4.6.10

Sol gelado

Quando o sol gela, é como um trago de sopa fria fumegante, quando precisamos de algo que nos aqueça até a alma. É um vazio de sentimentos e emoções que nos deixa desnorteados, a vaguear sem sabermos bem por onde. Quando o sol gela, não tenho quem me aqueça, faz-me falta um abraço, uma palavra, um carinho... Quando o sol gela, nada mais brilha, nada mais tem encanto, e a escuridão apodera-se do que os olhos vêm. Deixam de existir as borboletas, as flores, as estrelas, e deixa de fazer sentido lutar pelo dia de amanhã. Por muito que tente e por mais ainda que queira, não vejo forma de mudar as coisas. O desinteresse parece-me lógico de alguém com medo de arriscar, com medo de pelo menos tentar, com medo de aquecer o sol. Sei que vos assusto e que talvez não seja coerente, sei que não sou floricultor, astrónomo nem tampouco entomólogo lepdoptero. Sei tudo isso e continuo sem saber o que sou afinal, continuo sem saber porque gela o sol e me põe este frio cá dentro que me arrepia a espinha e me faz gritar interiormente com todas as minhas forças, até que as lágrimas me escorram cara abaixo pelo esforço feito... Não consigo moldar ninguém, nem que se sintam tocados por mim, preciso de um sol que me aqueça para poder dar o afecto, o carinho e o calor que os outros precisam e para que possam desejá-lo. Porque foges de mim, porque sopras a vela que me aquece por fora e me engana o interior, porque não derretes o gelo do sol?

Quebra o gelo,
Deixa que o sol brilhe,
Porque quando o sol gela
Eu não sei mais se te ame...

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