25.5.10

A espera

Voltei a sentar-me perto da linha. Desta vez não me dá grande vontade de a atravessar, nem sequer de ficar parado a meio à espera de ser abalroado pelo que não pode parar. Limitei-me a ficar parado enquanto observo o que à minha volta se passa. Sentado no banco de madeira às travessas, de pernas cruzadas “à chinês”, cotovelos apoiados sobre os joelhos, enquanto as mão se unem para segurar o queixo e ajudar o olhar a fixar o horizonte ao mesmo tempo que a mente me leva para lugares nunca visitados e me faz sentir o que nunca senti. Reparo que enquanto fico aqui neste estado quase de gárgula, são vários os movimentos em frente a mim, vejo-os passar e não me aproximo de nenhum... Tenho medo! Tenho medo do destino que tomam, receio de para onde me possam levar, ou que me deixem ficar pelo caminho. Fobia que me faça o mesmo que o que me deixou aqui apeado... Limito-me a vê-los passar, não me atrevo a tentar apanhar os que passam, nem chego a pensar nisso! Alguns passam tão rápido que nem dão por mim ali sentado, impávido e sereno... Outros param. Desses que param, e que eu não sei se param porque me vêm ali, ou se pararam por acaso, uns abrem as portas e convidam-me a entrar, enquanto outros me dão sinais de que posso entrar se quiser mas continuam de portas fechadas e não me dão mostras de as abrir. Juntando isto aos meus medos, obtém-se o meu estado de estátua. Mas são os que continuam parados e de portas fechadas que mais me intrigam. O que será que querem de mim? Será que se me mexer ele foge? Não sei, nem me apetece muito descobrir, vou-me deixar ficar aqui sentado, de pernas cruzadas como a vida, de cabeça baixa como a moral, e a olhar infinito, na esperança que de lá venham bons ventos...

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