24.3.08

Eu, o sol e... o cu!




Todos nós nascemos e iremos morrer um dia, é a ordem natural da vida. Nascer, crescer e morrer. Entre o nascer e o morrer temos uma imensidão de pequenas coisas que nos vão marcando e vão sendo escritas no grande livro da nossa vida. Cada pessoa escreve o seu próprio livro, onde contém todos os sentimentos e peripécias que vamos vivendo. As fazes boas, as fazes más, as lutas por um objectivo, as desistências… Ultimamente tenho reflectido bastante sobre que caminho dar ao meu livro, se devo fechar um capítulo, se o devo manter por mais algum tempo encerrando-o depois por outra qualquer razão, se valerá a pena arriscar por o ponto final para virar a pagina… Dúvidas que não se calam e me obrigam a pensar em todos aqueles que não as têm. Apesar da tenra idade que tenho, já muitas vezes escrevi no meu livro algo que não tinha projectado, que mudou o rumo da história, por acreditar em mim, por lutar pelos meus objectivos, por defender o que possuo, por todas as conquistas que vou conseguindo com sangue, suor e lágrimas, por procurar incessávelmente a perfeição inatingível por qualquer mortal, por querer ser especial sem dar nas vistas, por querer ser diferente, por querer ser eu… Uma luta diária, cansativa e dura mas que me faz encher de orgulho por tudo aquilo que sou e que tenho. Troquei a entrada na Universidade pela entrada no mercado de trabalho, lutei contra a vontade dos meus pais, professores e amigos. Por entre as batalhas diárias travadas diariamente no emprego lá fui conseguindo amealhar dinheiro para conseguir cumprir aos poucos os meus objectivos. Tirei a carta comprei um telemóvel, um portátil, um carro, consegui a independência necessária para sustentar os meus desejos. Sacrifiquei-me, chorei muitas vezes, revoltei-me contra mim e contra o mundo e deu-me vontade de desistir, mas lá fui conseguindo levar o meu barco, remando muitas vezes contra a maré, outras deixando-me ir à deriva, esforcei-me e consegui atingir alguns objectivos. De todas as palavras redigidas até agora no meu livro lembro várias que não deveriam figurar lá, entre elas a troca da electrónica pela metalomecânica. Mundos dispares, a que me tive de afeiçoar sem preparação. Ajudou-me a raiva transformada em força, e a necessidade transformada em vontade. Ainda continua a ser difícil ouvir das bocas de muita gente “Eu bem te avisei, ias para a Universidade…”, custa porque eles não sabem o que é a vida, não sabem o que é trabalhar porque assim tem de ser, trabalhar e parte do salário ser para a ajuda da família, trabalhar porque o dinheiro auferido vai fazer mais falta a alguém do que a mim, sujeitar-me a empregos e horários que muitos desempregados rejeitariam, fazer sacrifícios para poupar algum dinheiro para que ele estique até ao próximo fim do mês, eles não sabem… Não sabem porque têm a vida facilitada, ofereceram-lhes a carta no dia em que fizeram 18 anos, a prenda por ter passado no exame de condução é o carro com que eles fazem inveja aos amigos, falam com o pai ou com a mãe quando se esticam mais um bocado nos gastos da mesada e eis que nascem mais uns euros na conta, gastam com exagero porque nada lhes custa, sobem na vida porque o dinheiro é algo que se dão ao luxo de esbanjar, e gabam-se, gabam-se de boca cheia que são os melhores, que têm os melhores empregos (mas não dizem que foi uma “cunha”) não lutam pela vida, nunca lutaram e nunca vão precisar de lutar, nasceram com tudo, e isso é o que vão deixar quando morrerem, nasceram com o cu virado para o sol, e por muito que abanem ou escondam o sol vai estar sempre a brilhar no fundo das costas, mas eu não, eu nasci com o cu na sombra e tenho de lutar, tenho de chorar, tenho de sangrar para triunfar, mesmo não sendo reconhecido, mesmo não me sendo dado o devido valor, e por muito que procure o sol com o cu ele há-de fugir-lhe sempre. Mas no fundo tenho orgulho do que sou, tenho orgulho de todas as escolhas que fiz, tenho orgulho em ser eu e agradeço por não ter nascido com o cu virado para o sol…

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