a vislumbrar um mundo de cores que não víamos há muito tempo... Ganhámos um tempo novo, um tempo de novidades, em que a vida vai ensinando (e talvez redefinindo) de novo os significados de sentimentos que o tempo, pela falta de uso, nos fez esquecer sem darmos por isso, um tempo em que vamos juntando os cacos criados no passado e vamos, aos poucos, voltando a descobrir passos, que queremos desta vez que sejam mais seguros e que não sejam em falso, tendo por isso mais cautela... É no período da chuva e do medo, depois da tempestade e antes do sol e do sorriso, é nesse espaço, em que o sonho e a memória ganham fôlego e encontram uma brecha para falarem mais alto, até que sejamos capazes de os ouvir mas incapazes de traduzir o que nos dizem para a realidade... É aí que está, misturada com a solidão e a saudade, com a plenitude e o amor: a poesia, a felicidade, o sorriso!
2.2.07
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