Odeio ter de ser eu. Quem me dera ser outro qualquer a mandar na minha vida, a dizer o que realmente devo fazer, a escolher o que posso e devo sentir. Tenho de deixar de continuar a viver sem objectivos, ou melhor, são tantos que os confundo. Não consigo perceber se quero quem nunca tive, se quero quem nunca hei-de ter, se quem não posso, ou se quem voltou, se quem não conheço ou se quem se lembra de mim a momentos espaçados por eternidades que me consomem o sentimento e o matam. Estou desfeito por não saber o que sinto, por não saber se ainda tenho coração. A verdade é que me apetece dizer que te amo, mas se nem sequer te vejo como posso dizer tal coisa para que o sintas como verdadeiro? Não posso, não quero e não vou dizê-lo. Sei que tu não o queres ouvir, talvez tenha esticado a corda de mais, talvez não mereça tamanha sorte e o meu lugar seja mesmo este, frio, escondido e esquecido, apenas com o luar por companhia, se as nuvens me derem essa benesse, olho-a e desejo-a tanto como a ti, fixo-lhe os olhos apreciando o brilhar tal como o faria com o teu se não tivesses olhos também e obrigasses os meus a desviarem o alvo, por isso continuo a olhar a lua, e a imaginar-te, a sentir o sangue acelerar até ferver e até a desilusão de tudo não passar de uma alucinação me assolar, deixando-me de lágrima a escorrer, salgada como o paladar do fracasso e da vergonha, não a travo, deixo-a escorregar até ficar pendurada no queixo e cair para a morte no meu regaço. Nada à minha volta se ouve, e aprecio apenas o silêncio que me apazigua a dor algures no peito, no ego e na alma. Não vou mais a lado algum, vou viver assim entorpecido até que alguém me descubra, tem de haver alguém, nem que seja a lua a vir-me buscar sorrateiramente e levar-me para longe de tudo, ninguém deverá sentir a minha falta, apenas um leve sussurro “ele já foi”, o ninguém que incomoda, o ninguém que diz algo que deveria calar e que no fundo sabe que deveria dizer o que cala, o ninguém que usa palavras incorrectas com quem acha certo, o ninguém que espera por algo que nunca há-de vir, o ninguém que senta ao luar e chora por não te poder amar...
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