19.11.11

Diário da Índia - Dia 1

À chegada a Deli já não estranhei a maioria das coisas, como o chão alcatifado, os militares armados, a má disposição dos funcionários que controlam as entradas no país, o cheiro, a chapada de ar quente e húmido, 20º perto das 2h da manhã... nada disto me soou a novo. Depois de recuperada a bagagem enviada no Porto, procurei a porta que pela manhã, bem cedo, me cederá passagem para o avião até Chandigarh. Encontrei a porta e julgava ter encontrado numa espécie de “bancos-cama” o local ideal para dormir cerca de 4 horas, mas estava errado, não consegui nem 10 min. A televisão muito alta com o teclado bloqueado e a luz muito forte que mesmo de olhos fechado me fazia confusão obrigaram-me a ficar acordado até de manhã, cada vez mais cansado. Lembro-me de andar a arrastar os pés por sentir que estavam cada vez mais pesados, e se calhar até estavam, o pé torcido voltou a inchar, e de que maneira. Foi então sem dormir que fui ao encontro do avião que, ao contrário do que eu esperava, não estava munido de dois poderosos jactos mas sim de duas hélices a fazer lembrar um avião de combate da 2ª grande guerra. Entrei e pude constatar que por dentro o avião não tinha melhor aspecto do que por fora. Avisaram depois todos os passageiros que a descolagem foi adiada por existir muito nevoeiro no aeroporto de Chandigarh. Novo aviso e novo adiamento… só à quarta o avião se fez à pista, do outro lado do aeroporto por sinal e já eu tinha descansado os olhos um bom par de minutos. Da viagem em si só me lembro do quase fim e do fim, o que separa isto do inicio foi passado de olhos fechados. O quase fim resume-se a uma tentativa falhada de aterrar o avião, segundo o comandante não havia radar e o denso nevoeiro não o deixou identificar a pista, pelo que se aceleraram os motores e se foi dar a volta ao avião. Depois de aterrar e de um duche rápido num hotel próximo, tapei o buraco com parte de uma pizza e fiz-me ao caminho até aos Himalaias. Não imaginava eu que estava tão longe. Já da outra vez me fascinou a perícia com que se conduz por aqui, sem grandes regras, mas hoje tive a prova cabal de que é preciso muito sangue frio. Foram quilómetros a fio percorrido entre curvas e contra-curvas, sempre com ultrapassagens do outro mundo e que não lembra a ninguém. O que é certo é que cheguei à fábrica de Baga inteiro, numa só peça, e já é hora do jantar. Se calhar já me tinha esquecido de como era a comida por cá, mas ao entrar no refeitório, o cheiro intenso a caril e pimenta que me entrou pelo nariz dentro, rapidamente me fez lembrar todos os sacrifícios. Hoje foi massa, mais picante que o normal, amanhã logo se verá. Tudo a postos para começar o trabalho. São 16:24 em Braga, 22:04 em Solan, Índia, e eu vou tentar repor as energias gastas na viagem, vou dormir.

18.11.11

Diário da Índia - Dia 0

É novamente bem cedo que me faço à aventura. Afinal a caminhada não será assim tão diferente da última, apenas alguns pormenores mudam. Ia o sol a meio do seu sono quando me despedi dos que cá ficaram, levando comigo o nó no peito de recordação, ainda assim, obrigo a que em mim reine a boa disposição, numa tentativa de tornar tudo menos doloroso. Não sei se por mero acaso, por infelicidade ou por “vontades” de alguém que desconheço, as coisas não começam da melhor forma e a meio da fila para a revista da passagem à zona de embarque oiço o meu nome ser chamado nos altifalantes do aeroporto, estava atrasado e estavam já a fazer a última chamada… Ultrapassou-se esse pequeno problema e lá entrei no avião, com lugar reservado na última fila, junto do corredor. Lembro-me bem do avião ter levantado, mas a certa altura o peso nos olhos era tanto que fui obrigado a cerrar as pálpebras, ainda que não seja considerado dormir. Dormir dentro de um avião é tarefa impossível, uma vez que, para mim, dormir implica descansar.
Chegado ao gelado povo alemão, procurei a porta de embarque, ainda fechada, que me levará a Deli, procuro depois um local para almoçar, desta feita o McDonalds  para que me lembre de quando foi o última vez que a carne fez parte da minha ementa. Regressado à porta de embarque, reparo que me acabaram de marcar um lugar em executiva com o nome de Jacob Xavier… Alguém quer que fique por aqui e que não embarque rumo à Ásia. Apesar da senhora do balcão da companhia aérea Lufthansa não ter ficado muito convencida de que o meu nome não era Jacob, lá me deu o bilhete certo, sentado entre um indiano com cerca de 30 anos e uma indiana bem mais velha, com cerca de 60, no corredor do meio do avião. Desta viagem lembro-me apenas de alguns tópicos, lembro-me de passar grande parte do tempo de olhos fechados, lembro-me da primeira refeição, frango com batata, lembro-me da dor de costas terrível e lembro-me do desespero que começo a sentir por não poder descansar e dormir em condições, custou imenso fazer a viagem, mas lá se fez e cá cheguei… Olá Deli!

17.11.11

Não deixes cair mais


Escorre, salgada, fria, agreste…
Como a despedida
E o último beijo que me deste.
Mas não apaga a dor sentida
Nem tira o aperto do peito.
Continua a escorrer no seu leito
Cara abaixo, a lágrima triste
Caindo na mão que ternamente abriste
Para guardar um sopro de mim
Junto ao teu coração doce
Onde por agora só guardas esse frenesim
E desejas que o dia de regresso já fosse.
Mas ainda não o é…
E ainda nem sequer fui, mas…
Quando voltar vou estar ainda mais próximo de ti
Para te contar as histórias que vivi
Passar um bom bocado contigo,
Que eu cumpro sempre aquilo que digo,
Até deixo-te uma lembrança,
Um abraço enorme e um beijo sentido,
Vou, mas volto na esperança
De saber curar esse coração ferido…

15.10.11

A vontade da telha


E se a telha estiver partida?
Se recusar encaminhar água
Para o caleiro como fez toda a vida?
Tem o direito de se achar perdida,
De não mais querer ser telha
Por achar-se já velha,
Queimada pelo sol, que lhe bateu durante anos,
Roída pela água que encaminhou para os canos.
Desgastada de uma vida dura
Onde ninguém lhe encontra cura.
Com vontade de deixar as demais,
Deixar de ser pouso de pardais
E simplesmente nada fazer,
Apreciar um dia o amanhecer
Gozar a vida até ao anoitecer…
Permitirá o telhado tal desejo
Gerado pela telha num breve ensejo?
Sem ela o telhado não tem valor,
Fica oco, sem alma, perde a cor…
Acorda a telha em sobressalto
Com a água que cai lá do alto,
Jura nunca mais querer
Ao telhado não pertencer,
Enche-se de força e consegue gritar
Para que a ouçam além, no mar:
- Poderei para sempre ser velha
Mas orgulho-me de ainda ser telha,
A ti que de pedras tens as mãos fartas
Só te rogo que não me partas!

22.9.11

Vento


Subi à mais alta montanha!
Queria ver-te, tenho saudades.
Puxei pelas minhas habilidades
E tentei decifrar tudo o que olho o apanha.
Não te consegui ver, estás distante.
Desanimei e sentei-me nas flores a meus pés
Contei-lhes tudo, disse-lhes quem és,
Disse-lhes o que sinto, o quanto és importante.
No meio da conversa tentou meter-se o vento
Com seu ar forte e valentão, ia soprando
Ia-se fazendo de desatento,
Mas chamava-me fraco e suspirando
Pedi-lhe um enorme favor,
Pedi-lhe que te entregasse um beijo
Doce, ternurento, meigo, cheio de amor,
E te dissesse que ver-te neste ensejo
Era o meu maior desejo.
Poder sussurrar-te o quanto te quero,
Acalmando-te prometendo que por ti espero
Como se estivesses ao virar da esquina,
É assim que vou sobrevivendo,
Enganando a mente que também desatina,
Enganando um coração que resiste à dor
Anestesiada pelo teu amor.
Depressa o vento forte se comoveu
E o seu ar agreste desapareceu,
Amainou e ouvi-o prometer
Que te entregaria o meu pedido
Numa leve brisa ao amanhecer.
Um beijo, um carinho e um amo-te sentido…

Parabéns!



Pediste-me que fizesse um poema
Anunciando o teu aniversário,
Respondi que pegaria nesse tema
Adicionaria mais um poema ao diário.
Busquei as palavras ideais,
Enfeitiçadas pela tua alegria,
Nascidas entre os meus dedais,
Sentidas com alguma nostalgia.
Palavras não há para igualar
A prenda que tu merecias,
Um inteiro recital te queria dar.
Lamento por apenas te desejar um
Aniversário muito feliz…

20.9.11


Há uma nova remessa de 50 livros pronta a ser distribuida por quem os desejar. A quem não conhece, é uma edição com alguns dos melhores textos publicados aqui no blog ao longo dos últimos 5 anos.

3.9.11

Não é justo esconder

Deixei-me levar pelas notas de um piano, que me foram batendo uma a uma no peito. Leves, meigas, doces… suaves… Lembraram-me de ti, mas não me mataram a falta que me faz o teu carinho. Cansei-me de te esconder em emaranhados de palavras, em textos sentidos pelo coração mas nem sempre fazendo sentido para quem os lê, cansei-me de joguinhos com letras. Não é justo esconder o que arde cá dentro, o que de mais bonito podemos ver nascer e sentir, o que mais queremos preservar e queremos fazer durar. Não é justo guardar só para mim a vontade de gritar o que sinto por ti quando na verdade quero gritar mais alto que tudo e todos.  Parei para pensar em como somos tão estúpidos ao ponto de não dizermos que amamos alguém porque temos medo, medo que nos achem ridículos, medo que nos achem inferiores e frágeis, mas na verdade desejamos com todas as forças ouvi-lo da boca de alguém, num sussurrar sentido ao nosso ouvido, numa voz tremula, meiga e doce, num palpitar de um coração que quer sair do peito, num esvoaçar de ideias que nos fazem sentir as pessoas mais felizes do Mundo. Não acredito que alguém não seja assim… Se queremos ver um sorriso na cara de quem amamos porque não lhe dizemos? Porque não lhe baralhamos os sentido e não lhe pomos o coração aos saltos? E se não houver amanhã? Um dia não vai haver, e vamos querer voltar a um ontem que nunca vamos poder, por isso te digo hoje o que há muito tempo alguém incompreendido chamou de fogo, por isso não te escondo neste texto. Podia dar-te uma flor, podia dar-te a maior das extravagâncias, mas não, nada disso é suficiente, é o Mundo que quero conquistar para ti. Não sei ainda quando estarei do outro lado desta bola que chamamos planeta mas prometo-te que volto, volto por ti, e trarei o outro lado do Mundo que prometi dar-te… Até lá quero apenas lembrar-te do que me enche a alma, me acalenta o coração, me alimenta o sorriso. Porque mesmo não sendo Carnaval não levas-te a mal que dissesse que te amo. Não te vou chamar de flor, nem de borboleta, ou outra coisa qualquer para te esconder, chamo-te de Joana e digo por isso que te amo…

3.8.11

Recuso-me acreditar

Um sorriso que se perde nos dias
Que passam e deambulam por nós
Sem razão, deixa a dor nas noites frias
Pela falta do calor de sua voz.
Dói estar tão consciente da realidade,
Atravessa-se na garganta o grito mudo
Que não acredita em tamanha atrocidade,
Que não vê nisto o fim de tudo.
É impossível não te ver mais!
Tira-me a lágrima que me tomou de assalto,
Acredito que verei teus risos e gestos banais
Quando procurar por ti amanhã, bem lá no alto…
É mentira tudo o que me dizem
Acreditar é impossível, não dá!
Custe o que custar, por mais vontades que deslizem,
Sei que te vou encontrar, por isso, até já…

2.8.11

À espera do recomeço

Sinto no peito algo que não defino.
Não por não querer, mas por não ser capaz,
Por não me sentir suficientemente audaz
E quando tento explicar sai algo sem tino.
Sinto bolas, sinto golos, sinto abraços,
Explosões de alegria que me seguem os passos.
Tenho sonhos, tenho ilusões,
Tenho a crença que ainda seremos campeões
Se para baixo não nos empurrarem
Os senhores que no futebol mandam,
Para se satisfazerem e se vangloriarem,
Mas que ao longe a vigaristas tresandam.
Temos de lutar contra esta espécie,
Unidos e com as nossas armas prontas,
Deixar de lados as batalhas tontas
Entre aqueles que a nós pertencem
E que apenas de algum fervor carecem.
Se somos família dentro da muralha
É contra os de fora nossa batalha.
Contra quem nos destrói o sonho
E esses sei que não são Braguistas,
Por esses ponho as mãos no fogo
Pela certeza de serem bairristas.
Para a nova época estamos prontos
Derrotaremos quem nos acha tontos,
Até não poder-mos mais, iremos marchar!
Quem comigo se vai alistar?