28.1.10

Borboleta



Já não era a primeira vez que o esvoaçar das tuas coloridas asas se passeava na minha frente, cheguei a guardar memórias visuais que me fazem ter a certeza disso, porém cresceste e estás diferente, mais bela, mais esbelta, mais colorida, mais primaveril. Olhei-te com olhos de quem acabou de ficar aluado, sem palavras na boca seca e sedenta, com um nó na garganta que quer explodir dois pares de sílabas e um aperto no peito por não ser capaz. Deixei-me ficar no meu canto mas continuei a olhar-te e a imaginar o perfume que espalhas por entre os que te rodeiam e te apreciam. Reparaste que te olhava e decidiste dar-me a cheirar a fragrância que de ti brota. Vieste em minha direcção e pousaste sobre a mão. Quis guardar-te para sempre, não só na imaginação, mas assaltaram-me as palavras sábias da música que diz que se eu te largar, sinto a tua falta mas se eu te amarro, perdes a cor. Contínuo sem ser capaz de te dirigir a palavra e continua o nervoso miudinho a fervilhar na boca do estômago. Sei que não vais ficar muito tempo se não falar, mas se falar tenho medo que te assustes e que não te veja mais. Perdi a oportunidade de arriscar e de me atirar de cabeça, guardei apenas o momento só para mim e apesar de continuares por perto, não sei o que pretendes fazer com o teu futuro, continuar apenas a alimentar-me a vista e a esfomear-me a alma, voltar a tentar encher-me por dentro ou simplesmente seguir o rumo da primavera até que venha o Outono? Não me pertences, não te posso moldar o querer, pertences aos meus medos e não tos vou mostrar, não tos quero mostrar e não tos posso mostrar. Se soubesses ao menos ler o que escrevo, se soubesses que escrevo enquanto te imagino, se soubesses que desenho letras... Mas tu não sabes, nem vais descobrir, és uma borboleta à espera da Primavera que há-de vir...

1 comentário:

Vlinder disse...

Um dia, vou te proibir de me fazeres chorar.