25.9.10

Diário da Índia - Dia 2

O dia 2 é o dia que nos vai levar ao local onde vamos ficar nos próximos tempos instalados, por isso metemos cedo os pés ao caminho porque a viagem de 330km demora cerca de 3 horas. Tive por volta das 8h da manhã o último tratamento de rei por parte do pessoal do hotel e lá nos metemos na selva. Um autentico safari pelas montanhas, com estradas nem sempre pavimentadas, camiões parados em cima de curvas sem qualquer tipo de visibilidade nem sinalização. Por falar em sinalização, os camiões aqui são todos da mesma marca, a nacional Tata. Para os distinguirem os camionistas utilizam o chamado no ocidente de Tunning, sendo que por vezes chego a duvidar se certos apetrechos são mesmo assim ou se estarão partidos, quanto ao triangulo de sinalização é usado somente para enfeitar a frente do camião, e na traseira todos têm pintado “please horn”, coisa que eles se recusam a fazer… se estiverem doentes é claro. Por entre uma mina de diamantes e uma reserva de tigres chamada “Pana”, encontrei a miséria. Gente a viver sem qualquer tipo de condições, sem água potável, sem luz, sem higiene… e comecei a ficar assustado, pois quanto mais me aproximava do local onde vou ficar a trabalhar mais gente via nas mesmas condições. Foi talvez essa a razão de eu ter adormecido uma boa parte da viagem, e quando acordei estava já num cruzamento com um Buda no meio. Era o início do parque de estacionamento de camiões da fábrica, julguei estar próximo, puro engano, estou ainda a cerca de 4 km da fábrica e já está tudo entupido de camiões por aqui. São cerca de 800 os que esperam pela sua vez de entrar na fábrica, e chegam a esperar aqui no parque cerca de 2 a 3 dias. Passado o parque cheio de buzinadelas, travagens bruscas e buracos na estrada eis que chegámos às imediações da fábrica onde vivem numa autêntica miséria os que se tentam safar à custa da fábrica, vivendo do lado de fora dos muros da fábrica, vendem de tudo e mais alguma coisa que possa servir aos camionistas e não só. À entrada dos portões da fábrica tenho um segurança que me faz continência e me deixa sem reacção. Sou levado por entre mais 4 portões e outros tantos seguranças até à residência de hóspedes como eles aqui lhe chamam. Fico a saber que o meu quarto será o número 3. Tenho novamente quem me leve a bagagem até ao quarto e quando abro a porta percebo que isto não se vai comparar em nada com os as últimas duas estadias. A cama com um duro colchão, a cobertura que não passa de um simples edredão, a humidade no tecto, a casa de banho com um chuveiro que se limita a despejar água para o chão, as paredes sarapintadas do bolor e o cheiro a mofo, fazem-me ter a certeza que as próximas semanas serão uma grande aventura. Enquanto espero pelas reuniões para conhecer os próximos parceiros de trabalho tento-me conectar à Internet e descubro que não tenho nem uma ficha de rede, nem tão pouco wireless, deixa-me triste, e faz-me lembrar que vai custar ainda mais suportar as saudades e a ausência de notícias… Depois das reuniões da praxe, faço uma visita guiada pela fábrica e pelos locais onde vou ter de intervir e percebo então no mundo onde me tinha metido. A fábrica tem talvez o tamanho da cidade de Braga e à volta só conseguimos ver poeira, sujidade, e falta de condições de trabalho. Vem depois a visita à povoação que fica dentro da fábrica e onde mora a maioria dos trabalhadores. No centro existe um local de oração. Deixo as sapatilhas entregues a um milhar de insectos e subo descalço as escadas até ao templo. Lá dentro esta a pessoa que zela pelo espaço, que me pede para me ajoelhar, deita-me uma espécie de água nas mãos e me diz para passar pela cabeça, pede-me depois que puxe o meu cabelo junto à testa para trás e crava-me uma pinta vermelha entre as duas sobrancelhas, no fim dá-me “docinhos” para comer. Regresso então à residência para jantar, e percebo que se preocuparam em fazer-me comida bem ao estilo ocidental, tirando a parte em que toda a comida tem levar pimento. Começo a ficar com algum receio da residência. Os trabalhadores aqui parecem escravos, andam todos vestidos de igual, com umas largas calças cinzentas e com uma camisola de manga comprida também ela muito larga, e tratam-me como seu eu fosse uma espécie de rei, com muita cerimonia e juntado as mão no peito fazem-me uma vénia, sinto-me estranho e perdido neste mundo… Regresso então ao meu quarto, parecido com uma cela, e vou tomar um banho que bem estava a precisar, mas percebo que não importa para que lado vire o manipulo, a água tem sempre a mesma temperatura, nem quente, nem fria, morna! Mais tarde explicaram-me que aqui não se utilizam esquentadores mas sim “arrefecedores” de água. No fim de tomar o meu banho morno, e enquanto me limpava, vejo no chão um insecto parecido com uma pulga mas que não ferra nem salta e decido enviá-lo pelo ralo abaixo, mas percebo então que ele não está só, e existem cerca de 10 outros iguais a ele, desisti de os tentar retirar do meu quarto e fui dormir na esperança de estar a dormir sozinho nesta cama, esperando que os insectos se passeiem apenas pelo chão!

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