24.1.10

Sonho


Deixo a poesia de parte desta vez, algo que até não tenho grande jeito mas que me dá um certo gozo fazer, e até porque os sonhos não são nada poéticos, quando nos lembramos deles temos apenas imagens espaçadas temporalmente num espaço que nem sempre é correcto e onde o impossível não existe. É nas noites mal dormidas que vivo os sonhos como realidade, em que os sinto na pele, na alma e me fazem mexer os sentimentos nem sempre para onde devem ir. Foi numa dessas noites, em que os sons que me fazem vibrar os tímpanos se confundem com os sons produzidos no imaginário da minha mente que dão voz à vida que não vivo, ao sonho, que encontrei alguém que eu achava familiar. Um rosto que conhecia à muito tempo, mas que não via à tempo suficiente para na primeira impressão não ter a certeza se era mesmo a pessoa que imaginava. Descobri depois que sim, era mesmo alguém que eu conhecia (embora só naquele sonho). Após algum tempo em que a minha memória não gravou nada, fui puxado por um braço, abraçado com força e beijado com ternura. Senti a cabeça a querer disparar no sonho e o inconsciente a querer acordar na realidade. Sei que não acordei totalmente e apesar de me ter apercebido que era um sonho continuei a vivê-lo na tentativa de conhecer o fim, como se de um filme se tratasse. Perguntei “Porque fizeste isto afinal?”. A resposta saiu entre um sorriso, “Senti que devia fazê-lo, que não tinha nada a perder, que estavas a precisar.”. Deixei que me segurasse a mão num gesto de confiança e não teve mais seguimento o sonho, acordei para desespero meu. Por momentos ainda acreditei que tudo fosse possível, elevei a minha auto-confiança a níveis perigosamente elevados, mas o adiantado da hora e o cansaço fizeram-me adormecer, fizeram-me levar o pensamento para longe novamente e ligar-me a outro sonho com outras personagens, outra história e outra finalidade. Quando finalmente acordei já tinham os valores da auto-confiança voltado ao normal e já tinha eu caído na realidade de que tudo não passou de um sonho, tudo não passou de uma vontade de querer, de um anseio, foi tudo uma miragem um mal entendido. Voltei a sentir a dor no peito e o vazio no estômago, voltei a cair na monotonia de passar ao lado de toda a gente, mesmo da cara que nunca vi mas com que sonhei, voltei a cair no esquecimento, votei a chorar de raiva por levar a vida demasiado a sério, a chorar de angústia por não acreditarem que não quero nada em troca do que faço, a chorar de medo de estar errado por querer ser sempre correcto com toda a gente, a chorar de tristeza por não conseguir por fim a isto de uma vez por todas. Não quero ser herói de ninguém, não quero ser o centro das atenções, quero apenas os gestos simples que nos fazem ter gosto pela vida e nos fazem sorrir por ver nascer o sol uma vez mais, para poder parar de escrever textos cheios de segundos sentidos e segundas intenções, com segredos e mensagens escondidas que não lê a quem são dirigidas nem descobriu a quem não eram. Só quero dar descanso a uma cabeça que passa demasiado tempo consigo, e não é capaz de abrandar, de dormir profundamente e de esquecer um presente que não quero como passado. Se não tenho saudade do meu passado posso exigir saudade do meu futuro?

1 comentário:

laura disse...

ohh! :P