27.12.09

Ignorado


Não me sai o grito
Amordaçado pelas cordas vocais.
Ao pensamento então suplico
Que me liberte a raiva e outros que tais
Em vez desta água salgada
Que mantém a face molhada,
Me desfoca a visão e cai lentamente,
Secando na folha onde escrevo
E marcando-a eternamente.
Não desvio o seu caminho
E deixo-a percorrer o seu leito
Imaginando que é um carinho
De alguém que guardo no peito,
Tentado não me sentir sozinho.
Vivo sem vontade que chegue o amanhã
E de tirar a mão que me apoia a cabeça
Sobre um cotovelo cansado de me ouvir,
Não me vai responder, mesmo que peça.
Levanto a cabeça e não tenho nada a dizer,
Sinto-me cansado de tentar viver
Neste mundo cada vez mais real,
Olho o espelho e que vejo afinal?
Quero mudar tudo aquilo que sou.
Talvez exista um lugar certo para cada um,
E o meu é certamente onde nunca estou.
Será que existe mesmo lugar algum?
Terei eu noção de para onde vou?
Tenho nada mais do que cansaço
De um livro continuar a escrever
Que afinal só retrata um fracasso
De alguém que nem sequer sabe viver...

1 comentário:

Vlinder disse...

Lindo, estas tuas maneiras de me deixar sem palavras marcam me*