O carnaval está a acabar, e quem me dera poder acabar também junto. Não disse que amava ninguém ao contrário do apregoado, e ninguém se chateou também. A verdade é que não sou capaz de o dizer sem o sentir, e como passei o Carnaval sem ver ninguém, não o senti, nem o pude tampouco exprimir. O bem de tudo é que ninguém estava à espera que eu demonstrasse o sentimento, ninguém conta com ele sequer. Sinto-o, sei que sinto, mas calo-o, por não o poder ter, por medo, por vergonha, por falta de força e coragem, e não me importa que me chamem fraco, eu não quero ser forte, não quero ser herói, quero passar despercebido, no meu luto, no meu esquecimento, continuar a ser um anónimo entre uma multidão que se conhecesse, continuar a ser o Nemec que escreve devaneios, e continuar a ser o Rui que pensa demais e cala os actos. De entre todos os buracos que passei, talvez este seja o mais fundo e o mais escuro, talvez este seja o último de onde não será fácil me arrancar, e onde vou lutar sozinho contra o que quer que ele me traga, porque estou cansado de me queixar, e estou farto de viver num mundo de faz de conta, onde eu faço de conta que sou mais burro, e onde eu faço de conta que não reparo nos pequenos bicos que me espetam quando se aproximam, ou finjo que está tudo bem. Não quero voltar a ter sentimentos por ninguém, transformem-me numa máquina que simplesmente reage a estímulos, mas que não sente, mas que não sofre. Deitem-me fora uma coração que se diz feito para amar e coloquem no seu lugar uma pedra, fria, como o gume da lança que me cravaram algures entre o ego e a alma. Sinto uma quebra nas forças que me faziam querer continuar, me levantavam e secavam as lágrimas salgadas que me morrem no queixo. Não tenho mais força, mas continuarei a luta, mesmo que saia derrotado, antes morto que ferido! Pintei a Primavera com letras a flores, estrelas e borboletas, Primavera essa que nunca chegou, por engano meu, por fantasia dos meus sonhos, por acreditar no impossível, e por ser estúpido ao ponto de me voltar a deixar iludir por um órgão constituído todo ele de fantasia e quem nem sequer existe dentro de mim. Afinal deveria ter pintado era o Outono com letras às folhas secas e ao seu estalar quando as piso, ou ao Inverno e à sua neve branca que nunca vejo cair. Poderá ser o fim de uma longa história, triste história, o fim de uma luta, e o começo de um arrastar de caixão. Provavelmente morro com o fim da luta... mas se te faz feliz...
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1 comentário:
Como eu gostava de escrever/exprimir tão bem como tu próprio sabes! Invejo-te por isso. :D
Faz aquilo que o teu coração mandar.
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