28.1.10

Borboleta



Já não era a primeira vez que o esvoaçar das tuas coloridas asas se passeava na minha frente, cheguei a guardar memórias visuais que me fazem ter a certeza disso, porém cresceste e estás diferente, mais bela, mais esbelta, mais colorida, mais primaveril. Olhei-te com olhos de quem acabou de ficar aluado, sem palavras na boca seca e sedenta, com um nó na garganta que quer explodir dois pares de sílabas e um aperto no peito por não ser capaz. Deixei-me ficar no meu canto mas continuei a olhar-te e a imaginar o perfume que espalhas por entre os que te rodeiam e te apreciam. Reparaste que te olhava e decidiste dar-me a cheirar a fragrância que de ti brota. Vieste em minha direcção e pousaste sobre a mão. Quis guardar-te para sempre, não só na imaginação, mas assaltaram-me as palavras sábias da música que diz que se eu te largar, sinto a tua falta mas se eu te amarro, perdes a cor. Contínuo sem ser capaz de te dirigir a palavra e continua o nervoso miudinho a fervilhar na boca do estômago. Sei que não vais ficar muito tempo se não falar, mas se falar tenho medo que te assustes e que não te veja mais. Perdi a oportunidade de arriscar e de me atirar de cabeça, guardei apenas o momento só para mim e apesar de continuares por perto, não sei o que pretendes fazer com o teu futuro, continuar apenas a alimentar-me a vista e a esfomear-me a alma, voltar a tentar encher-me por dentro ou simplesmente seguir o rumo da primavera até que venha o Outono? Não me pertences, não te posso moldar o querer, pertences aos meus medos e não tos vou mostrar, não tos quero mostrar e não tos posso mostrar. Se soubesses ao menos ler o que escrevo, se soubesses que escrevo enquanto te imagino, se soubesses que desenho letras... Mas tu não sabes, nem vais descobrir, és uma borboleta à espera da Primavera que há-de vir...

24.1.10

Sonho


Deixo a poesia de parte desta vez, algo que até não tenho grande jeito mas que me dá um certo gozo fazer, e até porque os sonhos não são nada poéticos, quando nos lembramos deles temos apenas imagens espaçadas temporalmente num espaço que nem sempre é correcto e onde o impossível não existe. É nas noites mal dormidas que vivo os sonhos como realidade, em que os sinto na pele, na alma e me fazem mexer os sentimentos nem sempre para onde devem ir. Foi numa dessas noites, em que os sons que me fazem vibrar os tímpanos se confundem com os sons produzidos no imaginário da minha mente que dão voz à vida que não vivo, ao sonho, que encontrei alguém que eu achava familiar. Um rosto que conhecia à muito tempo, mas que não via à tempo suficiente para na primeira impressão não ter a certeza se era mesmo a pessoa que imaginava. Descobri depois que sim, era mesmo alguém que eu conhecia (embora só naquele sonho). Após algum tempo em que a minha memória não gravou nada, fui puxado por um braço, abraçado com força e beijado com ternura. Senti a cabeça a querer disparar no sonho e o inconsciente a querer acordar na realidade. Sei que não acordei totalmente e apesar de me ter apercebido que era um sonho continuei a vivê-lo na tentativa de conhecer o fim, como se de um filme se tratasse. Perguntei “Porque fizeste isto afinal?”. A resposta saiu entre um sorriso, “Senti que devia fazê-lo, que não tinha nada a perder, que estavas a precisar.”. Deixei que me segurasse a mão num gesto de confiança e não teve mais seguimento o sonho, acordei para desespero meu. Por momentos ainda acreditei que tudo fosse possível, elevei a minha auto-confiança a níveis perigosamente elevados, mas o adiantado da hora e o cansaço fizeram-me adormecer, fizeram-me levar o pensamento para longe novamente e ligar-me a outro sonho com outras personagens, outra história e outra finalidade. Quando finalmente acordei já tinham os valores da auto-confiança voltado ao normal e já tinha eu caído na realidade de que tudo não passou de um sonho, tudo não passou de uma vontade de querer, de um anseio, foi tudo uma miragem um mal entendido. Voltei a sentir a dor no peito e o vazio no estômago, voltei a cair na monotonia de passar ao lado de toda a gente, mesmo da cara que nunca vi mas com que sonhei, voltei a cair no esquecimento, votei a chorar de raiva por levar a vida demasiado a sério, a chorar de angústia por não acreditarem que não quero nada em troca do que faço, a chorar de medo de estar errado por querer ser sempre correcto com toda a gente, a chorar de tristeza por não conseguir por fim a isto de uma vez por todas. Não quero ser herói de ninguém, não quero ser o centro das atenções, quero apenas os gestos simples que nos fazem ter gosto pela vida e nos fazem sorrir por ver nascer o sol uma vez mais, para poder parar de escrever textos cheios de segundos sentidos e segundas intenções, com segredos e mensagens escondidas que não lê a quem são dirigidas nem descobriu a quem não eram. Só quero dar descanso a uma cabeça que passa demasiado tempo consigo, e não é capaz de abrandar, de dormir profundamente e de esquecer um presente que não quero como passado. Se não tenho saudade do meu passado posso exigir saudade do meu futuro?

18.1.10

Desilusão


Preciso tocar nas feridas,
Rever-me no passado
E encontrar saídas
Para uma dor que guardo
Infligida por um dardo
Envenenado de esquecimentos
Não da minha própria mente
Mas das outras, de toda a gente.
Proliferam lapsos memoriais
Que cravam dores intemporais
Num encéfalo que pede que aguente
As outras dores corporais
Por esforços físicos, mentais,
E outras insignificâncias que tais.
Vivo no medo de cair,
Na incerteza do que quero,
No não saber o que espero.
Criticam-me os ideais,
Interrogam-me as escolhas,
Parem de fazer sentido
De uma vez por todas...
O que me dizem não entendo,
O que entendo não me foi dito,
Continuo a viver de tino aflito
E porque não me surpreendo?
Porque não sou capaz de arriscar,
Não tenho no dicionário tentar
Mesmo que falhar seja o destino,
Esse que me parece só mais um cretino.
Que a raiva que me sai pelos dedos
Se transforme de vez em vontade
De vencer todos os medos
E por uma vez arriscar de verdade
Sem receio do que há-de vir
Sem temor de cair.
Desofuscar esta escuridão,
Pedir aos demais perdão
E jurar não mais me iludir,
Para não cair na desgraça
De seguir o trilho que a malvadez traça...

4.1.10

At Freddy's House - Dacing in the dark

Há musicas que parecem ganhar uma nova vida quando alguém as volta a editar dando-lhe um toque pessoal. Foi o que aconteceu com o original de Bruce Springsteen, Dancing in the dark, quando At Freddy's House decidiu fazer a sua própria versão. Também a vida às vezes precisa ser re-editada, mas, "you can't start a fire without a spark"

I get up in the evening
and I ain't got nothing to say
I come home in the morning
I go to bed feeling the same way
I ain't nothing but tired
Man I'm just tired and bored with myself
Hey there baby, I could use just a little help

You can't start a fire
You can't start a fire without a spark
This gun's for hire
even if we're just dancing in the dark

Message keeps getting clearer
radio's on and I'm moving 'round the place
I check my look in the mirror
I wanna change my clothes, my hair, my face
Man I ain't getting nowhere
I'm just living in a dump like this
There's something happening somewhere
I just know that there is

You can't start a fire
you can't start a fire without a spark
This gun's for hire
We're just dancing in the dark

You sit around getting older
there's a joke here somewhere and it's on me
I'll shake this world off my shoulders
come on this laugh's on me

Stay on the streets of this town
and they'll be carving you up alright
They say you gotta stay hungry
hey baby I'm just about starving tonight
I'm dying for some action
I'm sick of sitting 'round here trying to write this book
I need a love reaction
come on now gimme just one look

You can't start a fire sitting 'round crying over a broken heart
This gun's for hire
Even if we're just dancing in the dark
You can't start a fire worrying about your little world falling apart
This gun's for hire
Even if we're just dancing in the dark