- Porque me mandaste chamar?
- Porque preciso falar contigo. Quero...
- Não me podias ter chamado tu como fizeste tantas outras vezes?
- Não. Não vês que me deixaste fechado entre quatro pensamentos sem janela ou porta por onde escapar? Não sou capaz de voar, e os pensamentos são altos demais para os transpor.
- Culpas-me então por esse teu entorpecimento e essa tua falta de vontade de te erguer? Não foste tu que pediste que te ferisse? Tentaste pelo menos abrir as asas e voar?
- Tentei...
- Mentiroso! Não mereces nada do que sentes por ninguém, as feridas que te faço deveriam servir para te ergueres e voares, para te atirares de cabeça, para tentares... Não fazes mesmo ideia do que queres pois não? Porque choras como uma criança?
- Porque não sou capaz de distinguir o que quero do que tu me obrigas a querer, do sentimento que tu me cravas com essas lanças, da vontade que eu tinha de deixar tudo serenar e da que agora me deste de voltar a entrar no jogo de vida ou morte! Eu não te pedi isto!
- E eu não te dei nada disso. As confusões fazes tu na tua cabeça! Eu torno as coisas simples, encarreiro-te para quem tu queres, não escolho ninguém, nem estejas à espera que faça tudo por ti. Eu dou-te o que precisas para começar, agora só tens de fazer o resto, sem ajudas de ninguém, apenas com todo o teu valor.
- Qual valor? Eu não tenho valor, ninguém o vê em mim, ninguém me...
- Cala-te! Se ninguém vê que tens valor e que vales a pena é porque não o mostras, é porque o escondes. A culpa é tua e só tua. Sabes que mais, vou-me embora, não tenho de te dar explicações de nada do que faça, tu não passas de um mortal e eu vou continuar a ferir-te com lanças quando bem entender e como bem entender. Adeus!
- Não penses que essa cara de menino me faz ter pena de ti e deixar de te culpar pelo meu sofrimento de não saber o que fazer, de ter medo de arriscar e de querer o que não posso ter. Isso, vai, voa para bem longe! Deixa-me ficar só! Desaparece Eros!
O Eros foi, não sei se volta, e eu não sei se lhe devia ter o que disse, afinal sinto-me culpado de tudo e o que ele diz faz sentido, ou não fosse ele um Deus... Maldito sejas Eros!
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