1.12.12

Diario da India III - Dia 28


Mais um dia que tudo para ser igual a outro dia qualquer. É feriado em Portugal, a última vez que goza o dia 1 de Dezembro como um feriado nacional, eu não o farei, deste lado não há feriado. Olho-me ao espelho ao acordar, o espelho que ocupa toda a parede devolve-me um reflexo preenchido de desalento, a água não o afasta e a barba que me arranha já nem me incomoda. Penso em cortá-la, mas não passa disso, um simples pensamento, não me apetece cortar a barba. A indefinição sobre a data do regresso, está a levar-me à loucura comprovada pela decisão de não cortar até à manhã do dia em que abandonarei a India. Com o grosso do trabalho praticamente finalizado e o com o sistema pronto para arrancar ou dar os primeiros passos experimentais, coordenam-se esforços na tentativa de o realizar. Cai a noite, e a alegria pelo primeiro teste é parada com uma bofetada pelo erro logo no primeiro passo… Falhou, há solução, mas ainda não foi encontrada. Horas depois continuamos no mesmo pé, decido ir jantar, pois aqui não faço nada, em pé, ao frio e à mercê dos mosquitos. Regresso do jantar em que a comida de sempre parece entalada algures acima do peito. Não contava que com esta falha. Levo no bolso meia dúzia de bolachas com fruta que viajaram comigo desde Portugal, pois adivinha-se uma noite longa, demasiado longa. Voltei apenas pela ajuda psicológica, nada mais posso fazer, mato por isso o tempo a ouvir musica no mp3, a ouvir indianos com perguntas que não me apetece responder e a tentar fazer um barco em papel. Tento, tento e tento, não sai nenhum barco, apenas um avião que não pode levar daqui. Apaziguo a dor no estômago, que não descortino se será fome ou cansaço, com umas dentadas nas bolachas. Distribuo pelos indianos que me olham como se eu possuísse algo de outro mundo. Provam, adoram e pedem mais. Lamento mas não tenho mais, acabaram por hoje. Pedem-me que altere a mensagem do sistema e substitua “Apresente cartão” por “Apresente Bolacha”. “Cookie decau” dizem eles. Fizeram-me sorrir, ajudaram-me a passar o tempo. Regresso sozinho a meio da noite para descansar, não foi encontrada solução ainda, começo a ficar preocupado, mas continuo confiante, bastante confiante…

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