1.12.07

O meu Braga - Bayern




Sim, é verdade, eu falhei o jogo da época do meu clube do coração. O meu Braga a defrontar uma das melhores equipas a nível Europeu e respeitada por esse mundo fora, no dia em que faço 21 anos, e eu não fui até à pedreira... Difícil de acreditar para quem me conhece, mas é a realidade. Não foi o preço dos bilhetes, nem o frio, nem a transmissão na televisão, nem mesmo uma possível festa de anos que me afastaram do estádio. Foi o horário de trabalho, que não me deixou ir ao estádio. Uma televisão era um sonho no meio de tantas máquinas, mas era impossível conciliar ambas as coisas, no entanto, o relato do meu rádio de bolso não me impedia de continuar a laborar normalmente. Todos aqueles que já ouviram o relato de um qualquer jogo de futebol do seu clube, sabem bem o quanto irritante, stressante e enervante é ouvir o relato de um jogo com este carácter... Tive de me sujeitar a tal pressão tentando imaginar o que era relatado, tendo por isso (talvez) sentido o jogo de maneira um pouco diferente...
Faltam ainda 15 minutos para o jogo se iniciar, mas já não consigo aguentar mais e vou buscar a minha fonte de esperança, coloco o phone no ouvido o mais rápido que posso para saber notícias vindas do estádio. “Será um jogo que tem tanto de difícil como de histórico para o Braga. O Bayern é um colosso e não irá facilitar, apesar disso tem a pressão do seu lado e o Braga poderá aproveitar isso e com o apoio do público poderá num golpe de sorte não sair derrotado no jogo de hoje...” Eram as primeiras notícias vindas de Dume, e no fundo espelhavam o que eu pensava embora eu tivesse a esperança de receber uma prenda de aniversário via rádio. Seguiram-se os onzes inicias e a entrada das equipas em campo. Os nervos não param de aumentar e ansiedade já cá anda no meio dos tornos a tentar apanhar-me. “Eu aqui quietinho e o Oliver Kahn a entrar, olhou para mim, e não imaginam a sensação, eu não sabia onde me meter, o homem mete medo. Só a presença dele em campo pode intimidar os avançados do Braga...” – enquanto o comentador da rádio transmitia esta frase um arrepia percorreu-me o corpo todo ao ouvir cerca de dez mil almas a incentivar o Braga. Vai começar o jogo e a pulsação já não baixa tão cedo! “Joga o Braga pela direita e é Jorginho que transporta a bola, sai o cruzamento...aparece Vandinho cabecear... (o coração parou repentinamente, o peito apertou-se todo, fico imobilizado) e a bola a sair ao lado, excelente oportunidade do Braga se adiantar no marcador...” Volta o coração a bater e abro o punho que se tinha cerrado. Eu nem queria acreditar que o Braga assustou o Bayern! Após alguns calafrios provocados por ataques dos bávaros chega o minuto vinte, e o resultado mantém-se como começou. Está-se a aguentar bem o Braga, pensava eu na altura, mas de repente “Linz ganha bola na área, excelente oportunidade, remata Linz... (e enquanto aperto o punho direito contra a palma da mão esquerda ouço o público Bracarense a gritar golo, todo arrepiado e completamente fora de mim, formo um grito igual no fundo da minha garganta que é interrompido pelo caminho) e o árbitro a anular o golo por possível falta de Wender sobre um contrário. Nas imagens televisivas não parece ter existido qualquer falta...” Nem queria acreditar que o Braga tinha marcado um golo limpo ao gigante Bayern que o arbitro se encarregou de anular. Começo a ter cada vez mais fé na tal prenda. Mais um punhado de ataques do Bayern, e mais uns cortes na minha mão, porque a limalha não perdoa distracções, e concentração é coisa que me foge por entre os dedos neste momento... Últimos dez minutos da primeira parte e três jogadas excelentes que poderiam ter dado golo para o Braga, primeiro Linz não toca na bola, e de seguida dois remates de Wender que apenas Kahn conseguiu travar, valeu-lhe a experiência. Vem o intervalo e a certeza de que o Braga se estava a debater de igual para igual num jogo entre David e Golias...
Depois de ter conseguido baixar o ritmo cardíaco lá começou a segunda parte. “Klose completamente solto com a baliza à sua mercê nem queria acreditar nas facilidades dadas pela defensiva arsenalista e ainda hesitou antes de atirar a contar para o fundo das redes...” Não acreditava ele nas facilidades, nem eu no que estava a ouvir. Que balde de água fria... Tinha já perdido as esperanças da prenda quando me chega ao ouvido “Wender encontra uma linha de passe para Linz, envia-lhe a bola, Linz desvia o defesa que acaba por escorregar sem falta, pode marcar o Braga, remate cruzado de Linz... (não consigo descrever a sensação com exactidão, sei que deixei de ouvir os tornos a trabalhar, senti o coração a acelerar, agarrei com firmeza a peça que tinha na mão, cerro com toda a força a outra e os dentes, e ouço o mais belo grito saído da “gruta” como pano de funda voz do relatador) ...é golo!!! O Braga empata a partida, o Braga joga bonito, o Braga merece...” Grito tão ou mais alto que as máquinas a trabalhar, sinto os músculos todos a contraírem ao mesmo tempo de maneira que me sentia capaz de levantar com a força de braços todas aquelas toneladas de ferro que compõem um torno. Sensação indiscritível a vivida... Mais uns cartões amarelos, mais umas jogadas de luxo, mais uns remates no jogo e mais uns cortes nos meus dedos, mas já nem sinto dor... “Ao que o Braga jogou aqui esta noite merecia, sem a menor dúvida, sair daqui com os três pontos. Foi uma equipa valente, jogou futebol bonito, deu espectáculo, encostou o Bayern às cordas, olhou-o olhos nos olhos, sem medos nem receios. Foi um Braga que demonstrou ser merecedor da alcunha carinhosa dada pelos adeptos, foi o verdadeiro “Enorme”...” Ao fim de ouvir isto só posso dizer que tive pena de não poder ter ido ao estádio, foi difícil ouvir o relato e sentir o coração próximo do ataque cardíaco mas acima de tudo que sinto orgulho em ser Braguista e que a prenda chegou via rádio...

29.11.07

Mais um 29 de Novembro




Faz hoje, exactamente 200 anos, que a Família Real Portuguesa partiu em direcção ao Brasil com o objectivo de escapar às inimigas mãos de Junot, o general francês a quem Napoleão Bonaparte confiou a primeira invasão a terras de Camões.
Pode o primeiro parágrafo ter bastante importância na história do meu país, pode até ser alvo de estudo nas aulas de História, mas para mim, existe algo que ultrapassa tal importância, algo bem mais recente... Não é estudado na escola em disciplina nenhuma, nem sequer é merecedor de tal. Apenas me diz respeito a mim, e por tal, já é de estrema importância pessoal. Faz hoje 21 anos que passei a constar como um novo cidadão português no Registo Civil lusitano. Podia olhar para trás, reviver, ainda que apenas em pensamento, todas as coisas boas por que já passei, lembrar todas as más que, por minha culpa ou por culpa de outrém, me fazem querer mudá-las e me fizeram aprender com os próprios erros para não cair duas vezes na mesma casca de banana. São 21 anos de encontros e desencontros, derrotas e vitórias, altos e baixos, tudo o que uma vida normal tem. Podia, realmente podia, mas não o vou fazer. Não o faço por uma razão simples, ontem, alguém com uma opinião que eu respeito e valorizo disse-me que “quando olhámos para trás podemos não nos aperceber do degrau que temos à frente, e podemos (ou não) cair nele”, daí que, a jogar pelo seguro, vou olhar bem para o degrau, para não tropeçar nele, ainda que, se por ventura, este degrau me leve a um nível mais baixo vou cair de pé e com uma certeza: um dia vai aparecer um degrau para subir, e aí eu vou estar atento e vou subi-lo com os pés bem firmes...
Desejo a todos os que hoje fazem anos um excelente dia, e como forma de agradecimento a todos os que se lembraram de mim deixo, mesmo antes de partir, uma musica...




24.11.07

Devagar




Aos poucos. Assim vai acontecendo o meu regresso, no fundo como tudo na minha vida. É difícil viver o dia de hoje com 10% do pensamento na saudade de ontem, mais 10% no desejo de poder voltar atrás para modificar o que ficou gravado,5% a tentar mudar o futuro, e com uma grande parte a recear o futuro próximo. Tento viver de pequenos momentos onde se mistura o passado, o presente e o temível futuro. Continuo a sorrir para que não se note nenhuma diferença em mim, mas minto, minto como quantos dedos tenho nas mãos. Sinto-me triste e desorientado por dentro. Tenho medo, medo de ver as horas passar, medo da correspondência que o carteiro traz, medo que o futuro chegue... Ouço dizer, pelas ruas da minha memória, que com a saúde não se brinca. E eu juro a pés juntos, que não me lembro de ter brincado com ela nos 20 anos que levo de existência. Juro ser tão verdade como a lágrima que me escorre. Mas ela é irmã gémea da vida, e como se não chegasse ainda tem muito em comum com ela, é injusta, dura e atinge ao acaso...
À pouco menos de um ano, um zumbido no ouvido e um líquido invulgar que me escorria do ouvido esquerdo fez-me ganhar uma ida ao médico, na altura o médico da fábrica onde trabalhava. Foi-me dito que era um infecção pequena e que com o tempo passava... Mas não passou, e por força do aumento de liquido que parecia nascer no orifício por onde ouço, resolvi ir a uma urgência no posto médico. Desta feita na vinda para casa tive de passar pela farmácia e levantar o receituário. Uma otite, era do que padecia. Acalmou por uns tempos o fluxo que brotava anteriormente, mas acabado o tratamento com antibiótico voltou a aumentar, e desta vez vinha mais frequente, mais grosso e tinha cheiro (insuportável diga-se). Nova ida às urgências, novo antibiótico receitado, mais forte desta vez... Parou de escorrer, mas a audição estava diferente... mais baixa... bem mais baixa... Volta o fluído, mais grosso, mais escuro, mais mal cheiroso, e desta vez com sangue à mistura uma vez entre outra. O susto leva-me de volta ao centro de saúde, mais um antibiótico, que no fundo, era a junção dos dois anteriores, e o conselho de consultar um otorrino. A ausência de dor, sempre me levou a crer que seria algo passageiro, mas o último conselho dado como forma de única solução e a perda parcial de audição abalaram tal crença. Após consultado o otorrino ganho dois antibióticos e um anti-estaminico que me iria ajudar a manter o ouvido seco, num tratamento de cerca de 8 dias. Um pedido de um TAC veio anexado à novidade de que o tímpano esquerdo teria uma ruptura de cerca de 3mm. De volta ao posto médico na tentativa de bater um recorde, lá consigo a consulta com a médica de família que me iria passar o tal TAC enquanto eu a punha ao corrente da situação. Marcado e feito o TAC e já com o último tratamento terminado, volto ao consultório de otorrinolaringologia para saber o resultado. A eternidade de cerca de 20 min na sala de espera, faz-me suar, acelerar o coração, e alienar-me para um outro lugar qualquer. Ouço o meu nome ser chamado e não me lembro sequer de como fui ter ao consultório, a ânsia não deixou. O relatório trazia escondido algo que não estava de todo à espera. Um tumor. Benigno e pequeno, mas não deixa de o ser por isso e não deixa de me arrepiar nem de eu o temer. “Habita” no meu ouvido perto da bigorna e do martelo (2 dos 3 ossos constituintes do ouvido médio). Uma operação resolve o problema e dentro de 15 dias deverei receber uma carta do hospital com notícias. Daí eu não desejar o futuro, daí eu ter medo que os ponteiros se mexam, daí eu ter medo do que traz o carteiro...
Feliz daquele que lhe dói alguma coisa, é sinal que sabe que tem um algo mal... ao contrário de mim...

29.10.07

Afinal existia um “V” na ponta da minha ida


89 dias e 23 horas. Era o que marcava o contador quando parou. Afinal sempre parou. Afinal o Nemec sempre voltou, apesar de nunca ter saído daqui de perto. Passou muito tempo, deu para refrescar ideias, para angariar novas e foi-se acumulando a vontade de escrever, de soltar as palavras... Dava por mim durante o dia a vaguear no pensamento bem longe do presente que vivia, lá onde se iam formando textos aos poucos, por vezes não passavam de frases, outras vezes de simples parágrafos, mas na grande maioria não eram mais que intenções ou desejos, vontades de deitar cá para fora sentimentos, ânsia, opiniões, que formavam palavras que me corriam no sangue e acabavam por ser coadas nos rins por perderem a validade e o sentido, tanto era o tempo que me corriam no sangue, presas nas celas que eram as veias! Mas agora vou poder voltar a dizer tudo, voltar aos meus devaneios, aos meus pensamentos que mesmo podendo ser errados, eu lhes dou valor por me saírem com sentimento.
Voltei, não sei se ao mesmo nível que antes de partir, mas voltei, e isso é que me interessa. Posso até ter perdido traquejo com o tempo, mas é uma questão de tempo até apanhar o ritmo do comboio e voltar a sentir uma paz interior que só sente quem realmente exprime por palavras as reacções aos sentimentos... No fundo não me devo preocupar muito com isso, uma vez que, eu não passo de uma espécie de holograma, um ser que não existe, um pseudónimo que exprime os sentimentos de quem o criou. Não posso influenciar o meu criador em nada, já que não tenho vida, mas sou totalmente influenciado por ele. Sou uma espécie de segunda personalidade, alguém totalmente diferente do original, pois só ao Nemec vêm a capacidade de escrever textos em blogs, poemas, opiniões, apenas eu fui capaz de ver mais de uma mão cheia de textos publicados num jornal, ainda que por burocracia tivessem de ser assinados pelo Rui... Só eu sou capaz disso, o Rui não... o Rui continua o mesmo apaixonado pela namorada, defensor do Braga e do Braguismo, frustado com o emprego, com vontade lhe virar as costas, farto de promessas quebradas sempre pela mesma pessoa, farto que, por elas serem sempre quebradas, continue preso a um horário que lhe tolhe a vida e não o deixa gozar coisas simples mas importantes na vida, mas apesar de tudo continua a tentar fazer rir toda a gente...
Obrigado a ti que esperas-te por mim, obrigado a ti que foste ficando por aí, obrigado a ti que insististe em cá vir e saber se já tinha voltado... e a ti sussurro “Acorda... já cheguei!”.

31.7.07

Adeus, e até...


Parto em breve, e este é em jeito de despedida! Não sei quando vou exactamente, mas sei que não tarda muito, não sei com quem vou, talvez sozinho talvez com algo mais, não sei para onde vou, pode ser longe, pode ser que fique por perto, não sei por quanto tempo vou, mas dói saber que vou. Dói olhar para trás, ver o que está escrito, reviver tudo outra vez e sentir novamente cada palavra com a mesma intensidade e emoção. Dói deixar o “Acorda-me quando chegares” ficar pelo XI apesar de na verdade ter o (suposto) fim marcado para o III (que por imposição dos acontecimentos não aconteceu). Dói saber que vou deixar de ser objecto de leitura por parte de conhecidos e de alguns desconhecidos, dói não lhes poder dar certezas do futuro. Dói... Fere... Marca... Custa e muito ser a criação de alguém com imaginação que está sempre por detrás (ou no interior) de mim e ter de o fazer. Alguém com sentimentos fortes que cria um pseudónimo para se expressar, cria uma personagem como sendo ele próprio. Escreve, desabafa, sente e vive o que faz enquanto encarna a personagem de nome invulgar com origens na Europa de Leste. Blogs e fóruns faziam parte da vida desta figura que represento. Talvez faça uma espécie de falta a quem lia os meus devaneios ou pensamentos (nem sempre lúcidos), talvez lhes cause tristeza, talvez indiferença, talvez felicidade, talvez... Talvez... Resta-me despedir de todos, não sei se volto, e se voltar não sei quando, mas quero acreditar que voltarei a servir de pseudónimo novamente ao meu criador e que isto não vai ser a morte do Nemec e será apenas um estado de coma, um até já, um até breve, mas por enquanto fica um até sempre e um obrigado a ti em especial, a ti que me deste força para continuar a escrever, a ti que me deste força para manter vivo e actualizado por mais tempo, a ti que me serviste de inspiração, a ti que leste o que escrevi e tiraste a tua própria interpretação, a ti que comentaste o que ia sendo actual, a ti que esperas pelo meu regresso e a ti que eu vou acordar quando (se) chegar (regressar)...

Até sempre,




Nemec




28.7.07

Mão cheia de dias diferentes (Expensive soul - Brilho)

Confesso, estava já farto de sair todos os dias para o trabalho e ver pela estrada em direcção ao rio, gente de calções e t-shirt a cobrir o fato de banho, ar descontraído, andar calmo e sem stress, outros sentados na esplanada de um café a refrescar a garganta e a alma, sem pensar em nada, mente solta e liberta e sem relógio no pulso... Já no trabalho, e a escorrer água, vinham-me à memória essas imagens onde eu me imaginava e lá ia passando mais um dia de trabalho. Mas isso hoje acabou. Acabou porque, ao fim de 3 anos a picar o ponto todos os dias, vou de férias, vou ficar tal e qual como me imaginava enquanto torneava o metal... Só quero as minhas férias assim...


27.7.07

Acorda-me quando chegares XI


Deixei-me levar pelo silêncio causado pela tua ausência física. Silêncio constante e perpétuo que me induziu numa espécie de coma, de onde nem as pombas, que se apoleiraram em mim, me fizeram despertar. Um mundo escuro e mudo onde me fechei na tua ausência. Durante um dia inteiro nada nem ninguém me consegui perturbar, mas hoje, hoje logo pela manhã, ainda o sol se espreguiçava, algo me curou. Uma voz leve e suave chamou o meu nome... Abri rapidamente os olhos e tentei focá-los o mais rápido possível, em frente já não via a linha férrea que desaparecia no horizonte, via o comboio do qual tu eras passageira única, e quando olho para o lado sinto o beijo mais doce que se pode imaginar, e ali estavas tu, a olhar para o meu sorriso cravado na face e impossível de disfarçar... Jurei nunca mais me separar de ti, embora imagine no fundo, mesmo sem querer acreditar, que isso não seja possível. Agora já posso sair da estação que me serviu de casa nos últimos dias, já consigo olhar em redor e apreciar a beleza de todas as coisas ainda que incomparável com a tua. Ao olhar o banco, onde permaneci à tua espera, em jeito de despedida, vislumbro-lhe, na cara que não tem, um sorriso enorme, que mais ninguém vê, por ver o meu. Sinto-me a pessoa mais feliz do mundo. Daquele mundo monocromático que a colorido passou. Sinto-me amado neste momento do reencontro, e já depois da euforia maior consigo olhar-te nos olhos doces e meigos e sussurrar “Obrigado por me acordares” mas na verdade foi dito, e sentido, como um simples mas verdadeiro “Amo-te”!

25.7.07

Acorda-me quando chegares X




Acordei sobressaltado. Um ruído crescente fez-me despertar deste sono irreal onde sonhava contigo. Ainda com os olhos fechados imaginei seres tu a acordar-me. Cresceu em mim uma alegria anteriormente inatingível. Devagar fui abrindo os olhos, em espaços muito breves. O sol nascido ainda há pouco tempo feria-me a vista que durante muitas horas ao negro se habituou. Procurei-te com um erguer de cabeça e com movimentos bruscos dos olhos. Deixei-me estar no mesmo sítio para que soubesses onde me encontrar e não nos desencontrar-mos. Enquanto não chegavas fui reparando nas outras pessoas. Um misto de sorrisos e lágrimas preenchiam todo o espaço da estação. A tristeza de quem partia e via partir os seus mais chegados contrastava com a felicidade e os sorriso estampados no rosto de quem chegava e via finalmente perto os seus amados! Era perto disto que eu me sentia! Aos poucos a estação foi ficando vazia. O comboio já tem as portas cerradas e arrancou em direcção ao horizonte. Apenas aqueles que esperam pela boleia permanecem no paredão cinzento... Cinzento foi também como ficou o meu sorriso ao constatar que este comboio não te trazia, pois não te encontro entre os que restam, e a esperança de te ver hoje acabou de morrer. Morte súbita, digo eu! Já não resta ninguém na estação, apenas eu, a solidão e as pombas da praxe... O banco de madeira que me serviu de repouso durante a noite faz-me sinal para voltar para lá, convite que não recusei por uma simples razão: foi aqui que prometi esperar por ti e daqui não saio sem ti! Além do mais não há nada que eu possa fazer, o mundo fora desta estação sem ti é todo cinzento, sem graça, tão monocromático, a única fome que tenho só tu a podes matar, nada me resta senão esperar pelo comboio de amanhã! Observo o sol na sua rota descendente onde se irá confundir com o horizonte, observo-o já cor-de-laranja até que a pequena réstia de luz se esmoreça e desapareça definitivamente. Olho as mesma estrelas que tu e tento perceber o que elas me dizem na esperança que entendas o que te transmito através delas. Volto a fechar os olhos que o sol feriu, e deixo-me embalar pelo banco de madeira... Adormeço depois e peço-te para me acordares quando chegares...

24.7.07

Acorda-me quando chegares IX


Poucas horas passaram desde a última vez que te vi, mas a incerteza de muitas faltarem para te voltar a ver faz nascer em mim um misto de saudade e raiva! Não sei ao certo quantas horas faltam para voltar a ver o teu rosto. Lugar angelical onde permanecem, lindos e serenos, os teus olhos doces, onde mora o tua boca que liberta palavras meigas e beijos ternurentos, que me fazem sentir a palavra amor de cada vez que tocam os meus. Na hora da despedida, uma lágrima quase fugia na ânsia e incerteza de quando te voltar ver, mas ficou presa, e fez-me fingir. Fingi parecer ser forte pois na verdade sentia uma imensa dor por não saber quando te voltaria a ver. A tua felicidade (talvez também fingida) deixou-me sem forças nem coragem para me mostrar fraco, não quis aumentar o teu sofrimento. Forte é aquele finge ser alegre para não tirar o fingimento de alegria da cara de quem ama na hora da despedia. Se isto não é amar, condenem-me à morte por apedrejamento e atire certeiras pedradas quem sabe o que amar é, se o que sinto não é amor, não sei o que é amar, e ninguém sabe o que é amar! Espero não ser longa a tua ausência, mas por muito curta que seja, no relógio do meu sentimento irá ser sempre demorada demais! A ausência dói, mas o reencontro cura e fortalece o ser mais fraco. Nunca nos últimos 5 meses estive tanto tempo longe de ti como prevejo estar agora. Já não me lembro de como são as manhãs passadas sem ti, sem um carinho, sem um mimo, sem beijo! Como irei saciar esta fome sem alimento? Já não sei viver assim... Não sei viver com este amargo na boca, com este vazio no estômago, com esta ânsia que chegue um dia que nem eu sei qual é, com esta vontade de ver o relógio adiantar-se... É tão vagaroso esse comboio que te trás até mim. Muitas estações vai passar até que chegue ao destino e o pior de tudo é que só agora partiu da estação onde te apanhou... Nesta longa e penosa viagem onde o começo é tão certo como a incerteza do fim, vou ficar aqui, na última estação desse comboio movido pelo tempo imaginário que ambos criámos. A noite, apesar de ser de Julho, está fria, e é no amparo deste banco de madeira que me deito e me aconchego para matar este cansaço, para calar a voz desta fome que consome, para me deixar embalar pelas tuas palavras trazidas pelo vento que me gela as mãos que juntas tentam esconder o meu peito, de maneira a guardar o calor do amor que por ti no meu coração mora! Deixo que as pálpebras aos poucos me retirem da visão o ponto mais longínquo da linha férrea e as estrelas que, por entre as nuvens, espreitam. Deixo-me adormecer na esperança de que o dia da tua chegada esteja para breve!

P.S.: Acorda-me quando chegares!

20.7.07

Acorda-me quando chegares VIII (um por cada mês de son(h)o)


Serás?

Serás tu?
A viajante que chegou a tempo
de curar todas as minhas feridas,
de me guiar para o sol...
De caminhar comigo pela estrada da vida
Até o fim dos tempos
Serás tu?
Quem brilha no escuro como o fogo
Encarando a manhã olhos nos olhos
Serás tu a pessoa
que dividirá esta vida comigo?
Foste essa pessoa nos últimos 5 meses
És tu essa pessoa neste dia que nos marca
e quero acreditar que serás tu... para sempre!



Voando nas tuas asas!

Fecha os meus olhos e sonha
Como as sombras na noite escura
Conta as horas até ao amanhecer
Algo me está a faltar (tu)
Consegues imaginar-me enquanto lês o que escrevo?
eu consigo ver-te à espera, lá do outro lado
O que escrevo agora é só para ti
Tudo vai acabar bem
Velejamos sobre a noite
Na espera do crepusculo
Que nos vai trazer o tão esperado reencontro
Consegues ouvir a minha voz ja desesperada
por entre o silêncio da noite?
Ambos sabemos que é uma questão de tempo
Até vermos a luz do dia
Mas já não aguento a dor da ânsia
Do abraço apertado que me espera
No calor do peito


Beija e deixa

Beija-me
Beija-me apaixonada e calorosamente
Beija-me como só tu sabes...
Deixa-me sentir o sabor a mel que em teus labios escorre
Deixa-me tocar o silencio das tuas palavras
Deixa-me guiar o meu amor ao teu coração
Deixa-me beijar-te enquanto a lua nos ilumina
Beija-me ao som das ondas e deixa-me amar-te


Paisagem

Contigo
como linha de horizonte
bem lá ao fundo,
fui voando,
conquistando o teu rosto
segundo a segundo…
No meu sonho,
as tuas cores
foram a melhor
paisagem do mundo…
Misturou-as o meu amor,
tornando esta paixão,
na mais bela tela,
que jamais poderei ver
da prisão desta janela…


Do nada

Chegaste sem eu dar por isso,
Por entre a confusão dos dias
Ocupaste um lugar sem dono.
De mansinho, aos poucos
Tomaste conta do espaço vazio
Que encerrado guardava
E a ninguém permitia lá chegar.
E tudo mudou,
Do nada surgiu algo,
Do algo surgiu aquilo,
E daquilo surgiu isto…
Estranho vicio que não me sai do corpo,
Insaciável desejo de te ter…
Hoje fazes parte de mim,
E por mais que quisesse,
E se o quisesse, não conseguiria,
Tirar-te, amputar-te da minha vida.
É inútil, vieste para ficar.
Eu quero que fiques.
Respiro-te o mesmo oxigénio,
Banho-me na tua luz,
Quero dividir contigo o universo,
O mundo, o meu mundo, o nosso mundo…
Quero ouvir-te dize-lo uma vez mais…
E outra, e outra, e outra
tantas vezes mais…
Sim tu sabes o quê, não revelo, tu sabes,
Tu sabes…