Da última vez que tinha falado contigo, disse que me ia deixar levar pela maré, para ver onde ela me levaria... Tentei! Desde que abandonei o supermercado em que te imaginei num dos locais inacessíveis por mim que me deixei levar pelo desenrolar dos acontecimentos, à espera do que a vida me ia trazer... Mas a maré que eu escolhi para me levar, estava parada, não me mexeu um único milímetro, e eu não tive força nem coragem para remar! Deixei-me ficar ao pé de ti. Não me saías do pensamento, cada movimento que fazia, cada musica que o rádio tocava, cada palavra que me dirigiam, levavam o meu pensamento às memórias que tenho tuas. É impossível eu lutar contra elas sozinho, não tenho força... Ao final de um feriado em que tudo me levava até ti, voltámos ás conversas escritas. Quando dei por mim já estava a falar outra vez do sentimento que tinha por ti! Não resisti a mostrar-te o que realmente queria na esperança que tivesses mudado de ideias... Foi em vão. Tu não tinhas mudado de ideias, e mostraste-me que estavas segura do que realmente querias e não irias ceder, mostraste-me que eu estava errado na descodificação de uma das tuas mensagens... tinha percebido mal! Fiquei assim a compreender melhor todas as tuas atitudes! Estremeci ao ler o que escrevias, senti um frio no estômago fora do normal... Não era fome, era medo... medo do que irias dizer a seguir... Ao fim de ler tudo aquilo escreveras, uma lágrima salgada e gorda ficou no limiar de me lavar a face pálida e fria própria de alguém em quem o sangue deixou de correr nas veias, no entanto, apenas me afogou a visão por alguns momentos e logo secou! Não havia nada a fazer, e deixar correr as lágrimas não ia mudar nada. Senti-me bem durante o tempo que esta “ilusão” me acompanhou a cada passo. Senti que tinha algo pelo que lutar, algo que me preenchia o pensamento durante as horas em que estava sozinho, finalmente tinha um desafio... A verdade é que eu quase adivinhava o desfecho desta história! Quando te que comecei a conhecer melhor e a confiar em ti estava na mó de baixo. Tu sabias da existência das minhas fraquezas, conhecia-las bem e sabias o que me fazia falta... O sentimento que cresceu dentro de mim fez-me melhorar, fez-me acreditar em mim, sentir-me capaz, e sentir que podia ser amado, isso trouxe-me um novo alento para viver, devolveu-me um sorriso que há muito se tinha refugiado em mim e que eu não o conseguia encontrar, fez-me sentir bem comigo mesmo, fez-me gostar de mim... Tu notaste isso, e ficaste contente pela mudança que tinha acontecido em mim! Receaste depois que eu voltasse a cair naquele ser sem esperança de ver a luz do dia nascer mais uma vez, tiveste medo que eu voltasse a isolar-me na escuridão da caverna criada pela minha mente e deixaste-me viver na ilusão por mais algum tempo... Tentas-te escolher a altura ideal para esclarecer as coisas... e aclaraste-me as ideias opacas que eu tinha! Bolas!!!! Tornei a falhar!!! Não vou mentir, nem a ti nem sobretudo a mim, não era justo que o fizesse. Não vou dizer que continuo o mesmo, que tudo faz parte do passado e que nada mudou em mim, não... Sinto-me mais triste, mais perdido, com menos estima que ontem, mas não fui abaixo de todo... Estou só assim durante um período de convalescência, até sanar a ferida de um golpe que eu próprio me infligi. Não quero que te sintas culpada por isto nem que mudes a tua atitude com as palavras que escrevo para aliviar a dor que sinto, aquela que me aperta o peito e me deixa os olhos abertos nas horas de maior silêncio. O erro foi meu, mais uma vez, tenho de aprender a lidar ainda melhor com estas situações e medir bem as consequências que daí podem surgir. Vou ter de pensar em tudo o que fiz e ver onde errei novamente, só assim posso tirar ilações conclusivas e que me ajudem no futuro... Para já só me resta levantar a cabeça e deixar que a maré, que já corre de modo a fazer mover moinhos, me leve... me afaste destas prateleiras e me ensine mais alguma coisa... Resta-me a tua amizade que vou guardar comigo enquanto deixares, a esperança de ver o sol brilhar amanhã, a crença de que melhores dias virão e a fé de que esses dias não estão longe. Mas hoje não posso fazer isso... hoje trago o Mundo ás costas e sinto-me cansado... hoje não... amanhã sim... amanhã volto a tentar... amanhã vou melhorar... amanhã sim... amanhã...