6.4.12

Paixão em dias cinzentos


Cinzento o dia, cinzento a alma.
Sim sinto a tua falta,
Falta da voz que me acalma,
Falta do coração que me salta
Instintivamente por te ver o sorriso.
É nada mais do que preciso,
Um sorriso que me acalente
Que me obrigue a ficar contente,
Me faça fervilhar o sangue nas veias
E me prenda eternamente nas tuas teias.
Deixar-me-ei ser por ti devorado
Num tortuoso prazer tão real,
Nascido do gesto mais banal
Que me faz sentir amado, apaixonado…
Ah a paixão… aquele sentimento
Que não conseguimos desenhar,
Que nos faz voar ao sabor do vento
E que por vergonha teimámos em negar.
Que parvos nós somos,
Culpando os outros por sermos atingidos
Quando a jeito nos pomos
Das garras dos amores desmedidos.
Sejamos felizes, vivamos a paixão,
Deixemos de lado a vergonha
De exibir um sorriso onde antes existia uma fronha,
E de felicidade rebolemos no chão!
Sabe tão bem, quem não gosta afinal?
Quem nunca sonhou para sempre ser feliz?
Mostrem a vossa paixão, façam um sinal
E escutem, não a boca mas o que o coração diz…

2.4.12

Afinal o que é o futebol?


Afinal o futebol para vocês é o quê? Riem-se de mim se vos disser que futebol para mim é uma doença? Dói-me o peito de tanto sofrer na bancada, os dedos roídos sangram pedindo clemência, a concentração foge-me sempre que penso num símbolo, no símbolo do Sporting Clube de Braga, a voz, essa já cá não mora, mora a rouquidão no seu lugar, pois não me canso de cantar, não me canso de gritar e não me canso de sentir… Sentir o Sporting Clube de Braga percorrer-me as veias, sentir os punhos bem fechado e bem erguidos a cada golo, cantar em uníssono o que afinal os une, este amor, esta paixão, esta doença… Não se riem de mim? Então bem-vindos ao meu clube, pois sei que tal como eu se arrepiaram, tal como eu viram um qualquer golo do Sporting Clube de Braga enquanto liam, tal como eu leram com calma para melhor apreciarem o prazer que sentiram. Tal como eu são doentes, pertencem a uma legião de doentes, mas não somos doentes da bola, somos doentes pelo Sporting Clube de Braga, sonhamos com bandeiras, cânticos e palmas, orgulhámo-nos de cada página da história e recordamos com uma lágrima ao canto do olho e um arrepio por todo o corpo a entrada da nossa equipa, a equipa da nossa cidade, os Gverreiros do Minho no Aviva Stadium… Sofro por ti, passo a semana a pensar no próximo jogo e chegada à hora aperta-me o estômago, nasce aquele friozinho na barriga que me desatina o pensamento, que me mantem vivo, que me dá luz e que eu tanto adoro. Sou drogado e a minha droga é o Sporting Clube de Braga, não quero reabilitação, quero morrer assim, dependente, doente, mas feliz… Feliz por pertencer à melhor família do Mundo, onde dentro de um estádio se constroem laços que nem derrotas podem desfazer. À chuva, ao frio, percorremos quilómetros, fazemos sacrifícios, queimámos a pele debaixo de um sol tórrido, somos doidos, mas sorrimos! Cortam-nos as pernas, cortam-nos as tarjas, mas não nos cortam a voz e fazem-nos crescer a alma! Estamos cá para o que der e vier, estamos cá para gritar até sem ficarmos sem voz. Estamos cá para lutar sempre, um Gverreiro não desiste, não se esconde e as únicas lágrimas que verte são de orgulho e de alegria. Este é o meu futebol, que me tira o ar, me morde nos dedos, me faz abraçar toda a gente. É o lado bonito do futebol, o único lado que devia existir… Não te rias de mim, conta-me o que é o futebol para ti!

17.3.12

Mundo Complexo

Às vezes perdemo-nos na complexidade do que afinal é tão simples, tão básico, tão natural. O Mundo não foi desenhado por nós nem para nós, porquê tentar mudá-lo? Porque não nos afeiçoamos nós a todas as suas características? Se a primavera demora um ano a chegar porque queremos sempre apressar o desabrochar das flores? As coisas bonitas levam tempo a ser construídas, a crescer, a amadurecer. Por muita vontade que tenha em comer fruta, se ela estiver verde nunca me vai saber a fruta madura… Se o que é bom demora tempo espero que o dia de amanhã o seja, porque esta noite parece querer ficar para durar. A noite e a incessante, incansável e intermitente vontade de desistir, de descrer em grande parte do que começo. Não acredito nas coisas que faço, não tenho fé que valha a pena. Desisto por me sentir incapaz, desisto por não saber o que estou afinal a fazer, desisto porque uma nuvem negra insiste em tapar-me o sol. Porque não sou capaz de escrever quando preciso? Porque não o sei fazer quando é suposto? Quem me entala as palavras e a tranquilidade necessária para que a inspiração nasça dentro de mim e brote os amontoados de letras que esperam de mim? Toda esta complexidade é afinal muito simples: não posso escrever quando os outros querem, não sou talhado para isso, não o sei fazer. Acabaram-se as experiências, acabou-se a oportunidade, simplesmente não consigo, perdi-me na complexidade…

16.2.12

O piano e a lágrima que não cai



Embala-me o piano, em batidas leves que fortemente me tocam no coração dorido. Prendo a lágrima com algemas e deito fora a chave. Dói-me a garganta de um nó que não desata e aperto a língua contra o céu da boca, faço força, cerro os punhos, dói-me, não me queixo… É a única vez no dia em que o consigo fazer. As pernas geladas não me bloqueiam o pensamento, mas antes o fizessem. Para que buraco fundo vou eu outra vez? Gosto do embalo que me dá o piano, gosto das notas que me obrigam o corpo a reagir, mas não gosto da dor que hoje me trazem, não gosto da fúria e da raiva que tenho hoje comigo. A voz que acompanha o piano traz-me o desalento, a vontade de desistir, a vontade de ficar parado, olhar a lua, sentir o frio roer-me os ossos, perder-me na imaginação de não pensar em nada, voltar a ser criança, reaprender a rimar… Oiço até à exaustão. Não tenho vontade de fazer nada, por isso espero… Espero que alguém me encontre e sei que me vão encontrar. Não estou escondido, estou só quieto, mas continuo aqui, à espera, contando até três, porque quero ser feliz. É assim que ela canta, é assim que eu oiço, é assim que me dói e é assim que eu não choro.

15.2.12

Porque te amo


Apetece-me ser apaixonado
Tal como me apetece dizer que te amo
Sem qualquer acto profano
Que na mente humana possa ser criado.
Apetece-me beijar-te,
Sentir dos teus lábios o doce travo,
O palpitar forte que no peito te cravo
Com carinho, com ternura, como se fosse uma arte.
Apetece-me sentir o teu abraço
E toda a paz que ele me oferece,
A ternura do teu regaço,
Aquele calor que me aquece.
Apetece-me ficar a lado
Como se o mundo não existisse
Sentir-me desejado, sentir-me amado,
Como se a cada dia um novo amor se abrisse.
Apetece-me tudo isto e muito mais,
Ir contigo sempre mais além
Tenho força para derrubar vendavais,
Para enfrentar o futuro que aí vem.
Apetece-me… deixa-me que te diga,
Apetece-me as borboletas na barriga,
Apetece-me o ternurento beijo que me aquece…
E eu só faço… só faço aquilo que me apetece…

Alívio


- Não tinhas o direito de o fazer. Não sei quem és, mas não te queria dar o direito de o fazer. Fizeste-o sem olhar para trás, e se o fizeste é porque podias. É injusto e não aguento esconder mais. Não consigo esconder mais a raiva por trás do sorriso, o olhar perdido, o sentimento de vazio, o eco dos gritos abafados na garganta. Podias ter avisado, podias ter feito alguma coisa… Podias ter-lhe poupado a vida… Não te apeteceu, e em mim puseste a raiva, a vontade de cerrar os punhos e gritar até que as artérias se mostrem na garganta. Não penses que me ganhas, deste-me um valente soco no estômago, criaste um fosso entre mim e o mundo para eu cair lá, mas não o vais conseguir. Eu não quero e não deixo que isso aconteça, deste-me força para seguir, deste-me força para resistir… Não sei quem és, não sei onde estás, sei que desta vez vai doer e sei que não me vais ganhar! Estás a ouvir-me? Julgas que a felicidade é pura ilusão? Vou mostrar-te o contrário. EU VOU VENCER! EU SOU CAPAZ!

- CALA-TE!

- Não me metes medo com o estremecer do chão. Quem és tu? Mostra-te! Responde-me! Vais fugir-me outra vez? FALA COMIGO! COBARDE! NÃO ME VAIS DERROTAR, NÃO DEIXO QUE O FAÇAS!

8.2.12

Não sou doido por cachecois...

Não tenho de me justificar, nem tenho de dar contas a ninguém do que faço, mas sinto uma necessidade de explicar o porquê da colecção de cachecóis, o porquê de continuar a aumentar o número de exemplares. Confesso que tenho uma paixão por símbolos, por emblemas e sempre me fascinaram os cachecóis de futebol. Por mero acaso, nas deslocações do Sporting de Braga, comecei a trocar cachecóis do meu clube com os adeptos da equipa da casa, foi por aí que começou a colecção. Uma vez que não existe número de exemplares definidos, defini eu que coleccionaria os cachecóis das equipas adversárias do Sporting de Braga. Nas equipas portuguesas a vida foi-me sendo facilitada a cada jogo fora que o Sporting de Braga fazia, quanto às equipas estrangeiras, que em tempos ou mais recentemente o Sporting de Braga defronta nas competições europeias, é mais difícil adquirir os cachecóis dessas equipas. Assim sendo, facilita-me a vida a Internet. Coloquei os meus cachecóis na Internet, e visitei inúmeros sites de outros coleccionadores com cachecóis que me interessavam.  Não conhecia ninguém, mas a verdade é que fiz inúmeros amigos. E digo amigos porque o são na verdade. Troco cachecóis com os mais variados países da Europa. Da vizinha Espanha à França, da Itália a Inglaterra, da Grécia à Rússia, passando pela Holanda, Roménia, Alemanha e Israel, da Bulgária à Eslováquia e até da Eslovénia à Ucrânia. Espalhados pela Europa estão pessoas de diferentes clubes, diferentes etnias, diferentes credos, mas sempre com a mesma paixão por cachecóis, por futebol e pelo fair-play, pela amizade. É inexplicável o sentimento que tenho sabendo distribuo cachecóis do Braga (e não só) pela Europa fora, que recebo encomendas do outro lado da Europa, onde alguém como eu, tem prazer e gosto por aquilo que faz. Contudo, o contacto não se resume a troca de cachecóis. Oferecem-se presentes, trocam-se ideias, fala-se de jogos antigos, de jogos recentes, fala-se da família, do estado do país e do estado do Mundo.  É esta união, é este grupo, United Scarves Collectors, que me faz continuar a contactar com todos eles, a trocar cachecóis e não só. Sinto-me bem com isso, não sou doido por cachecóis, não os tenho num sitio onde ninguém pode tocar, qualquer um pode lá ir, tocar neles, abri-los, vê-los, não é algo que guardo com a vida. Conseguem imaginar como um simples pedaço de pano com um símbolo pode levar dois desconhecidos a encontrarem-se num qualquer país? É como ter um amigo para ir ver num país que visitamos pela primeira vez. Assim fez o Simon Moses, Israelita, aquando da sua visita a Portugal. Visitou Braga e o nosso estádio num desvio à sua passagem pelo Porto, porque lhe falei da cidade e do clube. É a amizade que nos une, os cachecóis são só um pretexto. Que o diga o Mark Nienhaus, adepto do Shalke 04, alemão e com dois filhos, o mais novo tem uma babete com o símbolo do Braga, porque o pai assim desejou. Não me julguem por ter muitos cachecóis, façam um esforço para perceber o gozo que isso me dá… Deixem de me chamar doido, de me chamar viciado, recuso sê-lo…

28.1.12

Sem sentido


Repetem-se as explosões de ideias.
Faminto de as concretizar
Sinto o apetite correr-me nas veias
Sinto o sangue a queimar
Como a lava laranja de um vulcão,
Espessa, quente, forte,
Devastando tudo sem perdão,
Espalhando o terror, semeando a morte.
A morte que em mim são das vontades,
Dos pensamentos, dos impulsos.
Afinal porque me invades,
Se depois me apertas os pulsos?
Deixa-me deitar água na fervura,
Limpar a mente insana,
Beber da água mais pura,
Sentir o odor que o Mundo emana.
Quero acalmar todas estas ganas,
Voltar apenas a escrever com sentido,
Ser o que afinal tu proclamas,
Ir em busca do sorriso fugido.
Que se me rebentem as artérias
De tão forte bater o coração,
Por se acabarem as misérias
Se crie em mim uma explosão.
Que se acabem as drogas que me alimentam,
Que me desvairam e me tiram o juízo,
São elas que estas ideias fomentam,
As que me correm no sangue sem aviso.
Apetece-me, correr de pernas atadas,
Gritar amordaçado,
Esbracejar de mãos amarradas
E se estou livre, apetece-me ficar parado…

27.1.12

Já não voas


De que te servem as asas, borboleta?
Não adianta que te mintam
E que bonitas são te digam,
Tal e qual uma colorida paleta
Se na verdade tu nem as mostras
E eu sei que tu disso bem gostas.
Mas se nem as usas, corta-as,
Se nem voas, larga-as,
Se não podes espalhar magia, queima-as.
Deixa que o fogo os sonhos te apague
E que o futuro a dor da perda te afague.
Ainda vives de ilusões porquê?
Não as abres, estão atadas, ninguém as vê!
Terás ainda o jeito à tua mercê?
Não mereces… desiste dessa ideia parva!
Sem asas não passas uma simples e verde larva…

4.1.12

Fantasma



Às vezes sinto-me um fantasma,
Um fantasma de mim.
Hoje sinto-me assim,
Hoje sinto-me um fantasma.
Não engana a cara pálida,
O ar desleixado
De quem não se importa com o legado,
Nem se a crítica é válida.
Invadiu-me o desinteresse,
E sem que nada para isso eu fizesse,
Perdi o estado de harmonia
Como um rádio perde sintonia,
Onde apenas toca agora a maldita estática
Em estalidos que nada mais são na prática
Que meras vontades de ser e de agir,
Vontades de saber o que fazer a seguir.
Diz-me para onde vais
Deixa-me segurar-te a mão.
Prometo-te que não cais
E que não faço promessas em vão.
Diz-me o que sentes mais falta,
O que posso fazer por ti
Não quero mais ser fantasma,
Ajuda-me, ajuda-te, tira-me daqui…