25.7.07

Acorda-me quando chegares X




Acordei sobressaltado. Um ruído crescente fez-me despertar deste sono irreal onde sonhava contigo. Ainda com os olhos fechados imaginei seres tu a acordar-me. Cresceu em mim uma alegria anteriormente inatingível. Devagar fui abrindo os olhos, em espaços muito breves. O sol nascido ainda há pouco tempo feria-me a vista que durante muitas horas ao negro se habituou. Procurei-te com um erguer de cabeça e com movimentos bruscos dos olhos. Deixei-me estar no mesmo sítio para que soubesses onde me encontrar e não nos desencontrar-mos. Enquanto não chegavas fui reparando nas outras pessoas. Um misto de sorrisos e lágrimas preenchiam todo o espaço da estação. A tristeza de quem partia e via partir os seus mais chegados contrastava com a felicidade e os sorriso estampados no rosto de quem chegava e via finalmente perto os seus amados! Era perto disto que eu me sentia! Aos poucos a estação foi ficando vazia. O comboio já tem as portas cerradas e arrancou em direcção ao horizonte. Apenas aqueles que esperam pela boleia permanecem no paredão cinzento... Cinzento foi também como ficou o meu sorriso ao constatar que este comboio não te trazia, pois não te encontro entre os que restam, e a esperança de te ver hoje acabou de morrer. Morte súbita, digo eu! Já não resta ninguém na estação, apenas eu, a solidão e as pombas da praxe... O banco de madeira que me serviu de repouso durante a noite faz-me sinal para voltar para lá, convite que não recusei por uma simples razão: foi aqui que prometi esperar por ti e daqui não saio sem ti! Além do mais não há nada que eu possa fazer, o mundo fora desta estação sem ti é todo cinzento, sem graça, tão monocromático, a única fome que tenho só tu a podes matar, nada me resta senão esperar pelo comboio de amanhã! Observo o sol na sua rota descendente onde se irá confundir com o horizonte, observo-o já cor-de-laranja até que a pequena réstia de luz se esmoreça e desapareça definitivamente. Olho as mesma estrelas que tu e tento perceber o que elas me dizem na esperança que entendas o que te transmito através delas. Volto a fechar os olhos que o sol feriu, e deixo-me embalar pelo banco de madeira... Adormeço depois e peço-te para me acordares quando chegares...

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