24.9.10

Diário da Índia - Dia 0

O dia 0. Chamemos-lhe assim por ter sido o dia da partida para a aventura, em busca do desconhecido, numa longa viagem até terras por mim nunca viajadas. Faltavam ainda algumas horas para nascer o sol e já eu me deslocava em direcção ao aeroporto Sá Carneiro, a fim de levantar voo com direcção a Frankfurt onde iria fazer escala, antes da chegada ao meu destino final. Uma viagem rápida com pouco mais de 2 horas que serviu acima de tudo para enfrentar o “touro” e pegar nele pelos cornos, assim que as rodas do avião recolheram ultrapassei o ponto sem retorno, enchi-me de coragem e lá fui vencendo aos poucos aquele medo inicial e o receio do que iria encontrar na Ásia. Chegado à Alemanha, deparei-me com o povo frio, nada hospitaleiro e que acha que todos devem nascer ensinados. Mas não foi grande a espera e um par de horas depois estava a entrar na porta 44 em direcção ao voo Lh760 com o destino de Delhi, e se 7h20 dentro de um avião é dose, fazê-las ao lado de um Indiano que não tomava banho à 3 dias e pior um bocadinho. Após o desgaste físico e mental de uma viagem tão grande, eis que as rodas tocam o chão. Era o primeiro impacto com um mundo novo, um novo país, uma nova cultura, a minha primeira vez na Ásia! As diferenças são enormes e notórias poucos segundo depois de deixar o avião para trás. A pele morena, os polícias armados com metralhadoras e todos com uma cadeira para se sentarem, o chão alcatifado e a má disposição de quem é acordado às 2h30 da manhã para pôr carimbos em passaportes foi o que encontrei no início. Apesar de tudo este era um espaço isolado do exterior. Sendo um local de chegada e partida de estrangeiros, a cultura e os usos e costumes são um pouco atenuados. Depois de ser recebido com a oferta de um ramo de flores por um gigante de turbante na cabeça, chega a hora de sair para o mundo real. Confesso que me assustei, levei uma chapada de ar quente e húmido como nunca tinha levado, 34ºC às 3h da manhã é obra, a sensação de estar a abafar ao ar livre, o ar que me entrava nas narinas parecia não ser suficiente para alimentar todo o meu corpo e o suor parecia orvalho que nascia na minha pele, tudo isto me fez ignorar por completo o que me rodeava, as diferentes vestimentas, o olhar de desconfiado para quem é diferente de uns que contrastava com o tratamento de reis dado pelos outros. Vi os carros que até então existiam para mim apenas em filmes, as amolgadelas que aqui são normais, a falta de leis trânsito, os semáforos que servem afinal para enfeitar as estradas, a condução acompanhada de buzinadelas a torto e a direito, só porque sim, ou às vezes “porque não?” e lá vai mais uma buzinadela. A saída do aeroporto é feita através de uma espécie de fronteira controlada pelo exército, onde o carro é revistado de cima a baixo e onde se procuram por bombas instaladas no carro! A viagem feita até ao hotel é bem ao estilo da condução indiana numa cidade onde nem todos são capazes de conduzir. As ultrapassagens, as buzinadelas, as travagens bruscas, tudo faz parte do dia-a-dia deles, até mesmo a buzinadela ao segurança do hotel para acordar do seu sono laboral e abrir o portão da entrada que na verdade ficava numa estrada que indicava em bom inglês “out”. Chegado ao hotel, onde me voltei a sentir um rei, fui recebido com um sumo delicioso, e depois de cerca de uma hora de conversa onde pusemos alguns pontos nos seus devidos sítios com o senhor do turbante, retornamos ao quarto onde tive oportunidade de me conectar à Internet pela primeira vez e dizer a algumas pessoas que cheguei inteiro. No fim era hora de dormir, porque já só faltavam 3 horas para me levantar novamente.

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