Hoje
é o dia de começar a viagem de regresso e a chuva que ameaça cair faz-me pensar
que o tempo por aqui fica mais triste sem mim, ainda assim quero voltar, não quero
cá ficar. Confesso que pensar nas tortuosas curvas que tenho até chegar perto
de Chandigar me assustam e causam um friozinho na barriga. Tento esquecê-lo e
entretenho a mente com as despedidas e as memórias dos tempos que por cá
passei. Não sei porquê mas sinto alguma nostalgia, ainda assim não quero cá
ficar, quero voltar e bem rápido. Faço-me então à estrada no conforto do banco
traseiro, acomodo-me o melhor que posso e tento nem pensar nas horas que tenho
para andar de carro, por entre curvas e contra-curvas, subidas íngremes e
descidas loucas, ultrapassagens apertadas, buracos na estrada maiores que o da
madeira, paisagens de perder de vista e animais que nunca lhes tinha posto a
vista em cima. Encontra-se de tudo por estes caminhos da Índia. Imagine-se que
no meio disto tudo está uma banca montada na beira da estrada a cobrar a
passagem na cidade dos veículos, consoante o número de passageiros, e que me dá
a entender que foi alguém que se lembrou de montar ali a banca porque lhe
apeteceu e viu uma oportunidade de negócio. As curvas são intermináveis e o
estômago começa a dar sinais de não estar a gostar da brincadeira, afinal já
passaram 3h desde que saí de casa e continuo a fazer curvas e curvas e curvas…
Ou será isto só fome? Como não sei e tenho medo de descobrir a certeza ligo a
música no telemóvel, fecho os olhos e tento abstrair-me do que se passa à minha
volta, apenas o balançar do corpo me faz lembrar que continuo a fazer curvas. A
próxima paragem é para almoçar, imagine-se, no McDonald’s algures perdido nos
Himalaias. Quem se lembra de fazer um restaurantes destes aqui? O certo é que veio
mesmo a calhar. As únicas diferenças que encontrei neste em relação aos de
Portugal é a particularidade da placa que diz que neste restaurante não se
vende carne de porco nem de vaca e a de não existir aqui um WC. O único
hambúrguer que conheci foi o McChicken e
foi a minha refeição. Finda a refeição voltamos às estradas estreitas, onde
para se cruzarem dois carros um ter de ir à valeta, às curvas, e às
ultrapassagens mirabolantes durante mais cerca de 1h30. Chegados ao aeroporto
de Chandigar, que funciona como base militar também, o tempo de espera foi de
cerca de 2 horas antes de embarcar no primeiro voo até Delhi, capital da Índia
que me irá fornecer a passagem para a tão aguardada Europa. Desta vez a viagem
foi feita num avião à séria, com dois potentes jactos, e ficam já avisados os
próximos visitantes da Índia que nos voos da Jet Airways apenas se serve um
copo de água aos passageiros, o que já não é mau diga-se de passagem. Chegados
a Delhi, e aos característicos 28ºC com o sol posto, uma hora depois, a espera
é muito longa e decidimos ir conhecer melhor a cidade, já que o tempo chega e
sobra. Isto é uma cidade de loucos! Conduzir aqui, para mim, é completamente
impossível. Estava à espera de algo diferente, uma cidade melhor, mais bonita,
mas na verdade continua a ser a mesma miséria que nos outros sítios. A mesma
sujidade, o mesmo cheiro, os mesmos costumes. Encontrámos algo diferente, um
centro comercial do outro mundo… Enorme, brilhante, cheio de lojas conceituadas,
onde se inclui as sopas Knorr, onde nos conseguimos sentir realmente numa zona
civilizada. À entrada do parque são controlados todos os carros, mesmo no
porta-bagagem para evitar atentados e coisas parecidas. Todos não, o nosso não
foi porque no porta-bagagem vinham as nossas malas de viagem e dava muito
trabalho verificar, de maneira que, o segurança fez o favor de nos ceder a
passagem. A entrada do centro comercial em pedra polida e brilhante faz-me
perguntar se realmente estou na Índia, mas obtenho rapidamente a resposta ao
entrar na porta umas escadas acima onde sou revistado da cabeça aos pés… Já
dentro do centro comercial, sinto-me na Europa. As lojas conhecidas, o cheiro
diferente, o ambiente que se respira, a paz, a sanidade, a calma e o respeito,
muito diferente do que se encontra destas portas para fora. Para matar a fome
valeu-nos a Pizza Hut desta vez. Sem picantes, sem especiarias malucas, apenas
pão, queijo, tomate e frango. Que delícia, que sabor, que saudades… Depois de
um passeio pelos ovais corredores e pelas escadas rolantes chega a hora de
voltar ao aeroporto para retomar a viagem rumo à Europa. O atraso de 30 minutos
no voo cria-me alguma apreensão se o tempo será suficiente para em Frankfurt
apanhar o voo que me levará até ao Porto. Sem problemas no passaporte desta
vez, aguardo ansiosamente a abertura das portas, entro no avião, acomodo-me e
tento nem me lembrar que vou passar as próximas 8h30 dentro deste avião…
Entretanto será já outro dia!
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