2.9.10

Costumes

Costumava escrever sentimentos
Onde marcava o meu cunho.
Quentes, de amor sedentos,
Como flores numa tarde de Junho.
Transpirava aquela ausência
Que me desidratava a alma.
Um rosto sem aparência,
Uma mão sem palma.
Não via a cara para onde olhava
Apenas uns olhos desconhecidos,
Não existia a mão que segurava
Naqueles sonhos erguidos.
Costumava dormir à noite
E sonhar poemas que escrevia,
Acordados à lei do açoite
Pelo barulho que se ouvia.
Bandos de palavras soltas ao vento
Que afugentaram borboletas
E tornaram-me o mundo mais cinzento,
Descoloriram as imagens agora incompletas.
Costumava lamentar-me de tudo
O que de azar me cabia sorte.
Mas calei o grito, tornei-o mudo,
O espasmo vocal que pedia morte
Deste simples eu que apenas exprime
Em palavras nem sempre certas
O que o medo não mais reprime,
Tenho agora portas abertas
A uma nova maneira de ser,
Em vez de sonhar, apenas durmo,
E se perguntam que costumo fazer?
Respondo que agora, já não costumo.

1 comentário:

Vlinder disse...

Só espantarás quem não quiseres atrair.