25.2.10

O buraco

Sinto-me deveras vazio,
Oco por dentro.
E de repente um frio
Que me deixa sem alento
E me atravessa o estômago
Deixando um sabor amargo
À velocidade de cada trago
Do veneno que entretanto sorvo
E me vai desfazendo o âmago.
Nunca quis ser um estorvo
Nem tão pouco me sentir a mais,
Desejei apenas que fossem leais
As palavras soltas ao vento afinal,
Não as tomava como tais
Mas sim do foro sentimental.
Terá valido a pena todo o sacrifício?
Sinto-me tão mal no fim disto,
Que apesar de não haver nenhum orifício
Onde possa esconder a minha cabeça
Cheia de tanta vergonha, eu insisto
Até que a desdita se despeça!
Porque não me disseste que era isso?
Não me importaria nem envergonharia,
Nem deixava que o meu género submisso
Vertesse lágrimas até ser dia
Por não poder explodir,
Por não poder mostrar esta raiva
Que me faz desejar sumir.
Desaparecer sem que ninguém saiba.
Como sou capaz de ser tão burro?
Entender sinais que nem existem,
Ser surpreendido por um murro
E já nem as forças subsistem.
Não quero mais crer em nada,
Quero apenas o meu buraco
Com a minha alma dissecada
E aquilo que ama enfiado num saco.
Já não preciso mais dele
E recuso-me a dizer o nome,
Para não ter de sentir o fel.
Deixei de existir, agora some!

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